segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Temporada 2014


 Crítica do Segundo Caderno de O Globo (9/2/2014)

Crítica/ Edypop
Desarticulados universos paralelos
A proposta dessa celebração pop de mito grego, psicanálise, ídolo musical e recentes manifestações de rua é estabelecer conexões narrativas numa convergência de tempos para atualizar simbologias da cultura contemporânea. O autor Pedro Kosovski procura, em interpretações de imaginários, sentidos que preencham distâncias milenares e aproximem clamores. Parte da decisão de Laio em sacrificar Édipo, em que Freud surge para ser confrontado com suas teorias, John Lennon ser retratado por suas letras, e gritos de “black blocs” a reverberar insatisfações, para chegar a dramaturgia híbrida na qual não se consolidam as intenções e se delineiam percursos. Cada elemento da montagem é resultante da articulação de códigos cênicos e paralelismos dramáticos que ambicionam gama expressiva maior do que os meios para atingi-la. A mandala astral e o imenso olho do cenário de Fernando Mello da Costa estão carregados de significações – inexorável destino trágico? -, ainda que o valor simbólico da imagem se dilua no decorrer da encenação. A trilha sonora com canções de John Lennon e inéditas de Kosovski e do diretor musical Felipe Torino é o maior destaque, não só pelo ótima banda, que tem a participação das cantoras-instrumentistas-atrizes, Gabriela Geluda, Paula Otero e Isadora Medella, como por adensar o clima de show. A poderosa comunicabilidade que a sonoridade projeta, transfere à música o que a palavra sobrecarregada de representações está longe de alcançar. As quebras que o texto impõe com a excessiva carga de referências, citações e metáforas provocam indistinta percepção da multiplicidade dos desvios dessa colagem dramatúrgica, que tem seu eixo em fundamentos teóricos na escrita e dissociação cênica no palco. O elenco é conduzido como peças soltas desse painel grafitado da cultura pop, em que os atores parecem simples figuras ilustrativas. João Velho se contorce como um Édipo fetal. Entre Letícia Spiller, uma Jocasta de voz e presença veladas, Jandir Ferrari, um Clemente Greenberg improvável, Laura Araújo, uma Ana O. à  procura da histeria, Remo Trajano, um Laio que canta melhor do que atua, Jorge Caetano, um Freud de quadrinhos, é quem melhor sabe brincar com as desarticuladas ligações de universos artificialmente paralelo.