Crítica/ “A
noiva do condutor”
Opereta ingênua ao ritmo de Noel |
Nesta opereta sintética e ingênua de Noel Rosa, o
que se ressalta é a trilha musical com destacadas composições do autor. Na
história, Helena, uma jovem suburbana, apaixona-se por Joaquim, de quem não
sabe o sobrenome e a profissão. Mentindo ser advogado com escritório no centro,
é condutor de bonde, ainda que um
apaixonado sincero. Descoberta a mentira e rompido o noivado, o esclarecimento
do pai de Joaquim repõe o namoro nos trilhos. Pouco mais do que uma vinheta com
situação alinhavada e de duração curta, a opereta de origem radiofônica,
escrita na década de 1930, dimensiona no próprio libreto o alcance de sua
singeleza. As músicas se impõem à narrativa pela forma como sublinham a ação e
se expandem nas letras. O diretor Djalma Thürler incorporou as características
desse exemplar histórico de compositor famoso e com repertório conhecido para ampliar
a obra e comentar a vida. Apresentando músicas não incluídas na origem da opereta
e integrando a cidade ao cenário biográfico, Thüler percorre, em voo livre, a
ingenuidade da historieta, planando pela riqueza sonora. Como um “flaneur” que
observa o Rio das primeiras décadas do século passado, a montagem estabelece
diálogo entre trama e música, com toques de humor e agilidade cênica. A
produção modesta em meios e camerística na forma, tira partido dos recursos
vocais do elenco e de pequenos truques de dramaturgia para equilibrar um pocket-show
sobre o poeta da Vila e a peça radiofônica. O cenário de José Dias interpreta
com imagens infantis o espírito do espetáculo. São bandeirinhas juninas que
enfeitam o palco e decoram a passagem da miniatura de um bonde pelo proscênio.
A iluminação de Aurélio di Simone e o figurino de Carol Lobato completam o
quadro, ao lado dos músicos Andrey Cruz (sopros), Nilton Vilela (percurssão) e Roberto Bahal
(piano). Izabella Bicalho equilibra a voz trabalhada com os comentários,
levemente críticos, da atriz. Marcelo Nogueira empresta o seu agradável timbre
vocal às melhores composições de Noel. Rodrigo Fagundes é responsável pela
comicidade. A atuação episódica do pianista se revela dispensável. “A noiva do
condutor” sobrevive como registro de carreira de um compositor de exceção, que desfia
repertório sólido sem qualquer outra pretensão além de agradar e cortejar uma
plateia receptiva com encenação reverente e bem comportada.