Crítica/
Billdog
Tour de force para dramatizar a mímica |
A primeira impressão que esse texto do inglês Joe
Bone provoca é a de que o autor circula bem entre a escrita e a atuação. Propõe
contar uma história policialesca ao estilo das narrativas inglesas do gênero,
com recursos de interpretação que variam da mímica à comédia em pé. O ator se
desdobra em quase 40 personagens, desafiado a ilustrar a perseguição a um
matador profissional. Para tanto, não há o apoio de cenografia ou de qualquer
outro elemento além da própria presença do intérprete, que atua, produz ruídos
e imagens de objetos e explicita as rubricas através de movimentos. A ausência
de adereços e as habilidades físicas do ator solitário, coadjuvado
discretamente por um violonista, são a razão dessa brincadeira teatral. A
versão brasileira, dirigida em conjunto pelo autor e Guilherme Leme, adaptada,
traduzida e interpretada por Gustavo Rodrigues, e que está em cartaz na Casa da
Gávea, recria em 60 minutos história cheia de detalhes, algo alongada e tediosa, e que se esgota já nos primeiros dez minutos pela repetição histriônica
da mímica dramatizada. Rodrigues se desdobra para equalizar o tempo cênico com o
tempo de recepção da plateia para que a narrativa possa ser acompanhada com
interesse e bem compreendida. Gustavo Rodrigues mergulha no desafio de tornar assimilável
a historieta com visível esforço físico. O resultado, sem ser um exercício de
estilo interpretativo, é um tour de force
respeitável.
Crítica/ Pessoas Vivas
Falta de mira para encontrar os modos da comédia |
O texto de Marcelo Sant’Anna em
cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim tem as caraterísticas de primeira
investida em dramaturgia e como modelo comédias de horizontes comerciais.
Circunscrito a esses limites, o autor faz uso dos mecanismos de escrita teatral
restritos a tais condicionantes. O autor até consegue desenvolver uma narrativa
dentro dos parâmetros do que ele acredita seja comédia de costumes. Os indícios
estão nos temas escolhidos: oportunismo de ongs, relação patroa e empregada, opções
sexuais e desejo de ser famoso. São muitos tiros que passam ao largo dos alvos,
demonstrando que Sant’ Anna não tem muito a dizer sobre qualquer um deles. A
superficialidade das situações e os diálogos ralos não permitem que a trama,
involuntariamente absurda, alcance a plateia para além da piada rasa. A
intenção de “emocionar” (o uso corrente e a banalização desta palavra acabou
por esvaziar, inteiramente, o seu sentido semântico) se confunde com a
facilidade de apelar a capengas recursos à pieguice e ao melodrama. A diretora
Ivonne Hoffman não revela muito segurança para ultrapassar a fragilidade do
texto, restringindo-se a colocá-lo, linearmente e sem filtragem, no palco, com
todo o seu humor frágil e emoção noveleira.
Cenário, iluminação e trilha se nivelam no quadro fraco da encenação, enquanto
os atores – Jonathan Haagensen, Vitória Furtado, Marcelo Sant’Anna, Rosanna
Viegas, Nilvan Santos e Betty Erthal – compõem tipos cômicos, distantes da ideia
de personagens.
macksenr@gmail.com