Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (22/1/2014)
Crítica/ Callas
Fernando Duarte, autor de “Callas” deixa evidente
a sua admiração pela soprano, endeusada por melômanos e cultuada pelo
temperamento de diva. O esboço dramático, que traça entre a cantora e o curador
da exposição de figurinos usados em óperas pelo mundo, propõe-se como pretexto
para estabelecer acúmulo de informações sobre as fragilidades da mulher frente
ao mito. Nos diálogos entre o fã e a estrela são repassados os momentos de
crise amorosa, rejeição afetiva, competição e declínio da carreira, distribuindo
os dados biográficos por perguntas protocolares , tendo sempre divagações como
respostas. Para reafirmar algumas passagens de vida, frases mais candentes são
projetadas no cenário, complementando imagens de participação de Maria Callas
em óperas, al mare com Onassis e outras
tantas apoteoses consagradores, em registro factual que contracena ilustrativamente
com a narrativa. Duarte situa essa recolha de fragmentos pessoais, no dia que
antecede a morte de Callas, como para reviver a cronologia das lembranças. Sem
tensão e modulações, o texto avança em pequenos monólogos em série, reduzindo a
dimensão da personagem a revelação fotográfica de uma pesquisa. O cenário de
Rafael Guedes se mostra mais como projeto para acomodar as projeções, do que
propriamente como solução cênica. O figurino de Sonia Soares recria modelos
originais com qualidade de confecção. Marília Pêra na direção parece evocar um
certo tradicionalismo, ao imprimir ao casal de intérpretes impostação rígida,
pausas alongadas e gesticulação eloquente. A diretora, talvez, tenha adotado
essa linha em função da visível inexperiência do elenco, demonstrada na
dificuldade de desenhar os movimentos e encontrar
nuances. As tentativas de dar corpo às vozes, como nas mudanças de trajes, na
gargalhada sugerida, no silêncio prolongado
entre frases e nos gestos esboçados, se perdem pela insegurança dos atores em percorrer,
sem revelar o esforço construtivo, cada
uma das suas intervenções. Cássio Reis assume o papel de escada, tornando ainda mais secundária a figura do curador. Silvia
Pfeiffer se conduz com obediência mecânica às propostas da direção.