quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

44ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Billdog
Tour de force para dramatizar a mímica
A primeira impressão que esse texto do inglês Joe Bone provoca é a de que o autor circula bem entre a escrita e a atuação. Propõe contar uma história policialesca ao estilo das narrativas inglesas do gênero, com recursos de interpretação que variam da mímica à comédia em pé. O ator se desdobra em quase 40 personagens, desafiado a ilustrar a perseguição a um matador profissional. Para tanto, não há o apoio de cenografia ou de qualquer outro elemento além da própria presença do intérprete, que atua, produz ruídos e imagens de objetos e explicita as rubricas através de movimentos. A ausência de adereços e as habilidades físicas do ator solitário, coadjuvado discretamente por um violonista, são a razão dessa brincadeira teatral. A versão brasileira, dirigida em conjunto pelo autor e Guilherme Leme, adaptada, traduzida e interpretada por Gustavo Rodrigues, e que está em cartaz na Casa da Gávea, recria em 60 minutos história cheia de detalhes, algo alongada e tediosa, e que se esgota já nos primeiros dez minutos pela repetição histriônica da mímica dramatizada. Rodrigues se desdobra para equalizar o tempo cênico com o tempo de recepção da plateia para que a narrativa possa ser acompanhada com interesse e bem compreendida. Gustavo Rodrigues mergulha no desafio de tornar assimilável a historieta com visível esforço físico. O resultado, sem ser um exercício de estilo interpretativo, é um tour de force respeitável.  

Crítica/ Pessoas Vivas
Falta de mira para encontrar os modos da comédia
O texto de Marcelo Sant’Anna em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim tem as caraterísticas de primeira investida em dramaturgia e como modelo comédias de horizontes comerciais. Circunscrito a esses limites, o autor faz uso dos mecanismos de escrita teatral restritos a tais condicionantes. O autor até consegue desenvolver uma narrativa dentro dos parâmetros do que ele acredita seja comédia de costumes. Os indícios estão nos temas escolhidos: oportunismo de ongs, relação patroa e empregada, opções sexuais e desejo de ser famoso. São muitos tiros que passam ao largo dos alvos, demonstrando que Sant’ Anna não tem muito a dizer sobre qualquer um deles. A superficialidade das situações e os diálogos ralos não permitem que a trama, involuntariamente absurda, alcance a plateia para além da piada rasa. A intenção de “emocionar” (o uso corrente e a banalização desta palavra acabou por esvaziar, inteiramente, o seu sentido semântico) se confunde com a facilidade de apelar a capengas recursos à pieguice e ao melodrama. A diretora Ivonne Hoffman não revela muito segurança para ultrapassar a fragilidade do texto, restringindo-se a colocá-lo, linearmente e sem filtragem, no palco, com todo o seu humor frágil e emoção noveleira. Cenário, iluminação e trilha se nivelam no quadro fraco da encenação, enquanto os atores – Jonathan Haagensen, Vitória Furtado, Marcelo Sant’Anna, Rosanna Viegas, Nilvan Santos e Betty Erthal – compõem tipos cômicos, distantes da ideia de personagens.
                                                        macksenr@gmail.com