quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Temporada 2014

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (26/2/2014)

Crítica/ 12 Homens e uma Sentença
Julgamento das hipóteses possíveis sobre dúvidas razoáveis

A origem é um roteiro escrito na década de 50 para teleteatro da CBS americana, e que foi levado em 1957 para o cinema com direção de Sidney Lumet. O autor, Reginald Rose, ficou esquecido, mas esta obra, perfeita expressão do realismo, comunicativa e repleta de ganchos dramáticos, sobrevive ao desaparecimento de seu nome. A construção da narrativa obedece a regras definidas de  playwriting”, às quais se acrescentam segurança e domínio de diálogos ajustados às características bem definidas dos personagens. A trama reúne grupo de jurados para decidir absolver ou executar réu, acusado de assassinar o pai. A decisão deve ser por unanimidade, e 11 dos jurados decidem condená-lo, e apenas um questiona a decisão da maioria. O texto acompanha os diversos argumentos que essa dissonante voz lança para introduzir a desconfiança no apressado veredicto, confrontando suas ponderações com a opinião conclusiva. Desenhando as características de cada membro do corpo de jurados e costurando “dúvidas razoáveis” para confrontar a certeza com o contraditório, o autor expõe hipóteses possíveis para desarmar a sentença. Alcança-se a unanimidade por acidentado percurso, em que as emoções permeiam a lógica incerta da razão. Eduardo Tolentino de Araújo orquestra com elenco ajustado aos contornos realistas do texto, os passos exatos que o gênero solicita. Tolentino cria movimentos do elenco em torno da mesa do debate – o cenário aparenta despojamento algo empobrecedor - ao compasso das tensões provocadas pelo crescente desmonte de verdades absolutas. O diretor é hábil na dosagem dos climas dramáticos, e neste sentido é fiel à trama “policial” e aos conflitos pessoais dos jurados durante o encontro coletivo.  O elenco para projetar esse quadro detalhadamente  verídico, precisa estar afiado e compor interpretações individuais que colaborem para uma perspectiva de atuação em conjunto. Com participações bem integradas a esse espírito, Edmilson Barros, Xando Graça, Camilo Bevilacqua, Genésio de Barros, Alexandre Mello, Babu Santana, Marcelo Escorel, Mario José Paz, Gustavo Rodrigues e Francisco Paz, cumprem as suas disciplinadas e regradamente marcadas intervenções. Henrique César, ressaltando a enganosa fragilidade do idoso, Henri Pagnoncelli, expondo o conservadorismo agressivo do comerciante, e Norival Rizzo, construindo a frustração paterna, são os destaques da montagem que captura, de maneira certeira, a atenção da plateia.   

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Prêmios

 Finalistas do 8º Prêmio APTR
Cine Monstro: indicações de direção e espetáculo
 A Associação Carioca de Produtores Teatrais divulga os indicados ao 8º Prêmio APTR de Teatro da temporada 2013, que terá os vencedores conhecidos em 8 de abril, no Imperator.

Autor:  Diogo Liberano (Maravilhoso) 
            Jô Bilac (Fluxorama)
            Júlia Spadaccini (Um Dia Qualquer)
                 Jô Bilac (Conselho de Classe)

Direção:  Aderbal Freire Filho ( Incêndios)
                    Bel Garcia e Susana Ribeiro (Conselho de Classe)
                    Daniel Herz (A Importância de Ser Perfeito)
                    Enrique Diaz (Cine_Monstro)

Cenografia: Analu Prestes (Emily)
                          Aurora dos Campos (Conselho de Classe)
                         Bia Junqueira (As Mulheres de Grey Gardens)
                         Fernando Mello da Costa (Incêndios)

Figurino: Antonio Guedes (O Médico e o Monstro)
                    Beth Filipecki (À Beira do Abismo Me Cresceram Asas)
                    Rita Murtinho (Emily)
                    Tanara Schonardie (A Importância de Ser Perfeito)

Iluminação/ Luiz Paulo Neném (Incêndios)
                          Maneco Quinderé (Elis – A Musical)
                          Maneco Quinderé (Jim)
                          Tomás Ribas (Moi Lui)

Ator Protagonista: Antonio Fagundes (Vermelho)
                             César Augusto (Conselho de Classe)
                             Emílio Dantas (Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz)
                             Marcelo Olinto (Conselho de Classe)
                             Marcelo Serrado (Rain Man)

Atriz Protagonista: Bárbara Paz (Vênus em Visom)
                              Camila Amado (O Lugar Escuro)
                              Laila Garin (Elis – A Musical)
                              Marieta Severo (Incêndios)

Ator Coadjuvante: André Loddi (Como Vencer na Vida Sem Fazer Força)
                              George Sauma (A Importância de Ser Perfeito)
                              Isaac Bernat (Incêndios)
                              Marcio Vito (Incêndios)

Atriz Coadjuvante: Adriana Garambone (Como Vencer na Vida Sem Fazer Força)
                                Clarisse Derzié Luz (À Beira do Abismo Me Cresceram Asas)
                                Kelzi Ecard (Incêndios)
                                Sueli Franco (As Mulheres de Grey Gardens)

Espetáculo: Cine-Monstro
                   Conselho de Classe
                   Incêndios
                  Quem Tem Medo de Virginia Woolf?

