Crítica/ Vampiras
Lésbicas
Cabaré-revista-show com data de vencimento |
O conceito da ocupação Câmbio, que programa o
Teatro Café Pequeno, onde pode ser visto esse musical saído da mesma fôrma do
Teatro do Ridículo de Nova Iorque (o responsável pelo sucesso de Irma Vap), é de utilizar o espaço
condensado da casa de espetáculos para afirmar a sua vocação de cabaré teatral.
Em mais uma tentativa, o diretor e tradutor Jonas Klabin encena no ambiente de
bolso do teatrinho do Leblon comédia com música, vagamente inspirada em filmes
de terror e na cultura gay hollywoodiana, para satirizar, com tom de deboche, a
vulgaridade camp e a dualidade
sexual. Um estilo que nos anos 80 até alcançou algum êxito em escala
internacional, mas que atualmente deixa a certeza de que o gênero está
ultrapassado, entre outras razões, pelo desgaste de uso e repetição de fórmula.
Klabin se cercou de bem definida direção
de arte de Marta Reis, iluminação vibrante de Luiz Paulo Nenen e competente direção
musical e piano de Davi Guilherme. Esse apoio técnico garante que a leveza da
montagem não seja comprometida pela tentativa de exagerar no aspecto crítico e
bizarro. Na primeira parte, quando a historieta da rivalidade das vampiras vai
até os primórdios da desavença, nem sempre se consegue manter o clima de
diversão. Já na segunda, pela condensação da trama nos termos de um cabaré-revista-show, Vampiras Lésbicas se aproxima mais do espírito de humor nacional. Marya
Bravo canta Masculino-Feminino com a
mesma ironia da sua letra inteligente. E
Thiago Chagas faz uma bem humorada imitação das entonações vocais de Fernanda
Montenegro.
Crítica/ Quando a
Gente Ama
O leit
motiv é o repertório de músicas de
dor de cotovelo do compositor Arlindo Cruz, reunido pelo autor e diretor João
Batista em torno de roda de samba e a pretexto de encenar ritmo e, em especial, letras do sambista. Em
cartaz no Teatro Sesc Ginástico, Quando a
Gente Ama se divide em quadros que dramatizam, antecipando, as canções, o
embate de sentimentos em que o jogo amoroso se submete a provas de resistência
e durabilidade. No universo musical de Cruz, a permanência do amor, não importa
as vicissitudes pelas quais passe, sobrevive ao ciúme, à rejeição, à paixão e ao casamento. Este escalonamento de afetos,
conduzido por sambas cariocas de marcada sonoridade suburbana, ganha a cena
introduzido por situações que ecoam aquilo que se cantará em seguida. São mais
de uma dezena de quadros que percorrem, como num pagode de fundo de quintal, na
musicalidade e no estilo da atuação, a produção do compositor. Antes de parecer
repetitiva e extensivamente uniforme, essa sequência de cenas intercalando as músicas
vai, ao longo da montagem, adquirindo autonomia expressiva e adensamento teatral,
que envolve, progressivamente, a plateia. Com visual de simplicidade
sofisticada, assinado por Doris Rollemberg, iluminação igualmente requintada,
de Renato Machado, e figurino de Mauro Leite, que veste as elegantes atrizes, o
espetáculo tem ótima direção musical e arranjos de Marcelo Alonso Neves, que
comanda o som vigoroso dos cinco músicos do conjunto. No integrado elenco, a
voz de Wladimir Pinheiro é destaque pelo excelente timbre. Édio Nunes, David
Junior e Milton Filho garantem a qualidade vocal dos intérpretes masculinos..
Entre as atrizes. Cris Vianna é uma bela presença no palco, enquanto Vilma Melo
conduz-se com segurança na cena da amante desprezada, assim como Patrícia Costa
ao interpretar o arrefecimento do relacionamento. Em plano mais discreto,
Jéssica Moraes.
Crítica/ Intimidades
Neste texto de Gustavo Machado, em cartaz no
Teatro Glaucio Gil, um casal se defronta com a sua impossibilidade de conviver.
Cada um, das cordas do ringue matrimonial, parte para a luta destruidora para
abater o adversário, no passado o objeto
amoroso. Os assaltos desse confronto, se repetem com alguma monotonia, sem
levar nenhum dos combatentes à lona. Num caudal de palavras, muitas banais,
algumas falsamente agressivas, os diálogos se voltam para a circularidade de
situação única, sem que haja crescendo ou
movimentos flexionados de ataque e defesa. As imagens verbais são extremados
lugares comuns ao citar provérbios e atitudes que se desviam do centro do
entrecho. Há um descarnamento dos personagens, enquadrados em categorias de
comportamento (mulher neurotica x homem fraco, acúmulo de frustrações de casal x
perda de identidade individual). O diretor Bruce Gomlevsky desenhou a montagem
como coreografia de opostos, figurando a luta como balé de contrários. De certa
maneira, foi o que Gomlevsky parece ter escolhido para encontrar a ação interna , e deste modo atenuar a
aridez emocional do texto. O cenário de Nello Marrese, que se desvenda ao longo da encenação, cria num primeiro momento
forte efeito onírico, se esvaziando, no entanto, pela utilização pouco
inspirada em várias cenas depois. A iluminação de Elsa Tandeta aproveita bem a
construção cenográfica. O casal de atores – Roberta Alonso e Joaquim Lopes – se
mostra bem ensaiado ainda que não alcance a humanidade daqueles que
interpretam, mesmo considerando os
limites dos seus personagens.
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