quarta-feira, 15 de julho de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (15/7/2015)

 

Crítica/ “2.500 por hora”

Uma história de séculos em pouco mais de uma hora


 A proposta é reunir a evolução de 2.500 anos do teatro em pouco mais de uma hora, numa sucessão de fragmentos de textos, dos gregos a Brecht, ilustrando a permanência de uma história que continua a ser contada. Os franceses Jacques Livchine e Hervée de Lafond, autores dessa maratona para condensar uma arte duradoura de representação efêmera, recorrem à dramaturgia, elo longevo que registra mudanças e afirma a sobrevivência ao longo dos séculos. Nesta corrida contra o relógio, se faz homenagem a experiência artística que reproduz os sentimentos humanos. Com humor e alguma habilidade artesanal, a dupla Livchine e Lafond estabelece linha do tempo que inclui textos de Feydeau, Molière, Artaud, em inevitável reverência francófona, e de Tchecov, Eurípides, Goethe, Pirandello e Shakespeare da historiografia clássica. Monica Biel, a tradutora e adaptadora, assina a contribuição brasileira, com citações a João Caetano e Nelson Rodrigues, completando o quadro deste “theatre express”. O que aciona a máquina de desenrolar as cenas são situações de bastidor, como a do ator à procura do protagonismo ou a espera pela trupe da chegada de um espectador retardatário para iniciar o espetáculo. A conexão desses planos torna falsa a construção do contexto e desequilibra o peso informativo de cada autoria. Como a montagem exige rapidez nas mudanças de épocas e na alternância de climas dramáticos, aumenta o risco de quebras entre quadros e intermitência de ritmo. O diretor Moacir Chaves agrava essas discrepâncias na velocidade sequencial, equiparando pela comicidade as diferenciações de estilo. A corrida pela troca de cenários e figurinos, tarefa do elenco, também exigido pela veloz substituição dos registros interpretativos, emperra a agilidade e provoca vazios narrativos. O cenário de Sérgio Marimba utiliza formas geométricas para compor variação de mobiliário, mas em seu encaixe perdem-se segundos decisivos à fluência. O figurino de Inês Salgado, apesar da sua correção, choca-se, pela reprodução das épocas, com o despojamento dos demais elementos, incluindo a atuação despretensiosa do elenco, desvinculado de identificações. Quando o ritmo parece ajustado (como na contribuição nacional de encenar as 17 peças de Nelson Rodrigues em 3 minutos), o bom efeito inicial acaba por se esgotar pela repetição. Os atores se ressentem do constante desmonte das cenas e da descoloridas mutações dos tipos. Henrique Juliano demonstra pouca vivência de palco e  Monica Biel se revela boa tradutora. Júlia Marini sustenta sua atuação com voz encorpada. Claudio Gabriel encontra a diferença de suas intervenções na igualdade do histrionismo. Joelson Medeiros articula com autoridade as passagens por Molière,  Beckett e Nelson Rodrigues.