segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Estante Teatral



Teatros do Rio  - Do Século XVIII ao Século XX (Funarte) – Originalmente tese de doutoramento apresentada pelo cenógrafo José Dias, em 1999, na Escola de Comunicações e Artes da USP, agora publicada em livro, é robusta compilação das casas de espetáculos do Estado do Rio de Janeiro. Em paralelo ao contexto social, da Colônia à ocupação teatral de shopping centers, Dias percorre do aparecimento dos edifícios para provincianas manifestações cênicas à concentração de salas no centro da cidade, até a deslocação para a zona sul. Em levantamento criterioso (é extensiva a sua completa pesquisa, apesar das dificuldades e precariedades das fontes de informação), a história de cada teatro, suas características arquitetônicas e técnicas, as companhias que os ocuparam e ainda quando entram em decadência ou são demolidos, repassam a evolução da cena carioca. Em centenas de verbetes, introduzidos por avaliação de cada tema dos capítulos, o autor detalha as dimensões de palco e plateia, relembra disputas contra a burocracia estatal e a voracidade imobiliária, refaz o percurso artístico, e caracteriza a ambientação sócio-político da época de sua inauguração. É possível acompanhar os primórdios do Teatro João Caetano, ainda denominado Teatro São Pedro, no século XIX, os incêndios, as reformas que o descaracterizaram e o secular problema de acústica. Ou do surgimento à ruína do Teatro Recreio, templo da revista dos anos 30 aos 60. E do desaparecimento do suntuoso Teatro Fênix, na Avenida Rio Branco, transferido para o Jardim Botânico como estúdio de televisão, e demolido para construção de prédio residencial.

História do Teatro no Rio de Janeiro (Novas Direções) – Barbara Heliodora  exercita neste panorama sobre o teatro carioca, das suas primeiras manifestações nos tempos coloniais a 2013, as suas impressões como crítica, professora e, acima de tudo, espectadora e estudiosa atenta. Não há qualquer intenção de análise acadêmica, muito menos de historiar, didaticamente, as manifestações teatrais da cidade, senão de apresentar o desenvolvimento de uma arte nem sempre valorizada culturalmente e tão sujeita às variações políticas, às intempéries econômicas e a desvalorização social. Barbara considera tais condicionantes para traçar um quadro, realisticamente evocativo, no qual se configuram os movimentos, individuais ou coletivos, de afirmação de uma atividade artística em permanente estado de emergência. No centro de sua argumentação está a figura do autor nacional, aquele que considera o elemento identificador da expressão nativa. Desde os primórdios coloniais, em que a capital concentrava a universalidade da vida brasileira, os autores procuravam em modelos estrangeiros as formas miméticas de sua escrita. De Gonçalves Dias, com Leonor de Mendonça, que Barbara aponta com qualidades para ser encenado na atualidade, a Martins Pena, de quem destaca a habilidade para a comédia, de Arthur Azevedo,  lembrado por O  Mambembe, ao papel deflagrador de Nelson Rodrigues e das vagas de autores que o sucederam. A partir do moderno teatro brasileiro, a crítica acompanhou a vida teatral do Rio, registrando observações sobre as transformações, crises, censura, tendências e a atualidade da dramaturgia produzida e encenada no Rio, com espectadora categorizada e crítica exigente.     

Caminhos do Teatro Ocidental  (Perspectiva) – Professora por décadas de História do Teatro, Barbara Heliodora reúne em livro suas anotações para traçar panorama do teatro no Ocidente, do início, em Atenas, até a segunda metade do século XX. “ Quanto ao novo século, – observa a autora – não creio haver ainda o mínimo daquela objetividade necessária para qualquer comentário válido e que só o tempo dá.” E é esta ressalva, que comanda a historiografia da cena por séculos, vista com objetividade analítica, e não apenas como exposição didática. A Grécia, berço e fundamento da arte teatral, é detalhada desde o pré-teatro, até as teorias da Poética, de Aristóteles, da tragédia em Ésquilo, Eurípedes e Sófocles, à comédia em Aristófanes. Numa evolução temporal, o teatro em Roma, na Idade Média e no Renascimento são pormenorizados, assim como o Século de Ouro Espanhol e o teatro elisabetano e europeu dos séculos XVI ao XIX. O contexto histórico de cada período introduz a consistente panorâmica, revelando erudição que se transforma em texto límpido e escorreito, sem nós de pedantismo intelectual e cacoetes acadêmicos. Ao se concentrar na análise da produção dramatúrgica, Barbara Heliodora justifica: “O teatro, ou seja, o conjunto de texto e encenação, é uma arte fugidia, pois, infelizmente, deixa de ser teatro mesmo quando é fielmente documentada... Por isso mesmo, a história do teatro é mais a história do texto dramático do que do espetáculo, uma riqueza infelizmente perdida graças à sua própria essência.”