Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (30/4/2017)
Crítica/ “Isadora”
Representação sem temperamento de uma vida dançada |
Como o título anuncia, é da bailarina Isadora Duncan que trata a dramaturgia da montagem de Elias Andreato. A dançarina que buscou dar ao movimento significados que se confundiram com a sua vida, se apresenta a partir da sua biografia como uma mulher para qual a criação artística está ligada à natureza da própria existência. É o que o espetáculo procura mostrar em que os fatos se misturam aos gestos, estabelecendo diálogo entre palavra, dança e música. A conversa entre Isadora e o suposto editor de sua biografia se desenrola em paralelo com a ilustração dançada das suas impressões sobre arte e ilustrada com a passagem de tempo. Essa mão dupla entre fala e coreografia funciona sem variações, uma em sequência a outra, sempre na mesma velocidade de cruzeiro, desidratada de emoção. Voz e imagem criam paralelismo ocasional, muitas vezes se perdendo em falsa tensão e balé reiterativo. A morte de Isadora, presa à echarpe, surge em cena como detalhe, que nem mesmo o panejamento do figurino e as citações ao seu código de dança conseguem sugerir melhor. O diretor Elias Andreato manteve o dualismo cênico com linearidade narrativa, incapaz de quebrar a trama pendular e alcançar qualquer ponto de atração para o espectador. A montagem se desenrola em uma mesma e previsível plataforma sequencial que esteriliza, sem unificar, os dois planos. A cenografia de Marco Lima desloca para a lateral do palco o encontro da bailarina e o editor, abrindo a cena para um espaço de dança e área para precárias projeções. O figurino de Marichilene Artisevskis valoriza os tecidos esvoaçantes como elemento integrante da arte de Isadora. Patrícia Gaspar, mais atriz do que de dançarina, tem em Roberto Alencar um partner que inverte a posição. Mais dançarino do que ator. Jonatan Harold interpreta a sua sensível trilha sonora. Daniel Dantas mantém o editor com ar distante, projetando indiferença. Melissa Vettore é uma Isadora a quem falta temperamento e vibração.