segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

45ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Freud – A Última Sessão
Discussões amáveis e bem comportadas sobre a fé
A técnica do plawriting que dramaturgos anglo-saxões utilizam com grande habilidade na construção de narrativas em que métodos e regras são seguidas com imperturbável aplicação, pode ser constatada neste texto do americano Mark St. Germain em cartaz no Centro Cultural dos Correios. A fórmula neste exemplar é aplicada de maneira rigorosa, contrapondo personagens reais (Sigmund Freud e o escritor irlandês C.S.Lewis),  discussão de ideias (um ateu, o outro cristão) e tempo convulsionado (o início da Segunda Guerra Mundial). Ambientado no consultório de Freud, com as sirenes de bombardeio marcando as oscilações de opinião sobre questões de fé religiosa, os intelectuais expõem convicções que tangenciam suas experiências de vida. O debate se equilibra, em dosagens bem medidas, entre a argumentação, a quebra de tensão, com tiradas de humor e o pano de fundo da guerra e da morte anunciada de Freud. Todos os ingredientes se misturam harmoniosamente para que o resultado se faça degustável. Não se aprofunda o debate, muito menos se carrega nas situações para que tudo não escape da pretendida busca de oferecer fruição agradável e confortável à plateia. A encenação de Ticiana Studart envereda pelo mesmo caminho, e neste sentido é absolutamente coerente e fiel às premissas do texto. A montagem, com cenário de José Dias que procura reproduzir o consultório londrino de Freud, se desenvolve suavemente, sem arroubos e percalços, com o elenco em atuações comportadas. Leonardo Netto com rigidez corporal empresta timidez à contracena, enquanto Helio Ribeiro, em composição que intenta semelhança física, é um Freud amável.   


Crítica/ Eclipse Total – Rimbaud e Verlaine
Intimidade sem filtros que revela imperfeições 
O inglês Christopher Hampton, autor de Eclipse Total, em cartaz no Porão da Casa de Cultura Laura Alvim, é também um dramaturgo que segue estritos padrões de escrita dramática. Assim como havia feito na adaptação teatral de Ligações Perigosas também nesta versão da tumultuada relação dos poetas Rimbaud e Verlaine dosa com segurança os tempos narrativos em diálogos burilados. Hampton sabe conduzir bem a ação e não descuida de criar ganchos para segurar a plateia. Como um novelão de sentimentos expandidos, manipula com destreza os conflitos. Eclipse Total  reproduz, diligentemente, o relacionamento como referência biográfica e comedida pitada poética. Na fluente tradução de Hélio Ferreira e na direção de Rubens Lima Jr. as características do texto transparecem com limpidez, mesmo que sua transposição para o palco esteja distante de vigor cênico. Uma das limitações desta encenação está no exíguo espaço do Porão, que aproxima a plateia da cena, tornando-a íntima e desvendando-a nas suas imperfeições. Não há filtros que se interponham à restrição espacial e à modesta concepção da montagem. Ainda que se perceba as melhores intenções na equipe, não se alcança qualquer atmosfera que estabeleça clima dramático mais sólido. Eder Faversani e Anthero Montenegro tentam desenhar Rimbaud e Verlaine, mas permanecem em seus contornos. Sabrina Miragaia, Jalusa Barcelos e Rubens de Araujo têm participações inexpressivas.

                                                     macksenr@gmail.com