Crítica/ Casarão
ao Vento
O texto de Francisco Alves, em cartaz no Teatro
III do CCBB, foi premiado na etapa Rio, há outra Brasília, da sexta edição do
prêmio Seleção Brasil em Cena, que este ano recebeu mais de 250 originais. É
difícil avaliar, que tanto o júri, que escolhe 12 finalistas, quanto as
plateias das leituras dramáticas, que apontam o vencedor, como se chegou a esse
resultado. É quase um exercício de imaginação considerar que uma peça com
características tão pouco criativas como dramaturgia e nada originais como
desenvolvimento dramático, tenha sido considerada a mais destacada entre tantas.
Não há como imaginar as demais, mas pela amostragem da vencedora, só resta se
solidarizar com as comissões pela árdua tarefa de decidir-se pelo resultado
final. O autor parece ter condensado uma série de influências dispersas, sendo
incapaz de costurá-las na trama, irremediavelmente, corriqueira. O confinamento
de mulheres em um casarão afastado, numa geografia desconhecida, num tempo vago
(pelo figurino, provavelmente no século XIX), submetidas à opressão de
um pai bêbado e devasso, que as mantêm sob a proteção de uma matrona que, por sua
vez, foi sua amante. À espera do dia do casamento, cada uma desfia as suas
frustrações; da menina de 12 anos à jovem com ideias libertárias, passando pela
irmã acomodada. E pairando sobre elas, a filha que foi violentada pelo pai e
declarada louca. Esse melodrama, de verniz rodriguiano e pátina folhetinesca,
tem a pretensão de fazer a defesa das mulheres que sofrem com a dominação
masculina. Nada mais defensável, mas por que razão usar recursos tão anacrônicos
e diálogos tão rasteiros para defender a causa?
Nesta
desequilibrada mistura de vagas lembranças de Lorca e de leitura aligeirada de
Lúcio Cardoso, resta a dúvida de como Casarão
ao Vento venceu a corrida pelo pódio na maratona dos 250 textos. O diretor
Marco André Nunes se mostra um tanto deslocado diante do material inexpressivo e
das restritas possibilidades de insuflar vida a tão pálida escrita. Até tenta,
mas os recursos para superar as limitações, caem no vazio texto e na restrita
capacidade do elenco em projetar algo além de sua fragilidade.