Crítica/ Feliz
Por Nada
A adaptação teatral de livro de Martha Medeiros,
em cartaz no Teatro das Artes, captura o espírito da escrita da autora gaúcha. Cronista
da vida contemporânea, registrando as transformações de comportamento e
buscando “falar com o leitor”, Martha interpreta desejos e frustrações, capta
impressões, estabelece conversas. Em Feliz
Por Nada trata da amizade feminina construída na convivência das
diferenças, perturbada por presença masculina potencialmente desagregadora. Com
trama que não se caracteriza pela coerência de atitudes e pelo traço menos
esquemático das personagens, o texto em cena, assinado por Regiana Antonini, se
assemelha a compilação de conselhos de revistas femininas de como as mulheres
devem enfrentar as dificuldades afetivas. As amigas que se encontram no
aeroporto de Tóquio, e a partir de então desenvolvem relacionamento sustentado,
não se sabe muito bem em que, se tornam vozes para demonstrar as peculiaridades
de personalidades unidas pelo eterno
feminino. Com material dramatúrgico pouco estimulante, o
diretor Ernesto Piccolo seguiu a compartimentação das cenas entre monólogos explicativos,
e diálogos reiterativos, e centrou nas duas atrizes a possibilidade de dar mais
agilidade aos quadros. Sem qualquer cenário, e utilizando o palco largamente
horizontalizado, Piccolo provoca um entra e sai, que complementa com tentativas
de ocupar a totalidade do espaço, com o uso do fundo e do proscênio, o que não
resulta, mesmo com a contribuição da luz de Aurelio di Simoni. A participação
de Felipe Cunha, quase episódica, é o frágil contraponto masculino para que
Luiza Thiré e Cristiana Oliveira reproduzam o tênue jogo feminino do texto.
Ambas, com bons momentos de humor e alguma tensão um tanto deslocada, conseguem
projetar as diferenças e afinidades das amigas em atuações convencionais, mas
convincentes.