terça-feira, 17 de dezembro de 2013

41ª Semana da Temporada 2013


Crítica/ Vampiras Lésbicas
Cabaré-revista-show com data de vencimento
O conceito da ocupação Câmbio, que programa o Teatro Café Pequeno, onde pode ser visto esse musical saído da mesma fôrma do Teatro do Ridículo de Nova Iorque (o responsável pelo sucesso de Irma Vap), é de utilizar o espaço condensado da casa de espetáculos para afirmar a sua vocação de cabaré teatral. Em mais uma tentativa, o diretor e tradutor Jonas Klabin encena no ambiente de bolso do teatrinho do Leblon comédia com música, vagamente inspirada em filmes de terror e na cultura gay hollywoodiana, para satirizar, com tom de deboche, a vulgaridade camp e a dualidade sexual. Um estilo que nos anos 80 até alcançou algum êxito em escala internacional, mas que atualmente deixa a certeza de que o gênero está ultrapassado, entre outras razões, pelo desgaste de uso e repetição de fórmula. Klabin se  cercou de bem definida direção de arte de Marta Reis, iluminação vibrante de Luiz Paulo Nenen e competente direção musical e piano de Davi Guilherme. Esse apoio técnico garante que a leveza da montagem não seja comprometida pela tentativa de exagerar no aspecto crítico e bizarro. Na primeira parte, quando a historieta da rivalidade das vampiras vai até os primórdios da desavença, nem sempre se consegue manter o clima de diversão. Já na segunda, pela condensação da trama nos termos de um cabaré-revista-show, Vampiras Lésbicas se aproxima mais do espírito de humor nacional. Marya Bravo canta Masculino-Feminino com a mesma ironia da sua letra inteligente. E Thiago Chagas faz uma bem humorada imitação das entonações vocais de Fernanda Montenegro.       
  
Crítica/ Quando a Gente Ama
Dores de amor em ritmo de samba
O leit motiv  é o repertório de músicas de dor de cotovelo do compositor Arlindo Cruz, reunido pelo autor e diretor João Batista em torno de roda de samba e a pretexto de encenar  ritmo e, em especial, letras do sambista. Em cartaz no Teatro Sesc Ginástico, Quando a Gente Ama se divide em quadros que dramatizam, antecipando, as canções, o embate de sentimentos em que o jogo amoroso se submete a provas de resistência e durabilidade. No universo musical de Cruz, a permanência do amor, não importa as vicissitudes pelas quais passe, sobrevive ao ciúme, à rejeição, à paixão e  ao casamento. Este escalonamento de afetos, conduzido por sambas cariocas de marcada sonoridade suburbana, ganha a cena introduzido por situações que ecoam aquilo que se cantará em seguida. São mais de uma dezena de quadros que percorrem, como num pagode de fundo de quintal, na musicalidade e no estilo da atuação, a produção do compositor. Antes de parecer repetitiva e extensivamente uniforme, essa sequência de cenas intercalando as músicas vai, ao longo da montagem, adquirindo autonomia expressiva e adensamento teatral, que envolve, progressivamente, a plateia. Com visual de simplicidade sofisticada, assinado por Doris Rollemberg, iluminação igualmente requintada, de Renato Machado, e figurino de Mauro Leite, que veste as elegantes atrizes, o espetáculo tem ótima direção musical e arranjos de Marcelo Alonso Neves, que comanda o som vigoroso dos cinco músicos do conjunto. No integrado elenco, a voz de Wladimir Pinheiro é destaque pelo excelente timbre. Édio Nunes, David Junior e Milton Filho garantem a qualidade vocal dos intérpretes masculinos.. Entre as atrizes. Cris Vianna é uma bela presença no palco, enquanto Vilma Melo conduz-se com segurança na cena da amante desprezada, assim como Patrícia Costa ao interpretar o arrefecimento do relacionamento. Em plano mais discreto, Jéssica Moraes.        
  
Crítica/ Intimidades
Casal numa coreografia de movimento estático
Neste texto de Gustavo Machado, em cartaz no Teatro Glaucio Gil, um casal se defronta com a sua impossibilidade de conviver. Cada um, das cordas do ringue matrimonial, parte para a luta destruidora para abater o adversário, no passado o objeto amoroso. Os assaltos desse confronto, se repetem com alguma monotonia, sem levar nenhum dos combatentes à lona. Num caudal de palavras, muitas banais, algumas falsamente agressivas, os diálogos se voltam para a circularidade de situação única, sem que haja crescendo ou movimentos flexionados de ataque e defesa. As imagens verbais são extremados lugares comuns ao citar provérbios e atitudes que se desviam do centro do entrecho. Há um descarnamento dos personagens, enquadrados em categorias de comportamento (mulher neurotica x homem fraco, acúmulo de frustrações de casal x perda de identidade individual). O diretor Bruce Gomlevsky desenhou a montagem como coreografia de opostos, figurando a luta como balé de contrários. De certa maneira, foi o que Gomlevsky parece ter escolhido para encontrar a ação interna , e deste modo atenuar a aridez emocional do texto. O cenário de Nello Marrese, que se desvenda  ao longo da encenação, cria num primeiro momento forte efeito onírico, se esvaziando, no entanto, pela utilização pouco inspirada em várias cenas depois. A iluminação de Elsa Tandeta aproveita bem a construção cenográfica. O casal de atores – Roberta Alonso e Joaquim Lopes – se mostra bem ensaiado ainda que não alcance a humanidade daqueles que interpretam, mesmo considerando  os limites dos seus personagens.      


                                                        macksenr@gmail.com