Crítica/ Freud –
A Última Sessão
Discussões amáveis e bem comportadas sobre a fé |
A técnica do plawriting
que dramaturgos anglo-saxões utilizam com grande habilidade na construção
de narrativas em que métodos e regras são seguidas com imperturbável aplicação,
pode ser constatada neste texto do americano Mark St. Germain em cartaz no Centro
Cultural dos Correios. A fórmula neste exemplar é aplicada de maneira rigorosa,
contrapondo personagens reais (Sigmund Freud e o escritor irlandês C.S.Lewis), discussão de ideias (um ateu, o outro cristão)
e tempo convulsionado (o início da Segunda Guerra Mundial). Ambientado no
consultório de Freud, com as sirenes de bombardeio marcando as oscilações de
opinião sobre questões de fé religiosa, os intelectuais expõem convicções que
tangenciam suas experiências de vida. O debate se equilibra, em dosagens bem
medidas, entre a argumentação, a quebra de tensão, com tiradas de humor e o
pano de fundo da guerra e da morte anunciada de Freud. Todos os ingredientes se
misturam harmoniosamente para que o resultado se faça degustável. Não se
aprofunda o debate, muito menos se carrega nas situações para que tudo não
escape da pretendida busca de oferecer fruição agradável e confortável à
plateia. A encenação de Ticiana Studart envereda pelo mesmo caminho, e neste
sentido é absolutamente coerente e fiel às premissas do texto. A montagem, com
cenário de José Dias que procura reproduzir
o consultório londrino de Freud, se desenvolve suavemente, sem arroubos e
percalços, com o elenco em atuações comportadas. Leonardo Netto com rigidez
corporal empresta timidez à contracena, enquanto Helio Ribeiro, em composição
que intenta semelhança física, é um Freud amável.
Crítica/ Eclipse
Total – Rimbaud e Verlaine
O inglês Christopher Hampton, autor de Eclipse Total, em cartaz no Porão da
Casa de Cultura Laura Alvim, é também um dramaturgo que segue estritos padrões
de escrita dramática. Assim como havia feito na adaptação teatral de Ligações Perigosas também nesta versão
da tumultuada relação dos poetas Rimbaud e Verlaine dosa com segurança os
tempos narrativos em diálogos burilados. Hampton sabe conduzir bem a ação e não
descuida de criar ganchos para
segurar a plateia. Como um novelão de sentimentos expandidos, manipula com
destreza os conflitos. Eclipse Total reproduz, diligentemente, o
relacionamento como referência biográfica e comedida pitada poética. Na fluente
tradução de Hélio Ferreira e na direção de Rubens Lima Jr. as características
do texto transparecem com limpidez, mesmo que sua transposição para o palco
esteja distante de vigor cênico. Uma das limitações desta encenação está no
exíguo espaço do Porão, que aproxima a plateia da cena, tornando-a íntima e desvendando-a
nas suas imperfeições. Não há filtros que se interponham à restrição espacial e
à modesta concepção da montagem. Ainda que se perceba as melhores intenções na
equipe, não se alcança qualquer atmosfera que estabeleça clima dramático mais
sólido. Eder Faversani e Anthero Montenegro tentam desenhar Rimbaud e Verlaine,
mas permanecem em seus contornos. Sabrina Miragaia, Jalusa Barcelos e Rubens de
Araujo têm participações inexpressivas.
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