Crítica do Segundo Caderno de O Globo (30/3/2014)
Crítica/ Se eu Fosse Você – O Musical
Tal como na troca de corpos dos personagens, Se eu Fosse Você, o Musical faz um intercâmbio de gêneros, modifica vozes e inverte papéis em
enredo de encaixes que procura repetir o sucesso do filme que o inspirou. A
comédia cinematográfica se transforma em libreto, que é apoiado por repertório musical
preexistente, ilustrativo para situações e diálogos um tanto impermeáveis à transferência
de linguagens. O roteiro de Flavio Marinho costura com a habilidade possível
diante dos condicionantes da tela (a trama e o êxito) e das canções de Rita Lee
(a marca e a popularidade) alguma autonomia expressiva, que se perde na incompatibilidade
das partes em harmonizar o todo. A montagem, dirigida e coreografada por Alonso
Barros, também demonstra estar destinada a repetir fórmulas e confirmar referências, sem qualquer sinal
a indicar intenção de recriar com menos convencionalismo. A impressão é a de
que se assiste a um produto reciclado,
que cada elemento em cena reproduz algo já visto. O cenário, com excesso de
dispositivos que circulam pelo palco e com projeções que simplificam mais ainda
a pálida ambientação, lembra visuais de tantos outros musicais. A coreografia, que
faz várias citações, segue passos bem tradicionais. O figurino bastante
colorido na sua indefinição estilística monocromática relembra roupas
descaracterizadas no tempo. A comédia em si procura ter vida cênica própria, em
paralelo ao aspecto espetacular do musical, acentuando o descompasso entre os
gêneros. A extensa introdução até a mudança dos corpos, a chave de humor da
narrativa, se torna pretexto para a inserção das vinhetas musicais, o que alonga a duração do espetáculo e dilui o
efeito cômico. A direção musical de Guto Graça Melo encontra padronização
sonora que permite tratamento teatral às canções, desprendidas dos arranjos
originais da cantora-compositora. O elenco de 24 atores-cantores-bailarinos cumpre
com disciplina física e técnica vocal as exigências de compor conjunto cenicamente
equilibrado. Atores – Osvaldo Mil, Nicola Lama, Bruno Sigrist, Carlos Arruza,
Giselle Lima e Carla Daniel – em participações divertidas, intérpretes com excelentes
vozes – Kacau Gomes, Marya Bravo e Lua Branco -, atriz de recursos cômicos –
Fafy Siqueira – e a presença do casal protagonista – Claudia Netto e Nelson Freitas – sustentam a atabalhoada
transcrição nacional do que se convencionou chamar de comédia musical em
teatros anglo-saxões.