Crítica do Segundo Caderno de O Globo (8/1/2014)
Crítica/ Amigo
Cyro, Muito Admiro!
O repertório de Cyro Monteiro em torno da mesa de bilhar |
Mais um musical biográfico. Entre tantos que
invadem os palcos cariocas, repetindo fórmula e retomando modismo, também este
em cartaz no Teatro II do CCBB, se atrela a personalidade da música popular
brasileira. O personagem da vez, o cantor e compositor Cyro Monteiro, recebeu
do autor Rodrigo Alzuguir tratamento reverente, com característica de
homenagem, ressaltando o bom caráter do emotivo flamenguista e espirituoso
filósofo de botequim. Ao traçar, em vinhetas de texto, a amabilidade e
gentileza do cantor que se fazia acompanhar, batucando caixinha de fósforos,
Alzuguir introduz trechos das músicas do repertório de quem começou no rádio
nos anos 30, e se manteve ativo até o final da década de 60. A sequência da
vida, acompanhada das canções, estabelece o bem-humorado e ritmado tempero do
musical de bolso, que não aparenta pretender recriar uma época, mas rever temperamentos,
do artista e do bom amigo. A ambientação em um bilhar, que evoca a imagem da
malandragem carioca, permite ao diretor André Paes Leme utilizar a mesa e seus
acessórios (tacos, bolas) como elementos que se incorporam à movimentação dos
atores. Em agitada coreografia, o elenco percorre o espaço, decompondo a palavra
e o canto em rápidas ações cênicas, que mantêm a intensidade nos 80 minutos do
espetáculo. A cenografia de Carlos Alberto Nunes torna possível com os poucos
adereços, a circulação dos atores. A iluminação de Renato Machado acompanha o
ritmo nervoso sem frenéticas luzes de efeito. Os músicos – Levi Chaves, Lucas
Porto, Luis Barcelos (também diretor musical e arranjador) e Marcos Thadeu – padronizam
um tanto a sonoridade, sem muitas variações para os diferentes sambas. De certo
modo, é o que acontece com o elenco. Com vozes bem ensaiadas, mas sem maior
alcance, o quarteto de atores demonstra tendência à uniformizar as
interpretações vocais, destacando-se a segurança de Claudia Ventura, apesar do
inadequado figurino; a correção de Rodrigo Alzuguir, a maleabilidade corporal
de Milton Filho e balanço de Alexandre Dantas.