segunda-feira, 27 de julho de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (26/7/2015)

Crítica/ “Uma revista de ano - Politicamente incorretos”
Retrospectiva com humor de um ano de derrotas
O título desta montagem procura integrar os dois planos expressivos por onde a montagem circula. Pela apreensão de acontecimentos de 2014 (Copa do Mundo, debate eleitoral, manifestações de rua, falência de empresário)                        se caracteriza como revista de ano (gênero crítico-musical criado no século XIX). E pela observação bem humorada que faz dos fatos em tons  nada corretos sobre as descoloridas mazelas da vida nacional no ano passado, deixa pouca coisa fora da mira. O modo como Ana Velloso, autora, e Sergio Módena, diretor, condensam essas linguagens, reflete a precariedade dos meios de produção de que dispunham, explorando-a como o próprio argumento da encenação. A cena inicial é a completa tradução desta unidade de forma e meio. O elenco expõe os poucos recursos disponíveis, reproduzindo de maneira bizarra a cerimônia canhestra de abertura da Copa. É o pontapé para a sequência de quadros, intercalados com paródias de músicas conhecidas, que comentam a hipocrisia do politicamente correto e a liberdade de romper os seus restritivos limites. Não sem razão, que as melhores cenas são aquelas com comicidade demolidora sobre opiniões bem pensantes. O voo que reúne várias “minorias”, que se desdobram em múltiplas incorreções, é de humor avassalador. Referências ao “bolo afrodescendente” e à velhinha na plateia com suas inconvenientes intervenções, além do X-Man brasileiro e do gari entrevistador, parecem suficiente para atender parte da proposta. Mas não é o bastante. Os percalços de produção, que o elenco reitera em cena, menos como justificativa, e mais como apropriação utilitária, restringem os textos vivos a esquetes fragilmente interligados. O bom humor, que se transfere às músicas, também se ressentem da modéstia dos recursos, impedindo que se alcance a sonoridade de uma revista. Todos elementos, executados com empenho e critério, sofrem com a verba limitada. A direção musical de Wladimir Pinheiro faz milagres com um teclado. Bia Gondomar, Sergio Módena e Gustavo Wabner inventam, com um mínimo de adereços e figurinos, de Antonio Medeiros e Tatiana Rodrigues, a ambientação cênica. O elenco defende, com a bravura de estar no palco, apesar de tudo, os bons momentos da revisão de um ano com tão poucos bons momentos. Ana Velloso demonstra seu temperamento cômico, não somente nos textos, mas como atriz. É divertida a sua imitação da candidata “verde”. Cristina Pompeo, com ótima voz, atira os mais certeiros dardos contra os problemas expostos pelo espetáculo. O ágil coreógrafo Édio Nunes tem participação destacada no quadro “De frente com o Gari”. Cristiano Gualda, uma presença competente, Hugo Kerth, que faz caricatura de um carnavalesco, e o músico Wladimir Pinheiro, completam o elenco desta divertida revista de um ano politicamente incorreto.