segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

47ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Sinfonia Sonho
Abstração sonorizada do jogo perverso da inocência
Quando o massacre da escola em Realengo mal completou um ano, a lembrança da violência é reavivada com a morte de crianças na sexta-feira, em Coneccticut. O assassinato coletivo, mais do que periódico assunto a ocupar espaço nos jornais, também é tema, ainda que secundário, de Sinfonia Sonho, em cartaz no Instituto do Ator. A composição textual desta montagem assinada por Diogo Liberano se estende para além da questão factual das mortes em escolas, recorrendo a influências filsóficas e referências a romances, compondo universo enevoado sobre jogos infantis. O menino que deseja ser música, abstração sonorizada de vivências que a representação teatral ensaia e as experiências que a convivência familiar propiciam, desfaz a imagem de inocência. A colagem do texto de Liberano se reflete com precisão na estrutura da cena, como uma leitura dramatizada de fragmentos que se descolam do linear para adquirir independência expressiva, reconstruindo-se como narrativa. Os atores dipostos diante da plateia, sentados em linha no fundo do palco, abrem espaço para a representação de um sonho teatral, que começa a ser desvelado pela leitura das rubricas pelo diretor. A ação se desprega dessa pose inicial e das indicações a seguir num sucessivo desdobrar, que alcança autonomia dramatúrgica. A construção dessa arquitetura cênica, que estabelece  relação umbilical entre texto e cena, se fraciona e dispersa como meio de dialogar numa intensidade em que a preparação corporal do elenco é de notável eficiência. Mesmo com a visível juventude interpretativa, os atores compõem um ensemble, integralmente mergulhado nesta interessante e generosa proposta de uma cena arejada e vigorosa.         

                                                     macksenr@gmail.com