Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (15/11/2015)
Crítica/ “Nordestinos”
Retrato postado da diáspora nordestina |
São cartas escritas por emigrantes nordestinos
que vieram para o Rio e São Paulo tangidos
pelos imutáveis problemas regionais, mas que carregam a identidade da terra
de onde saíram. Retirantes pelas dificuldades que deixaram para trás, procuram
viver outra história sem perder o fio da meada que começou a se desenrolar no
sertão, na pobreza e na miséria. Os depoimentos buscam a correspondência entre os significados que a nova vida
adquiriu desde a chegada e de como se confrontam na realidade os sonhos da
partida. Enraizados na geografia e cultura do nascimento, refazem a narrativa
pessoal mirando o que trazem da origem. Ajustados alguns, desgarrados outros, todos
lembram de onde vieram e o que provocam nos que os recebem. Viver fora de casa
para encontrar outra moradia não os desabriga do primeiro teto, e as cartas são
expressões dos vínculos que a distância do presente aproxima da permanência do passado. As
histórias reunidas em dramaturgia de Walter Daguerre mistura os tempos e
desarruma a sequência para refazer o percurso difícil de nordestinos até a
fixação em pouso nem sempre muito receptivo. Os aspectos sociais que movem a
diáspora têm o peso da alusão. O que o autor ressalta são os laços que se
conservam mesmo à distância, e os diversos apontamentos que marcam a cultura
regional. Há comentários divertidos sobre a comodidade de encenar textos de
Ariano Suassuna, ao contrário de propor uma dramaturgia original. A farsa,, a comédia
de costumes, além do teatro de mamulengo e a oralidade dos repentistas aparecem
como formas de interligar as histórias, que o cenário solar e os figurinos
coloridos de Karla de Luca ambientam com simplicidade. O diretor Tuca Andrade
ativou a versatilidade do texto com a rapidez com que as cenas se desenvolvem,
mantendo um ritmo inquebrável. Talvez
faltasse ao diretor maior ambição e detalhamento nas tessituras que a dramaturgia
oferece, preferindo explora-las com o humor e a “nordestinidade” natal dos atores.
Mas a escolha do diretor se mostra acertada pela comunicabilidade que estabelece com a plateia.
O elenco – Alexandre Lino, Natália Régia, Paulo Roque e Rose Germano – demonstra integração bem humorada no cultivo da
sinceridade de seu sotaque nordestino.