Crítica/ Camille
et Rodin
A turbulenta história de amor, ciúmes, loucura e competição entre os
escultores Auguste Rodin e Camille Claudel ganha versão de Franz Keppler, que
se mantém, comportadamente, na apropriação de fatos, em contrapartida à
interpretação de temperamentos. O confinamento de Camille em hospital
psiquiátrico por longos anos se interpõe ao seu encontro com Rodin em seu
ateliê e às crises amorosas e de criação que esculpiram as quase duas décadas
de convivência. O autor reduz o choque de personalidades em estado de
ebulição a diálogos sentenciosos sobre o papel em segundo plano da mulher e da
artista diante do homem e do gênio, num sucessivo debate de palavras, distante
dos sentimentos que pretenderia representar. Os personagens reais emanam paixão
e o que revelam em cena se restringe a uma discussão de um casal em atrito,
longe da exaltação da dupla de artistas que se defronta com tantas dúvidas, nem
todas muito nobres. O diretor Elias Andreato impõe à montagem o rigor da
correção, procurando manter-se na linha reta de códigos convencionais, sem
permitir- se desvios que contornem a flacidez da dramaturgia. A tentativa da
direção de criar imagens corporais e movimentos de mãos, que indicariam metafóricas
posições escultóricas, se mostram insuficientes para figurar a passionalidade e
o atormentado percurso de forças vitais da criação. A cenografia de Marco Lima
confere atmosfera aos dois ambientes (o quarto do hospital e o ateliê), ligados
por portas que se abrem e fecham com bom efeito dramático. Na mesma linha correta
da encenação, o figurino de Marichilene Artisevskis veste com a costura da
época. Leopoldo Pacheco vive um Rodin pouco sanguíneo, equidistante dos
conflitos que assaltam o personagem, e sem a leveza necessária para reproduzir
corporalmente o desenho das mãos. Melissa Vettore, ao contrário, expande-se
demais, tanto nos meneios de corpo, quanto na agitação das mãos, numa nervosa
interpretação, dissociada de base de atuação com maior solidez
construtiva.