Crítica do Segundo Caderno de O Globo (26/2/2014)
Crítica/ 12 Homens e uma Sentença
A origem é um
roteiro escrito na década de 50 para teleteatro da CBS americana, e que foi
levado em 1957 para o cinema com direção de Sidney Lumet. O autor, Reginald
Rose, ficou esquecido, mas esta obra, perfeita expressão do realismo,
comunicativa e repleta de ganchos dramáticos, sobrevive ao desaparecimento de seu nome. A construção da
narrativa obedece a regras definidas de “playwriting”,
às quais se acrescentam segurança e domínio de diálogos ajustados às
características bem definidas dos personagens. A trama reúne grupo de jurados
para decidir absolver ou executar réu, acusado de assassinar o pai. A decisão
deve ser por unanimidade, e 11 dos jurados decidem condená-lo, e apenas um
questiona a decisão da maioria. O texto acompanha os diversos argumentos que
essa dissonante voz lança para introduzir a desconfiança no apressado
veredicto, confrontando suas ponderações
com a opinião conclusiva. Desenhando as características de cada membro
do corpo de jurados e costurando “dúvidas razoáveis” para confrontar a certeza
com o contraditório, o autor expõe hipóteses possíveis para desarmar a sentença.
Alcança-se a unanimidade por acidentado percurso, em que as emoções permeiam a
lógica incerta da razão. Eduardo Tolentino de Araújo orquestra com elenco
ajustado aos contornos realistas do texto, os passos exatos que o gênero
solicita. Tolentino cria movimentos do elenco em torno da mesa do debate – o
cenário aparenta despojamento algo empobrecedor - ao compasso das tensões
provocadas pelo crescente desmonte de verdades absolutas. O diretor é hábil na
dosagem dos climas dramáticos, e neste sentido é fiel à trama “policial” e aos
conflitos pessoais dos jurados durante o encontro coletivo. O elenco para projetar esse quadro
detalhadamente verídico, precisa estar
afiado e compor interpretações individuais que colaborem para uma perspectiva de
atuação em conjunto. Com participações bem integradas a esse espírito, Edmilson
Barros, Xando Graça, Camilo Bevilacqua, Genésio de Barros, Alexandre Mello,
Babu Santana, Marcelo Escorel, Mario José Paz, Gustavo Rodrigues e Francisco
Paz, cumprem as suas disciplinadas e regradamente marcadas intervenções. Henrique
César, ressaltando a enganosa fragilidade do idoso, Henri Pagnoncelli, expondo
o conservadorismo agressivo do comerciante, e Norival Rizzo, construindo a
frustração paterna, são os destaques da montagem que captura, de maneira
certeira, a atenção da plateia.