Crítica/ A Bala na Agulha
Tiros dramáticos em alvos dispersos |
O texto
de Nanna de Castro, em cartaz na Arena do Espaço Sesc, procura acertar um tiro,
não muito certeiro, em vários alvos, dos quais o teatro é o maior centro. Um
ator veterano, doente e sem trabalho, ensaia Esperando Godot, com jovem galã de televisão, a quem ameaça com uma
arma, praguejando contra sua inexperiência e inteligência. A chegada de uma
atriz, que tem relações amorosas com ambos, acrescenta pouca tensão à trama, em
que trechos de peças (Macbeth, Casa de Bonecas) procuram, com paralelismo
dramatúrgico, contrapontos com a ação. O entrecho evoluiu com as poucas tramas secundárias (sem suspense nas ameaças, continuidade na decadência do velho ator
e força dramática nas inserções), perdidas pela falta de domínio narrativo da
autora. Ingênua e desequilibrada na sua construção, incapaz de chegar à plateia
com um mínimo de verismo dramático, a narrativa se estende sem modulações que
permitam tornar menos superficiais os perfis dos personagens. A direção burocrática
de Otávio Martins atinge ainda o elenco, em que Alexandre Slaviero acentua o
pouco brilho do jovem galã, Denise del Vecchio não ultrapassa com atuação
convencional a linearidade do papel da atriz, e Eduardo Semerjian se lança em
interpretação intensa para personagem que se avizinha ao implausível.