3ª Cena
Brasil Internacional
A terceira edição do festival Cena Brasil
Internacional, que ocupa o Centro Cultura Banco do Brasil e a praça dos
Correios ao lado, está menor em tamanho em relação às versões anteriores, mas
mantém conceito de curadoria que aponta para espetáculos brasileiros produzidos
por grupos estabelecidos e que estão no repertório das companhias há alguns
anos. Ainda que a maioria não tenha sido vista pela plateia do Rio, uns poucos
já fizeram apresentações na cidade, como O
Gigante da Montanha, do mineiro Galpão e Sua Incelença, Ricardo III, do potiguar Clowns de Shakespeare.
Efeitos encantatórios de uma tragédia |
O picadeiro belamente mambembe, onde
transcorre a tragicomédia de um Ricardo III
nordestinamente circense do grupo do Rio Grande do Norte, ambienta essa transcrição
da vilania do personagem shakesperiano para o clownesco e a grandiloquência do
circo-teatro. Justificando, explicitamente, o seu nome, o grupo incorporou o
universo nostálgico-visual de Gabriel Villela, refinando com poética
ingênua, a tragédia que se realiza em interposta narrativa. Não é mais a
tragédia clássica, menos ainda reinterpretação à procura de dar outro sentido
ao trágico, mas o desenvolvimento de linguagem sobre a qual se
constrói a cena. As máscaras e a música, as pantomimas dos palhaços e a
ourivesaria da estética sertaneja, desestruturam o ritualismo do teatro
clássico e o sombrio do elizabetano para retomar a representação como
experiência formal, que se erige como um valor em si mesmo. Nada se perde, algo
se acrescenta. Shakespeare não sai diminuído, e a imagética e o universo de
Villela se confirmam, provocando reação encantatória na plateia.
Delicada ponte de afetos com tempo marcado |
Da abertura da mostra, na terça-feira, até o
dia 4 de maio, quando termina, está se
apresentando a intervenção Todo lo que
está a mi lado, do argentino Fernando Rúbio, que reúne na rotunda do CCBB
sete camas de casal, nas quais sete espectadores se deitam ao lado de sete
atrizes para compartilhar texto evocativo da passagem do tempo. Por apenas dez
minutos, as atrizes sussurram uma vaga história sobre a infância, aparentemente
à espera de que o espectador que está tão próximo, reaja, no plano emocional,
ao que ouve. Pelo caráter quase memorialístico do texto, a eventual tensão dramática que a proximidade
física possa estabelecer como intimidade,
se concretiza (e cada espectador reage de uma maneira) com suaves toques que criam
delicada ponte de afetos com tempo marcado. Uma experiência de ação vivencial teatralizada
através da privacidade dos meios expressivos.