terça-feira, 4 de dezembro de 2012

43ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Razões Para Ser Bonita
Corrida em direção à ditadura do riso
Neil LaBute é um dramaturgo engenhoso, capaz de se apropriar de temas que soem suficientemente familiares à sensibilidade das plateias, acondicionados com um sopro de estranhamento que parece conferir-lhes maior densidade do que realmente têm. Dos textos de LaBute montados no Brasil, o primeiro deles, A Forma das Coisas utiliza construção em cenas curtas e cortes abruptos para versão perversa de um Pigmaleão jovem. Em Baque concentra em três depoimentos impulsos perturbadores que se manifestam de forma cruel. No monólogo Restos trata da morte como desabafo de um viúvo durante o velório da mulher. Aquelas Mulheres  e Gorda desvendam, abertamente, o real alcance de sua dramaturgia. Tantas e seguidas montagens locais do autor, como mais essa de Razões Para Ser Bonita, em cartaz no Teatro dos Quatro, não são por acaso, mas o alinhamento nacional à tendência internacional em torno de produção prolífera com temas circulantes da moda e convenções enganosas que buscam efeitos e golpes de teatro. Na primeira fase de sua carreira, aquela menos comercializada, Labute recorria aos mesmos truques, mas com alguma parcimônia, ao contrário das suas últimas peças em os explora sem disfarces. Em Gorda fala do preconceito contra os quilos que pesam, mas fica na periferia do assunto, enganando que trata de minoria quando apenas desenvolve escrita oportunista e rotineira. Não é muito diferente em Razões Para Ser Bonita, que acentua ainda mais o eventual prestígio de LaBute.  Ainda que a versão brasileira tenha sido adaptada por Susana Garcia, e ao que parece tentou reescrevê-la como veículo para uma atriz, o que resta do original não recomenda a atual fase do autor americano. Com plot rasteiro, maquiado como crítica à ditadura da beleza, desenvolvimento narrativo pífio, diálogos superficiais, o texto sofre com o esforço da direção de João Fonseca de perseguir o riso e o divertimento acima de tudo. A encenação deixa a impressão de ter pretendido usar o original como pretexto para imaginá-lo como um stand-up coletivizado. Ingrid Guimarães assume o papel da comediante que deseja somente fazer rir. Marcelo Faria e Aline Fanju têm atuações modestas. Somente Gustavo Machado se impõe como intérprete que empresta consistência a seu personagem.

                                                                macksenr@gmail.com