3ª Cena
Brasil Internacional
O gesto físico ao encontro do movimento interior |
Dos à
Deux – Segundo Ato é a recriação
do primeiro espetáculo da dupla Artur Ribeiro e André Curti, estreado em 1998,
e que daria o nome do grupo em atividade até hoje, na França e no Brasil. Assistir
ao início do trabalho de criação de Ribeiro e Curti só confirma a base sólida
sob a qual se estabelece trajetória de coerência estilística e de permanente
investigação dos fundamentos expressivos. Nesta montagem, os personagens
evocam Esperando Godot e a ambientação lembra imagens de
Beckett, mas o tempo cênico é marcado por poética agridoce própria, na qual o
gesto físico busca figurar o movimento interior. Os dois vagabundos, soltos sob
uma árvore seca, se debatem numa constante disputa por pequenas conquistas em interminável
procura de um lugar de precedência no nada. Com dois dispositivos cênicos
(cadeiras que se desdobram em formas geometricamente mutáveis), iluminação de
sensíveis zonas de sombras e de luminosidade e música essencial à atuação sem
palavras (trilha e composições originais de Fernando Mota), os dois atores
franceses, Clément Chaboche e Guillaume le Pape, que substituem Ribeiro e Curti,
intérpretes da versão original, reproduzem o fluxo de movimentos que constroem tão
refinadamente a narrativa. Para além da segurança técnica na realização desse
balé-malabarista-corporal-tragicômico, Chaboche e Pape desempenham uma
coreografia dramatúrgica em que os gestos nascem de uma ideia cênica, que se
transforma em outra, sem que o espectador se dê conta da passagem. É um
turbilhão gestual que retira da ação física sua projeção dramática e poética. Dos à Deux – Segundo Ato traçou os rumos
de um grupo que com o seu último espetáculo, Irmãos de Sangue, demonstrou que, se mantendo fiel ao primeiro
impulso, encontrou forças renovadoras para demarcar, na décima montagem depois,
a sua vigorosa permanência.