2012 foi um
ano generoso para o teatro na área editorial com a ampliação de publicações,
não só em coletâneas de textos de novos autores, como na área de biografias e
no setor acadêmico. Mesmo que numericamente não pudesse ser considerado
expressivo, em termos de qualidade e de registro, vários títulos se destacaram.
A Editora
Cobogó lançou em seis volumes textos da geração carioca de dramaturgos já
encenados e que apontam para perspectivas renovadas da escrita cênica. Das dúvidas inventivas de
Felipe Rocha em Ninguém Falou que Seria
Fácil ao amadurecimento de Pedro Brício de seus meios expressivos em Trabalhos de Amores Quase Perdidos, e da
boa surpresa de Julia Spadaccini em Os
Estonianos à inquietação de Rodrigo Nogueira em Ponto de Fuga, além da consolidação dos universos de Daniela
Pereira de Carvalho, em Nem um Dia se
Passa Sem Notícias Suas e de Jô Bilac em Alguém Acaba de Morrer Lá Fora, esse conjunto de peças é o primeiro
de sequência prometida pela editora. Uma auspiciosa estreia. O recém criado
selo editorial QdC lançou outro texto de Pedro Brício, Breu, o mais sólido e maduro deste autor de 40 anos e um dos mais
destacados de sua geração.
A Fundação
Cultural do Estado da Bahia editou Leituras Possíveis nas Frestas do Cotidiano, publicação que
reúne as críticas premiadas no Concurso
Estadual de Estímulo a Crítica de Artes. O livro com organização
de Milena Britto faz parte do Programa de Incentivo à Crítica de Artes que
estimula a produção crítica no Estado da Bahia. No setor das artes cênicas, o
trabalho selecionou interessantes análises sobre a temporada teatral de
Salvador em 2011, com nomes que procuram estabelecer pensamento crítico que se
situa entre a resenha jornalística e a acadêmica. Um estímulo inicial.
O crítico
paulista Jefferson Del Rios, através das Edições Sesc São Paulo, condensou em O Teatro de Victor Garcia – A Vida Sempre em
Jogo as encenações e a atribulada biografia do diretor argentino
responsável por impactantes espetáculos como
Cemitério de Automóveis e O Balcão. Del Rios inventariou vida e
obra de Garcia, desde os anos formadores na Argentina, sua passagem fulgurante
pelo Brasil até os seus últimos anos na França. Com entrevistas de contemporâneos,
amigos e raros estudiosos (era um personagem esquivo e um director incatalogável),
o livro busca captar temperamento cênico genial em seus vários saltos improváveis
no ar de nuvens intangíveis. Como o definiu, brilhatemente Michelle Kosowski,
diretora artística em 1970 do Festival Mundial de Teatro de Nancy, que foi
entrevistada para o livro, “ sempre o vi como uma espécie de nômade,
transportado por um corpo barroco, presa de repentes, com uma maneira selvagem
de viver seus arrebatamentos.”
Muito da acuidade, rigor intelectual, vocação
para o didático e integridade profissional já podem ser captadas no vigor da
juventude e no início da carreira irrepreensível do crítico Sábato Magaldi em Sábato Magaldi e as Heresias do Teatro da
Editora Perspectiva. Tese de doutoramento de Maria de Fátima da Silva Assunção,
o livro abrange o período de 1950 a 1952, quando Sábato, vindo de Belo
Horizonte, assumiu a coluna teatral do jornal Diário Carioca. O então acanhado
e extremamente viciado panorama
teatral do Rio, é criticado de um
ponto de vista, não de um doutrinador erudito, mas de alguém que pretendia “
colaborar com esforço honesto e apaixonado para a formação do teatro
brasileiro.” Foi o que Sábato fez nas décadas seguintes, não somente como
crítico, mas como professor, administrador teatral e político da cultura. Na
seleção de críticas, já emerge o cuidado no trato da matéria teatral, por maior
que fosse a precariedade do que se oferecia à análise. Das atrizes populares,
como Alda Garrido e Dercy Gonçalves, do Teatro de Revista ao esforço de atores
como Jaime Costa em apresentar repertório mais consistente, da antevisão das
extraordinárias qualidades dramatúrgicas de Nelson Rodrigues à perfeita
avaliação de um autor como Silveira Sampaio, a reunião de críticas selecionadas
por Maria de Fátima confirma o notório saber de um crítico de rara dignidade e
coerência no nosso meio cultural.
Ainda que editado pela editora Aeroplano em 2004,
mas ainda disponível nas livrarias, Asdrúbal
Trouxe o Trombone – Memórias de uma Trupe Solitária de Comediantes que Abalou
os Anos 70 faz síntese oportuna e graficamente provocante dos quase 20 anos
de existência do grupo. Com assinatura de Heloisa Buarque de Holanda, o livro
conta, do surgimento ao ocaso, a
vibrante trajetória dessa explosão juvenil carioca que, em plena década
de 70, e contra todos os cânones cênicos e das condições políticas do período,
exibia as suas experiências de abandonar a adolescência e descobrir o seu lugar
no palco e na vida. Com reprodução de textos datilografados, programas dos espetáculos,
entrevistas com o elenco e desenhos de cena, o trombone do Asdrúbal repercute
no papel com intensidade próxima àquela como soava no palco.
macksenr@gmail.com