Crítica publicada em 4/4 quando do
Festival de Curitiba. “P.I. Panorâmica Insana” está atualmente em temporada no
Teatro Prudential, ex-Teatro Manchete, na Glória.
Vestir os nus |
“P.I Panorâmica Insana” - Escritura cênica, como a definiu Bia Lessa, que assina a
direção geral, a dramaturgia, ao lado de três outros autores, talvez seja o que
melhor sintetize essa coletânea de textos e esquetes, que pretende refletir a
perplexidade do momento, a apreensão do agora, o desgaste do diário. O palco forrado
por milhares de peças de roupas, ambienta o veste e despe dos quatro atores -
Claudia Abreu, Leandra Leal, Rodolfo Pandolfo e Luiz Henrique Nogueira - que se
lançam à maratona de troca de peles, personagens e de tipos, numa corrida pela
identificação por cpfs, nomes, condição social, existência, atitudes, em
cenário devastado pelo caos. Morte, miséria, religiosidade, politica,
comportamentos, cotidiano, tantas formas de convívio com as fraturas de mundo,
filtradas pela convivência com negações do humano. São cenas ativadas pelo ato
de movimentar, como num balé simbólico de troca de vestimentas (papéis,
funções, máscaras), frente as toadas das provocações. No enquadramento
proposto, há muito mais a intenção de impacto, do que de corte crítico. A
inconstância do material, variante do escatológico à convenção do esquete
cômico, sob a embalagem de instalação plástica, deixa entrever datação
estilística. A cena final, que empacota o espaço, não esconde suas origens e
inspiração. Mas é a que a antecede - o esquete de humor, com os atores no
centro do palco, e Rodolfo Pandolfo como matuto -, que conquista o público
com verve piadista.