domingo, 2 de agosto de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (2/8/2015)

Crítica/ “Ivon Curi – O ator da canção”
Irrelevâncias biográficas em musical stand-up

“Ivon Curi – O ator da canção” sintetiza de modo exponencial os problemas da insistência na fórmula exaurida dos musicais biográficos. Da escolha do personagem, com história rala, à narrativa, com apelos à comédia em pé, o autor Pedro Murad procura disfarçar a ausência de dramaturgia com alguma originalidade, escondendo a sucessão sem ritmo dos quadros em ambiente absurdo. O cantor, que na fase descendente da carreira manteve casa de show de samba e mulatas, reaparece nos escombros da boate ao lado do pianista na Copacabana do ano 2050. Não era preciso avançar tanto para ilustrar a vida de cantor da década de 1950 para apenas se restringir a detalhes como sua imagem afetada e o número de irmãos, irrelevâncias para  introduzir, de maneira pálida, o seu repertório musical. A despreocupação em traçar com alguma veracidade o perfil de Ivon, certamente frustra a geração que o ouviu na Rádio Nacional e o assistiu em filmes da Atlântida. Para os demais, fica a impressão de que foi um intérprete de xotes engraçadinhos, canções melodramáticas e de versões de hit franceses, e quase nada mais. Talvez ambos tenham razão, já que o material biográfico tal como é tratado por Murad,  demonstra ser pouco permeável à exposição teatral. Sem um tratamento que o situe em seu tempo, dimensione suas qualidades musicais e crie situações dramáticas, que não apenas desarrumem a cronologia factual, seria possível deixar o espetáculo com pergunta bem diferente daquela que assalta o espectador à saída. “Por que  montar mais um musical sobre vida tão inexpressiva?” Também fica sem resposta a dúvida do porquê da direção dividida por Lucio Mauro Filho e Danilo Watanabe. O resultado cênico não justifica a duplicação. A confusa e atropelada narrativa se alonga, perdida em desvios e divagações, pontos fatais para o gênero, restando aos diretores aproveitar as habilidades de comediante de Fernando Ceylão. Para tanto, o musical é esquecido para que se instale a stand-up comedy e o ator desça à plateia para brincar com o público e tentar reanima-lo. Registre-se o esforço. Como o protagonista dispõe de limitado alcance vocal, a parte musical é defendida pelo ator, cantor e pianista Leonardo Wagner.