Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (19/4/2015)
Crítica/ Closer –
Perto Demais
Ciranda amorosa de individualidades |
Closer é um exemplar típico da dramaturgia
britânica dos anos 90, aquela que mede as temperaturas sociais e dos costumes,
sob a perspectiva de uma sociedade sensível para estabelecer padrões de
comportamento e flexível para rompê-los. Ainda que revestida do velho realismo,
a narrativa de Patrick Marber se impõe pela fluidez e impessoalidade das
relações marcadas por comunicação intensa em velocidade e nem sempre
sustentável em conteúdo. Numa ciranda amorosa, stripper ama jornalista que,
por sua vez, se enamora de fotógrafa, que é abandonada pelo companheiro, que se
envolve com a stripper. Nesse carrossel, as trocas representam muito menos quebra de convivência mas, essencialmente,
trocas nervosas de vivências, demarcadas por afetos construídos em bases
frágeis e zonas de sombras. Nenhum deles demonstra culpa em magoar o outro e
nos movimentos de troca de par estão condenados a seguir, ou a desistir, da
procura. Closer está longe de ser um texto excelente. No máximo, é hábil na
construção bem armada de situações que se intercambiam no jogo das peças
movidas pela necessidade da procura e das reações a perdas. Na sua estreia em
Londres, em 1997, trazia novidade que se tornaria um atrativo sedutor para o
público, e reforçaria o marketing publicitário para o espetáculo. Anunciava-se
como uma montagem que utilizava, pela primeira vez, a comunicação via internet
em cena. O que é verdade, mas apenas como um detalhe, hoje, e como na época, completamente,
secundário. A adaptação e direção de Andrea Avancini retirou o caráter quase
impessoal e atomizado dos contatos entre os personagens, para personalizar as
ações. Com esta abordagem, o texto perde aquilo que o diferencia da ronda banal
acionada pela dramaticidade dos sentimentos. Com cenário improvisado,
iluminação inexpressiva e figurino convencional, a montagem tem na coreografia
de Luhanna Melloni a agilidade que permite a intensa circulação dos atores, e
na trilha original de Charles Kahn, a forma de sublinhar a evolução da trama. A
agitação do quarteto de atores, que permite a ocupação das áreas do palco numa troca
permanente de posições no espaço, não esconde a atuação fixada no rosto, em closes
enfáticos. Rafael Sardão imprime nervosismo ao personagem, ameaçando dissolvê-lo. Karen Motta se avizinha
da ambiguidade da stripper. Paula Moreno e Luciano Szafir se apropriam sem
variações de seus papéis.