Crítica/ Razões
Para Ser Bonita
Corrida em direção à ditadura do riso |
Neil LaBute é um dramaturgo engenhoso, capaz de
se apropriar de temas que soem suficientemente familiares à sensibilidade das
plateias, acondicionados com um sopro de estranhamento que parece conferir-lhes
maior densidade do que realmente têm. Dos textos de LaBute montados no Brasil,
o primeiro deles, A Forma das Coisas utiliza
construção em cenas curtas e cortes abruptos para versão perversa de um Pigmaleão
jovem. Em Baque concentra em três depoimentos
impulsos perturbadores que se manifestam de forma cruel. No monólogo Restos trata da morte como desabafo de
um viúvo durante o velório da mulher. Aquelas
Mulheres e Gorda desvendam, abertamente, o real alcance de sua dramaturgia.
Tantas e seguidas montagens locais do autor, como mais essa de Razões Para Ser Bonita, em cartaz no
Teatro dos Quatro, não são por acaso, mas o alinhamento nacional à tendência internacional
em torno de produção prolífera com temas circulantes da moda e convenções enganosas
que buscam efeitos e golpes de teatro. Na
primeira fase de sua carreira, aquela menos comercializada, Labute recorria aos
mesmos truques, mas com alguma parcimônia, ao contrário das suas últimas peças
em os explora sem disfarces. Em Gorda fala
do preconceito contra os quilos que pesam, mas fica na periferia do assunto,
enganando que trata de minoria quando apenas desenvolve escrita oportunista e rotineira.
Não é muito diferente em Razões Para Ser
Bonita, que acentua ainda mais o eventual prestígio de LaBute. Ainda que a versão brasileira tenha sido
adaptada por Susana Garcia, e ao que parece tentou reescrevê-la como veículo para uma atriz, o que resta do original
não recomenda a atual fase do autor americano. Com plot rasteiro, maquiado como crítica à ditadura da beleza, desenvolvimento
narrativo pífio, diálogos superficiais, o texto sofre com o esforço da direção
de João Fonseca de perseguir o riso e o divertimento acima de tudo. A encenação
deixa a impressão de ter pretendido usar o original como pretexto para imaginá-lo
como um stand-up coletivizado. Ingrid
Guimarães assume o papel da comediante que deseja somente fazer rir. Marcelo
Faria e Aline Fanju têm atuações modestas. Somente Gustavo Machado se impõe como
intérprete que empresta consistência a seu personagem.
macksenr@gmail.com