Crítica do Segundo Caderno de O Globo (9/2/2014)
Crítica/ Edypop
Desarticulados universos paralelos |
A proposta dessa celebração pop de mito grego,
psicanálise, ídolo musical e recentes manifestações de rua é estabelecer conexões
narrativas numa convergência de tempos para atualizar simbologias da cultura
contemporânea. O autor Pedro Kosovski procura, em interpretações de imaginários,
sentidos que preencham distâncias milenares e aproximem clamores. Parte da decisão
de Laio em sacrificar Édipo, em que Freud surge para ser confrontado com suas
teorias, John Lennon ser retratado por suas letras, e gritos
de “black blocs” a reverberar insatisfações, para chegar a dramaturgia híbrida na
qual não se consolidam as intenções e se delineiam percursos. Cada elemento da
montagem é resultante da articulação de códigos cênicos e paralelismos
dramáticos que ambicionam gama expressiva maior do que os meios para atingi-la.
A mandala astral e o imenso olho do cenário de Fernando Mello da Costa estão
carregados de significações – inexorável destino trágico? -, ainda que o valor
simbólico da imagem se dilua no decorrer da encenação. A trilha sonora com
canções de John Lennon e inéditas de Kosovski e do diretor musical Felipe
Torino é o maior destaque, não só pelo ótima banda, que tem a participação das
cantoras-instrumentistas-atrizes, Gabriela Geluda, Paula Otero e Isadora
Medella, como por adensar o clima de show. A poderosa comunicabilidade que a sonoridade
projeta, transfere à música o que a palavra sobrecarregada de representações está
longe de alcançar. As quebras que o texto impõe com a excessiva carga de
referências, citações e metáforas provocam indistinta percepção da multiplicidade
dos desvios dessa colagem dramatúrgica, que tem seu eixo em fundamentos
teóricos na escrita e dissociação cênica no palco. O elenco é conduzido como peças
soltas desse painel grafitado da cultura pop, em que os atores parecem simples figuras
ilustrativas. João Velho se contorce como um Édipo fetal. Entre Letícia
Spiller, uma Jocasta de voz e presença veladas, Jandir Ferrari, um Clemente
Greenberg improvável, Laura Araújo, uma Ana O. à procura da histeria, Remo Trajano, um Laio que
canta melhor do que atua, Jorge Caetano, um Freud de quadrinhos, é quem melhor sabe
brincar com as desarticuladas ligações de universos artificialmente paralelo.