Crítica/ Sinfonia
Sonho
Abstração sonorizada do jogo perverso da inocência |
Quando o massacre da escola em Realengo mal completou um ano, a lembrança
da violência é reavivada com a morte de crianças na sexta-feira, em
Coneccticut. O assassinato coletivo, mais do que periódico assunto a ocupar
espaço nos jornais, também é tema, ainda que secundário, de Sinfonia Sonho, em cartaz no Instituto
do Ator. A composição textual desta montagem assinada por Diogo Liberano se
estende para além da questão factual das mortes em escolas, recorrendo a
influências filsóficas e referências a romances, compondo universo enevoado
sobre jogos infantis. O menino que deseja ser música, abstração sonorizada de
vivências que a representação teatral ensaia e as experiências que a
convivência familiar propiciam, desfaz a imagem de inocência. A colagem do
texto de Liberano se reflete com precisão na estrutura da cena, como uma
leitura dramatizada de fragmentos que se descolam do linear para adquirir
independência expressiva, reconstruindo-se como narrativa. Os atores dipostos
diante da plateia, sentados em linha no fundo do palco, abrem espaço para a
representação de um sonho teatral, que começa a ser desvelado pela leitura das
rubricas pelo diretor. A ação se
desprega dessa pose inicial e das indicações a seguir num sucessivo desdobrar,
que alcança autonomia dramatúrgica. A construção dessa arquitetura cênica, que
estabelece relação umbilical entre texto
e cena, se fraciona e dispersa como meio de dialogar numa intensidade em que a
preparação corporal do elenco é de notável eficiência. Mesmo com a visível juventude interpretativa, os atores
compõem um ensemble, integralmente mergulhado
nesta interessante e generosa proposta de uma cena arejada e vigorosa.
macksenr@gmail.com