quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Temporada 2014

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (8/1/2014)

Crítica/ Amigo Cyro, Muito Admiro!
O repertório de Cyro Monteiro em torno da mesa de bilhar

Mais um musical biográfico. Entre tantos que invadem os palcos cariocas, repetindo fórmula e retomando modismo, também este em cartaz no Teatro II do CCBB, se atrela a personalidade da música popular brasileira. O personagem da vez, o cantor e compositor Cyro Monteiro, recebeu do autor Rodrigo Alzuguir tratamento reverente, com característica de homenagem, ressaltando o bom caráter do emotivo flamenguista e espirituoso filósofo de botequim. Ao traçar, em vinhetas de texto, a amabilidade e gentileza do cantor que se fazia acompanhar, batucando caixinha de fósforos, Alzuguir introduz trechos das músicas do repertório de quem começou no rádio nos anos 30, e se manteve ativo até o final da década de 60. A sequência da vida, acompanhada das canções, estabelece o bem-humorado e ritmado tempero do musical de bolso, que não aparenta pretender recriar uma época, mas rever temperamentos, do artista e do bom amigo. A ambientação em um bilhar, que evoca a imagem da malandragem carioca, permite ao diretor André Paes Leme utilizar a mesa e seus acessórios (tacos, bolas) como elementos que se incorporam à movimentação dos atores. Em agitada coreografia, o elenco percorre o espaço, decompondo a palavra e o canto em rápidas ações cênicas, que mantêm a intensidade nos 80 minutos do espetáculo. A cenografia de Carlos Alberto Nunes torna possível com os poucos adereços, a circulação dos atores. A iluminação de Renato Machado acompanha o ritmo nervoso sem frenéticas luzes de efeito. Os músicos – Levi Chaves, Lucas Porto, Luis Barcelos (também diretor musical e arranjador) e Marcos Thadeu – padronizam um tanto a sonoridade, sem muitas variações para os diferentes sambas. De certo modo, é o que acontece com o elenco. Com vozes bem ensaiadas, mas sem maior alcance, o quarteto de atores demonstra tendência à uniformizar as interpretações vocais, destacando-se a segurança de Claudia Ventura, apesar do inadequado figurino; a correção de Rodrigo Alzuguir, a maleabilidade corporal de Milton Filho e balanço de Alexandre Dantas.