Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (25/1/2014)
Crítica/ Azul resplendor
A distância sempre lembrada quando
das raras aparições de um autor latino- americano por nossos palcos, se amplia,
mais do que encurta, ao se conhecer, como agora, o peruano Eduardo Adrianzén,
que assina esse melodrama empacotado como comédia dramática. Veterana atriz,
afastada do teatro há 30 anos, recebe a visita de ator medíocre, que de posse
de herança de um milhão de dólares e com peça especialmente escrita para a sua
intérprete favorita, decide oferecer-lhe a montagem. Em meio a ponderações
sobre envelhecimento e solidão e impressões ligeiras em torno da prática
teatral, os artistas idosos descobrem a falta de lugar onde possam se acomodar,
no palco e na vida. A redenção está na união do casal, marcada pela fatalidade
da morte. Pieguice à parte, o desencanto de ambos sucumbe ao que é,
efetivamente, o centro do entrecho: o que pensa o autor sobre o teatro dos
nossos dias. Os dois monólogos, que iniciam e encerram a narrativa, adotam a
tonalidade complacente da claridade do título, mas que se apaga como chamas de
velas, imagem com que Adrianzén pretende ingenuamente simbolizar o fenecer de
existências. O grupo que é contratado para ensaiar a volta da atriz aposentada
é transformado em coletivo caricatural, em que o diretor extravagante cobiça a
jovem intérprete, que contracena com o galã musculoso, sob o comando de
ressentida produtora. Todos reunidos para conceber um pastiche de supostos
códigos cênicos da atualidade. Se houvesse humor menos rasteiro, crítica mais
penetrante e estrutura dramatúrgica não tão conservadora, o efeito poderia ser
outro e o alcance bem maior. Os diretores Renato Borghi e Elcio Nogueira
Seixas estão de acordo no tratamento condescendente de material tão pouco
estimulante. Em encenação rotineira, de rarefeita ambientação cênica, os atores
se diluem em personagens estereotipados, como os reproduzem Luciana Castro, Felipe
Guerra, Luciana Borghi e Dalton Vigh. Renato Borghi não dá cor à palidez do
ator frustrado. Eva Wilma aproveita os raros momentos em que a veterana atriz
tem oportunidade de situar-se como personagem, como acontece na primeira e na
última cena, já que sua participação é pouco exigida e se apaga ao longo do
espetáculo.