Crítica do Segundo Caderno de
O Globo (19/2/2014)
Crítica/ Educando Rita
Pigmaleão revisitado |
O texto do inglês Willy
Russel, escrito há mais de 30 anos e confessadamente baseado em “Pigmaleão”, de
Bernard Shaw, demonstra que a passagem do tempo foi pouco condescedente com essa
atualização do original inspirador. Cabeleireira, frustrada com a vida medíocre
que gasta nas banalidades das conversas de salão e na convivência com o namorado,
decide ter aulas com professor de literatura que compensa no álcool a
frustração de se saber um poeta de segunda. Da convivência, emerge uma aluna
que reproduz a impostação da vida acadêmica, que o professor despreza, numa
caminhada em que um absorve as características do outro. É o pretexto para que
o autor faça extensas digressões sobre diferenças culturais e choque entre razão
e emoção, acondicionadas em diálogos que reforçam, ingenuamente, a progressiva troca
de comportamento. Na longa e reiterativa conversa na qual se intercambiam as diferenças,
as atitudes de ambos são pouco verossímeis para trama de contornos realistas. A
direção de Claudio Mendes também não contribui para dar maior veracidade às
transformações de Rita e os seus efeitos sobre a crise existencial de Frank. A
mesma linearidade com que Russel trata os estágios educativos, Mendes reproduz na
encenação, registrando a evolução da figura feminina com intensa troca de
roupas e a fraqueza masculina com chorosas lamúrias. A montagem, com cenário de
gabinete de Arlete Rua, Carlos Alberto Nunes e Paula Cruz, que também assinam
em conjunto o figurino, e eficiente iluminação de Paulo César Medeiros, se
mantém no mesmo plano morno durante os seus 100 minutos, passando ao largo da
construção, ainda que rarefeita do texto, das tensões que dominam, ora com
algum humor, ora com complascência, o relacionamento do casal de circunstância.
Marianna Mac Niven - além de interpretar Rita é responsável pela tradução - desenvolve
atuação retilínea, com poucas variações de tonalidade na falante estudante,
tornando-a impermeável aos desejos de conhecimento que modificam a personagem.
A atriz cristaliza Rita num único traço, da primeira a útima cena. Claudio
Mendes segue a companheira de cena na mesma linha, ainda que procure deixar
menos opaco o mestre desta aula de revisão de matéria requentada.