segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Temporada 2014

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (25/1/2014)

Crítica/ Azul resplendor
Distância estereotipada entre gerações teatrais
A distância sempre lembrada quando das raras aparições de um autor latino- americano por nossos palcos, se amplia, mais do que encurta, ao se conhecer, como agora, o peruano Eduardo Adrianzén, que assina esse melodrama empacotado como comédia dramática. Veterana atriz, afastada do teatro há 30 anos, recebe a visita de ator medíocre, que de posse de herança de um milhão de dólares e com peça especialmente escrita para a sua intérprete favorita, decide oferecer-lhe a montagem. Em meio a ponderações sobre envelhecimento e solidão e impressões ligeiras em torno da prática teatral, os artistas idosos descobrem a falta de lugar onde possam se acomodar, no palco e na vida. A redenção está na união do casal, marcada pela fatalidade da morte. Pieguice à parte, o desencanto de ambos sucumbe ao que é, efetivamente, o centro do entrecho: o que pensa o autor sobre o teatro dos nossos dias. Os dois monólogos, que iniciam e encerram a narrativa, adotam a tonalidade complacente da claridade do título, mas que se apaga como chamas de velas, imagem com que Adrianzén pretende ingenuamente simbolizar o fenecer de existências. O grupo que é contratado para ensaiar a volta da atriz aposentada é transformado em coletivo caricatural, em que o diretor extravagante cobiça a  jovem intérprete, que contracena com o galã musculoso, sob o comando de ressentida produtora. Todos reunidos para conceber um pastiche de supostos códigos cênicos da atualidade. Se houvesse humor menos rasteiro, crítica mais penetrante e estrutura dramatúrgica não tão conservadora, o efeito poderia ser  outro e o alcance bem maior. Os diretores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas estão de acordo no tratamento condescendente de material tão pouco estimulante. Em encenação rotineira, de rarefeita ambientação cênica, os atores se diluem em personagens estereotipados, como os reproduzem Luciana Castro, Felipe Guerra, Luciana Borghi e Dalton Vigh. Renato Borghi não dá cor à palidez do ator frustrado. Eva Wilma aproveita os raros momentos em que a veterana atriz tem oportunidade de situar-se como personagem, como acontece na primeira e na última cena, já que sua participação é pouco exigida e se apaga ao longo do espetáculo.