Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (8/8/2015)
Crítica/ “Vanya e
Sonia e Masha e Spike”
Tchecov considerava suas peças como comédias,
numa avaliação bem peculiar e carregada de ironia em relação ao seu universo
melancólico e às emoções difusas das personagens. Mas comédia mesmo escreveu o
americano Cristopher Durang, que transpõe situações e cenas da dramaturgia do
autor russo para farsa de invólucro tchecoviano e humor aberto. Na história dos
irmãos Vanya, Sonia e Masha, a coincidência de nomes e tramas se refere a
citações a “Gaivota”, “Três irmãs” e “Tio Vânia”, além da ambientação lembrar
“Jardim das cerejeiras”. Neste transporte farsesco, Masha é uma atriz de algum
sucesso, em visita à sua casa de campo, onde moram os solteirões rabugentos Vanya
e Sonia. A empregada Cassandra (outra referência teatral, esta a tragédia
grega) inclui premonições entre seus serviços domésticos, enquanto Spike, o
namorado jovem de Masha, postulante à carreira de ator e a vizinha Nina, também
aspirante ao palco, gravitam em torno do núcleo familiar conflituado. A
estrutura do texto de Durang está construída sob essa base referencial, ainda
que seu humor nem sempre caminhe, ajustadamente, em paralelo à origem inspiradora.
Há um relativo descolamento da atmosfera que envolve as atitudes dos
personagens com a comicidade
que parece dirigida apenas a eficácia do efeito. O diretor Jorge Takla procurou
conciliar os dois planos em montagem elegante, com decorativa cenografia de Attilio Baschera e Gregorio
Kramer, divertidos figurinos de Theodoro Cochrane, e iluminação de Ney
Bonfante. Takla se empenha em diminuir a distância entre provocar o riso espontâneo
e brincar com determinada carga
dramática. Como fica difícil a dissociação, já que é conveniente que se saiba
de onde vieram os personagens, algumas cenas confundem, por intrigantes, e outras parecem comédias ligeiras de duração
alongada. Marília Gabriela adota postura um tanto rígida e pouco modulada como
Masha. Elias Andreato defende com bravura o monólogo sobre a superficialidade dos
nossos dias. Patricia Gaspar se movimenta bem entre a amargura e as mágoas de
Sonia. Teca Pereira como Cassandra assume o humor sem freios. Bruno Narchi,
como Spike, e Jliana Boller, como Nina, exibem suas figuras físicas apropriadas
aos papéis.