Teatro
em Palavras e Imagens
Os movimentos internos do teatro
carioca na temporada 2013 foram cautelosos, mas apontaram para algumas
possibilidades exploratórias na dramaturgia e na ampliação dos recursos da
cena. Foi o ano do estabelecimento de uma geração de autores, em torno dos 30
anos, que expandiram seu universo dramático em textos que confirmaram
potencialidades. Jô Bilac, com Conselho
de Classe, e em menor escala em Fluxorama,
se reconcilia com a dramaturgia, depois de alguns textos pretensiosamente
inovadores. Em Conselho de Classe,
que marcou de maneira brilhante os 25 anos e a volta da Cia. dos Atores, Bilac
fotografa com aguda observação e pertinente sentido crítico o estado agônico da
educação. Julia Spadaccini também se
destacou na temporada em três montagens (Porta
da Frente, Aos Domingos e Um Dia
Qualquer) que demonstraram a sua
constante e crescente afinação de meios e alcance de sua linguagem. Renata
Mizrahi se consolidou em textos de gêneros e ambições, às vezes até
excludentes. Do realismo de Os Sapos à
narrativa de relacionamento de Caixa de Phosphorus e aos esquetes de Sarau das Putas, Mizrahi confirmou sua
versatilidade. Daniele Ávila Small surpreendeu com o pouco visto Garras
Curvas e um Canto Sedutor, encontrando originalidade dramática e
expressão autoral através de veios literários. Rodrigo Portela, a partir de Três Rios, mostrou
que está construindo dramaturgia cênica despojada, simples e autoral, como
atestam Antes da Chuva e Uma História Oficial. Diogo Liberano,
que se revelou na temporada anterior com Sinfonia
Sonho, transitou este ano entre poética do social em Maravilhoso, laboratório de formas em LaborAtorial e adaptação de romance em Vermelho Amargo, sempre com estimulante
inquietação. O diretor-autor Moacir Chaves explorou, uma vez mais, a narrativa
documentada para criar contundente espaço cênico em O Controlador de Tráfego Aéreo. Mas sem dúvida, o grande texto da temporada, Incêndios, veio do exterior e é assinado por Wadji
Mouawad. Tragédia contemporânea com ressonâncias na grega, o texto do autor
libanês percorre o desconhecido em busca da verdadeira origem com poética
rascante e tragicidade impiedosa.
Vermelho Amargo: cenário mutante |
O
visual, indissoluvelmente integrado à cena, à serviço da linguagem e com forte
presença dramática pôde ser visto em montagens de gêneros e estilos bem
diversos. Em Conselho de Classe,
Aurora dos Campos projetou em traços realistas ginásio esportivo de escola
pública como ambientação viva dos
conflitos. Rui Cortez desenhou o cenário de Moi
e Lui com a sutileza subterrânea exigida por Beckett, com elementos que
apontam, sem sublinhar. A iluminação desta montagem dirigida e adaptada por
Isabel Cavalcante, tem iluminação prodigiosa de Tomás Ribas, na qual o sombrio que aclimata contrasta com
luminosidade que explode em momento especialmente denso. A cenografia de Bia
Junqueira para As Mulheres de Grey
Gardens, além de resolver com
projeções a mudança de ambientes, construiu instalação
de impacto que conferiu maior dramaticidade ao musical. Bia também foi
responsável pelo melhor cenário do ano ao, praticamente codirigir Vermelho Amargo com sua concepção
mutante de mandala, que se transforma em parangolé
para que surja um quadro ilusório. Mais
do que um belo efeito estético, uma inteligente leitura visual do
texto. A cenografia de Rogério Falcão para Como Vencer na Vida Sem Fazer Força, com
imponente entrada art-deco do edifício, painéis móveis que compõem os diversos
ambientes e o hall dos elevadores criou cena límpida, decorativa, ampla e funcional.
É a partir das imagens verbais do autor canadense Daniel MacIvor em Cine Monstro, que Enrique Diaz, diretor
e ator, percorreu histórias e atalhos que conduziram à retaliação do corpo
narrativo, em que palavras ganharam contornos físicos.
Com curadoria da
cenógrafa Lidia Kosovski a exposição A Mão livre de Luiz Carlos Ripper, que esteve por curtíssimoa tempo no Centro Cultural dos
Correios, não apenas fez balanço da fértil produção de cenografia, figurino e
direção do criador do espaço renovador do Teatro Ipanema na década de 70 para a celebração de Hoje É Dia de Rock, como dimensionou a sua inventividade também no
cinema.