sábado, 19 de abril de 2014

Temporada 2014

Crítica/ E se Elas Fossem para Moscou? (Filme)
Um filme que se constrói no palco...
 
e desvenda tensão na tela
Na sua face cinema, com a exibição do filme na Sala Multiuso, que tem as suas imagens captadas na encenação de E se Elas Fossem para Moscou, que acontece no Mezzanino, se estabelece uma simultaneidade determinada pelo tempo das ações, separado pela distância física (uma sala fica acima da outra no Espaço Sesc), aproximando-os pela possibilidade de receber a mesma montagem filtrada por duas técnicas: cinema e teatro. Ao espectador é oferecida, no palco, a teatralização do filme, que se constrói como edição da cena que se faz linguagem como preparação (cenário/set, participação da plateia como figuração e paralelismo na atuação do elenco) para a obra fílmica. (Leia a crítica sobre a encenação na postagem de 20 de março). São dois momentos autônomos, mas indissolúveis como elementos que geram criações interdependentes, tanto que não podem ser vivenciados juntos: separados pela utilização de dois espaços, unidos pela duração comum. E é exatamente nesta correlação de tempo compartilhado e espaço a ser conquistado, que a diretora Christiane Jatahy avança na investigação cine-teatral, que desenvolve há pelo menos quatro montagens. Baseado em As Três Irmãs, de Anton Tchekov, a encenação propõe com os meios expressivos que servem a estruturação do filme, um relativo esmaecimento do núcleo dramático, no qual as personagens procuram algo que nunca atingem, imobilizadas por inação emocional. A preparação das cenas, cortadas pela necessidade da edição de um filme, que se sabe está sendo realizado e que é a razão mesma deste teatro filmado a que se assiste no palco, estilhaça a tensão dramática ao ponto de fragmentá-la em quadros que se montam continuamente para registro das imagens. Ao contrário, ao se ver o resultado na tela, em que as cenas já estão decupadas, eliminada a presença do público, dos contrarregras, reduzida a intervenção masculina, e enquadrado o cenário, a tensão se estabelece com maior intensidade em closes techecovianos. A forma como os dois planos tornam possível a percepção de forças dramáticas diversas (mais apagada no teatro e mais condensada no cinema) se reflete, decisivamente, na avaliação do trabalho das atrizes. Ainda que ao mesmo tempo, as mesmas atuações ganham outra perspectiva. É possível reavaliar as interpretações sob a ótica de cada meio:  Julia Bernart se desloca para a área de contracena; Stella Rabello movimenta-se numa zona de sombra e Isabel Teixeira assume protagonismo de primeiros planos.