Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (8/4/2015)
Crítica/ Barbaridade
Idade e teatro em descompasso |
Mais uma tentativa de criar dramaturgia musical
brasileira que se frustra. “Barbaridade”
pretenderia, baseada em textos dos cronistas Luis Fernando Veríssimo, Ziraldo e Zuenir Ventura, falar da velhice na forma de comédia musical. No percurso, a ideia original seguiu outro rumo, distante da abordagem temática e esvaziada das características do gênero. O autor Rodrigo Nogueira parece expor, em narrativa desordenada, a mesma dificuldade e urgência que os personagens têm de escrever um espetáculo sobre sua idade. Três velhinhos, instigados por produtora afetada, precisam colocar no papel as sensações da idade madura, mas não demonstram qualquer disposição para a tarefa. Com a ajuda de Matusalém, o personagem bíblico que viveu mil anos, os idosos descobrem o que é ser, verdadeiramente, velho, e se redimem da passagem do tempo. O teatro e suas práticas ambientam os percalços criativos dos vovôs, enquanto a música e a dança relembram a que estilo se destinam os esforços frustrados. Há um descompasso entre os dois planos (velhice e teatro), que se integram artificialmente, quase como cortinas introdutórias entre quadros e números musicais. À nada surpreendente trilha sonora, com exceção das letras adaptadas para o funk Show das poderosas e Malandragem, de Cazuza e Frejat, sobrevivem as canções escritas por Pedro Veríssimo e Luis Fernando Veríssimo (“Ser velhinho” e “ Carpe diem”). Rodrigo Nogueira, talvez pela necessidade de enquadrar a leveza da crônica à exuberância do musical, tenha perdido o compasso para compensar a falta de libreto mais exploratório e valorizar o ritmo de musicalidade menos tradicional. Alonso Barros, tanto na direção quanto na coreografia, reforça a concepção rotineira e limitada de soluções cênicas. A cenografia assinada pelo coletivo Radiográfico se resolve com cortinas e painéis. O figurino de Claudio Tovar brinca com o efeito de brilhos e comentários críticos, em especial na transformação em jovens do trio dos velhinhos. Osmar Prado com sua voz forte e bem colocada, Marcos Oliveira, explorando seu tipo físico, e Edwin Luisi, com comicidade afiada, estabelecem alguma contracena. Susana Vieira se mostra à vontade em papel que se imagina escrito a imagem e semelhança de seu temperamento artístico. Guilherme Leme Garcia e Vera Fajardo procuram dar vida a personagens inexpressivos. Igor Pontes interpreta um galã de presença dispensável. Tahis Belchior, a irrequieta assistente e a vestuta Matusalém, demonstra vivacidade.
pretenderia, baseada em textos dos cronistas Luis Fernando Veríssimo, Ziraldo e Zuenir Ventura, falar da velhice na forma de comédia musical. No percurso, a ideia original seguiu outro rumo, distante da abordagem temática e esvaziada das características do gênero. O autor Rodrigo Nogueira parece expor, em narrativa desordenada, a mesma dificuldade e urgência que os personagens têm de escrever um espetáculo sobre sua idade. Três velhinhos, instigados por produtora afetada, precisam colocar no papel as sensações da idade madura, mas não demonstram qualquer disposição para a tarefa. Com a ajuda de Matusalém, o personagem bíblico que viveu mil anos, os idosos descobrem o que é ser, verdadeiramente, velho, e se redimem da passagem do tempo. O teatro e suas práticas ambientam os percalços criativos dos vovôs, enquanto a música e a dança relembram a que estilo se destinam os esforços frustrados. Há um descompasso entre os dois planos (velhice e teatro), que se integram artificialmente, quase como cortinas introdutórias entre quadros e números musicais. À nada surpreendente trilha sonora, com exceção das letras adaptadas para o funk Show das poderosas e Malandragem, de Cazuza e Frejat, sobrevivem as canções escritas por Pedro Veríssimo e Luis Fernando Veríssimo (“Ser velhinho” e “ Carpe diem”). Rodrigo Nogueira, talvez pela necessidade de enquadrar a leveza da crônica à exuberância do musical, tenha perdido o compasso para compensar a falta de libreto mais exploratório e valorizar o ritmo de musicalidade menos tradicional. Alonso Barros, tanto na direção quanto na coreografia, reforça a concepção rotineira e limitada de soluções cênicas. A cenografia assinada pelo coletivo Radiográfico se resolve com cortinas e painéis. O figurino de Claudio Tovar brinca com o efeito de brilhos e comentários críticos, em especial na transformação em jovens do trio dos velhinhos. Osmar Prado com sua voz forte e bem colocada, Marcos Oliveira, explorando seu tipo físico, e Edwin Luisi, com comicidade afiada, estabelecem alguma contracena. Susana Vieira se mostra à vontade em papel que se imagina escrito a imagem e semelhança de seu temperamento artístico. Guilherme Leme Garcia e Vera Fajardo procuram dar vida a personagens inexpressivos. Igor Pontes interpreta um galã de presença dispensável. Tahis Belchior, a irrequieta assistente e a vestuta Matusalém, demonstra vivacidade.