Música: Edu Lobo (Deixa Que Eu Te Ame
                  Paulo Nogueira ( Como Vencer na Vida Sem Fazer Força)
                  Ricco Vianna (Jim
                  Tato Taborda (Incêndios)

Categoria Especial: Camila Amado pelos 50 anos de carreira
                                Casa da Gávea pelos 20 anos do Ciclo de Leituras Dramatizadas
                                 José Dias pela publicação do livro sobre teatros do Rio
                                 Leandro Soares pela tradução e adaptação do texto A Importância de Ser Perfeito
 
Produção: Conselho de Classe
                 Elis – A Musical 
                 Incêndios

                       Nem Mesmo Todo Oceano

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Temporada 2014


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (19/2/2014)

Crítica/ Educando Rita
Pigmaleão revisitado
O texto do inglês Willy Russel, escrito há mais de 30 anos e confessadamente baseado em “Pigmaleão”, de Bernard Shaw, demonstra que a passagem do tempo foi pouco condescedente com essa atualização do original inspirador. Cabeleireira, frustrada com a vida medíocre que gasta nas banalidades das conversas de salão e na convivência com o namorado, decide ter aulas com professor de literatura que compensa no álcool a frustração de se saber um poeta de segunda. Da convivência, emerge uma aluna que reproduz a impostação da vida acadêmica, que o professor despreza, numa caminhada em que um absorve as características do outro. É o pretexto para que o autor faça extensas digressões sobre diferenças culturais e choque entre razão e emoção, acondicionadas em diálogos que reforçam, ingenuamente, a progressiva troca de comportamento. Na longa e reiterativa conversa na qual se intercambiam as diferenças, as atitudes de ambos são pouco verossímeis para trama de contornos realistas. A direção de Claudio Mendes também não contribui para dar maior veracidade às transformações de Rita e os seus efeitos sobre a crise existencial de Frank. A mesma linearidade com que Russel trata os estágios educativos, Mendes reproduz na encenação, registrando a evolução da figura feminina com intensa troca de roupas e a fraqueza masculina com chorosas lamúrias. A montagem, com cenário de gabinete de Arlete Rua, Carlos Alberto Nunes e Paula Cruz, que também assinam em conjunto o figurino, e eficiente iluminação de Paulo César Medeiros, se mantém no mesmo plano morno durante os seus 100 minutos, passando ao largo da construção, ainda que rarefeita do texto, das tensões que dominam, ora com algum humor, ora com complascência, o relacionamento do casal de circunstância. Marianna Mac Niven - além de interpretar Rita é responsável pela tradução - desenvolve atuação retilínea, com poucas variações de tonalidade na falante estudante, tornando-a impermeável aos desejos de conhecimento que modificam a personagem. A atriz cristaliza Rita num único traço, da primeira a útima cena. Claudio Mendes segue a companheira de cena na mesma linha, ainda que procure deixar menos opaco o mestre desta aula de revisão de matéria requentada.                              Bottom of Form

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Temporada 2014


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (12/2/2014)

Crítica / O Duelo
Tchekhov carnavalizado
Nesta adaptação da novela de Anton Tchekhov deixa-se evidente o processo dissociativo entre o universo do autor e o experimento narrativo, que ritualiza o intimismo com ruidosas interseções cênicas. Na região litorânea do Cáucaso, na aridez de um verão, os personagens vivem a insatisfação de existências medíocres, sentimentos vagos e melancólicos desejos de evasão com os quais duelam inutilmente. Seus atos são incompletos, os desejos inatingíveis e frustrações não os deixam sair do lugar, revelando uma paisagem humana de contornos provincianos e emoções arrebatadas. A diretora Georgette Fadel se apropria do texto como cenário para construir conexões, ao dizer: “meu trabalho não seria criar linguagens, mas pontes”. Sob esta ótica, “O duelo” mantém uma fidelidade intencionalmente “torta” ao literário, ao mesmo tempo em que desfoca de forma épica o detalhe em favor de criar coletivização de sentidos. O plano geral prevalece nas 17 cenas do espetáculo, ainda que cada uma tenha recebido tratamento que se assemelha a multiplicidade de improvisações, aparentemente encontradas  no trabalho colaborativo dos ensaios. A busca de espetaculosidade nos objetos cenográficos, como na bolha inflável e no agitado mar de plástico, contrasta com os diálogos que falam de pequenas gestos. A “carnavalização” da narrativa, mais palpável nos figurinos e na piada da cobra na cena do correio elegante, arrefece a intensidade dramática no limite da sua subversão. Os atores perseguem interpretações de ampla extensão, como se estivessem em permanente estado de exaltação, em contrapartida às verdadeiras pulsões afetivas dos personagens. O arco de contradições entre texto e cena, que a direção acentua propositalmente, é o espaço expressivo da montagem que, em 3h20 de duração, lança contrastantes formas fabulares, que se impõem  absolutas no exercício de mover peças de um jogo em que se pretende ultrapassar convenções. A Tchehkov resta um lugar discreto num segundo plano.