quinta-feira, 25 de outubro de 2012

37ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ O Desaparecimento do Elefante
Close na procura de espaço entre o real e o imponderável
São cinco contos do escritor japonês Haruki Murakami, reunidos no palco do Teatro Fashion Mall sob o título de um deles: O Desaparecimento do Elefante. Os demais, também têm títulos intrigantes – O Pássaro de Cordas e as Mulheres da Terça-feira, O Comunicado do Canguru, Sono e Segundo Ataque – que correspondem à estranheza que seus personagens provocam, pelo menos à princípio. Na percepção dos descaminhos do mundo atual, Murakami constrói, a partir de aparente banalidade (o dia de um desempregado, o contato de empregado com cliente, a rotina de dona de  casa, a investida de casal a uma lanchonete e a conversa de vendedor com repórter), exposição de emoções e sentimentos, de vazio e saturação, de desajuste e desequilíbrio. Situações que fogem ao que se considera normalidade, acumulam interioridades que provocam e evidenciam absurdos cotidianos. A profunda solidão dessas figuras arraigadas a seu meio, revela-se em vivências transpostas para algum escapista universo paralelo ou no esgotamento dos contornos palpáveis daquilo que os sentidos podem tocar. É neste espaço volátil, esfumaçado entre o real e o imponderável que Murakami situa pessoas comuns, que projetam num mundo que lhes é frustrante em sua ordenação, imagens nada convencionais de si mesmos e de seus desejos. Dos textos selecionados para o espetáculo, nem todos conseguem estender ao palco sua força expressiva, desnudando-se no uso de um certo maneirismo literário para acondicionar desfocadas estranhezas. O mais realista deles, Segundo Ataque, se restringe a um fotográfico registro, já em O Desparecimento do Elefante, a estranheza é levada ao paroxismo da percepção do real, é se revela o melhor deles. As diretoras Monique Gardenberg e Michele Matalon buscam traduzir essa área existencial não preenchida com imagens em movimento de cinema de fotogramas teatrais, em que o que se vê está editado quadro a quadro. E não apenas o cenário-tela de Daniela Thomas e Camila Scmidt e a precisa iluminação de Maneco Quinderé confirmam o aspecto cinematográfico da montagem. A dupla de diretoras procura abordar a cena em close, destacando as atuações como um frente a frente com a plateia. A introdução de trilha musical, que atua sobre a ação como comentário, é um dos bons achados, assim como o trabalho corporal do elenco, assinado por Marcia Rubin e o figurino de Claudia Kopke, em especial o de Marjorie Estiano em Segundo Ataque. Os atores se distribuem por várias participações, formando ótimo conjunto. Caco Ciocler como o desempregado esmagado por um dia em que só viveu negações transmite o vácuo a que é conduzido por tudo que o afasta de si mesmo. Como o invasor da lanchonete faz crítica composição de uma certa indiferença da juventude em relação ao que vive. Maria Luiza Mendonça circula bem entre a esposa irritadiça e a dona de casa que perdeu a capacidade de dormir. Marjorie Estiano é impagável figura saída de um mangá. Fernanda de Freitas tem firme atuação como a adolescente. Kiko Mascarenhas dá a dimensão patética ao empregado de loja. Felipe Abib e Clarissa Kiste têm humor como locutores de telejornal. Rafael Primot se apropria do texto mais complexo e o transmite com especial sensibilidade que empresta as palavras. O elenco que alcança alto nível nas interpretações se harmoniza em montagem sofisticada e tecnicamente bem acabada.

                                                     macksenr@gmail.com