quarta-feira, 23 de abril de 2014

Festivais

3ª Cena Brasil Internacional

A terceira edição do festival Cena Brasil Internacional, que ocupa o Centro Cultura Banco do Brasil e a praça dos Correios ao lado, está menor em tamanho em relação às versões anteriores, mas mantém conceito de curadoria que aponta para espetáculos brasileiros produzidos por grupos estabelecidos e que estão no repertório das companhias há alguns anos. Ainda que a maioria não tenha sido vista pela plateia do Rio, uns poucos já fizeram apresentações na cidade, como O Gigante da Montanha, do mineiro Galpão e Sua Incelença, Ricardo III, do potiguar Clowns de Shakespeare.
Efeitos encantatórios de uma tragédia
O picadeiro belamente mambembe, onde transcorre a tragicomédia de um Ricardo III nordestinamente circense do grupo do Rio Grande do Norte, ambienta essa transcrição da vilania do personagem shakesperiano para o clownesco e a grandiloquência do circo-teatro. Justificando, explicitamente, o seu nome, o grupo incorporou o universo nostálgico-visual de Gabriel Villela, refinando com  poética ingênua, a tragédia que se realiza em interposta narrativa. Não é mais a tragédia clássica, menos ainda reinterpretação à procura de dar outro sentido ao trágico, mas o desenvolvimento de linguagem sobre  a  qual se constrói a cena. As máscaras e a música, as pantomimas dos palhaços e a ourivesaria da estética sertaneja, desestruturam o ritualismo do teatro clássico e o sombrio do elizabetano para retomar a representação como experiência formal, que se erige como um valor em si mesmo. Nada se perde, algo se acrescenta. Shakespeare não sai diminuído, e a imagética e o universo de Villela se confirmam, provocando reação encantatória na plateia.
Delicada ponte de afetos com tempo marcado

Da abertura da mostra, na terça-feira, até o dia 4 de maio, quando termina, está  se apresentando a intervenção Todo lo que está a mi lado, do argentino Fernando Rúbio, que reúne na rotunda do CCBB sete camas de casal, nas quais sete espectadores se deitam ao lado de sete atrizes para compartilhar texto evocativo da passagem do tempo. Por apenas dez minutos, as atrizes sussurram uma vaga história sobre a infância, aparentemente à espera de que o espectador que está tão próximo, reaja, no plano emocional, ao que ouve. Pelo caráter quase memorialístico do texto, a eventual tensão dramática que a proximidade física possa estabelecer como intimidade, se concretiza (e cada espectador reage de uma maneira) com suaves toques que criam delicada ponte de afetos com tempo marcado. Uma experiência de ação vivencial teatralizada através da privacidade dos meios expressivos.