Crítica/ Também
Queria Te Dizer – Cartas Masculinas
Solo de ator com artesanato e muita dedicação |
Essa montagem, em cartaz no pequeno espaço do
Midrash Centro, exercita modo artesanal e camerístico de chegar à plateia. Com
recursos mínimos, no formato de monólogo, baseado em livro da cronista Martha Medeiros,
reúne correspondência sob a perspectiva dos homens, pelo menos nominalmente,
tocando em questões que não ficam restritas ao gênero. São situações capturadas
em cotidiano tão amplo quanto o que surge da redação de carta de demissão e do
desabafo de pós-adolescente que escreve à mãe de um garoto morto em acidente de
carro que ele dirigia. Ou ainda da violência verbal de presidiário confinado em
manicômio judiciário e do homem
frente a decisão, não revelada, da mulher em abortar. São histórias curtas,
compiladas em espetáculo assinado por Victor Garcia Peralta, com variantes
climas dramáticos para exercitar as potencialidades do intérprete. Com
despojamento cenográfico, trilha sonora ocasional, iluminação condicionada pela
exígua área de representação, Emílio Orciollo Netto cultiva o artesanato cênico
com mudanças de climas na atuação, dosando toques de humor irônico com contidas
investidas emocionais, em simples e inteligentes variações interpretativas. O
espetáculo, em que tudo tem ar caseiro e em que a despretensão e o despojamento
de efeitos são dominantes, diz bem mais do que se os meios fossem menos domésticos. O bilhete escrito pelo ator,
distribuído aos espectadores ao fim do espetáculo, demonstra o modo como Orciollo
gostaria que essas cartas masculinas fossem lidas
pelo público: “... a peça foi feita com muito carinho e dedicação. O teatro é
minha vida e hoje você fez parte dela...”.
macksenr@gmail.com