Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (16/9/2015)
Crítica/“Ataulfo
Alves – O Bom Crioulo”
As velhas e superficiais conversas de mesa de bar |
Mais um capítulo da novela dos musicais
biográficos, que ao que parece só chegarão aos episódios finais quando
escassearem nomes a se submeterem à fórmula: volumoso repertório musical e
magra dramaturgia. “Ataulfo Alves - O Bom Crioulo” não se desvia da corrente
interminável do gênero, repetindo os elementos que, em algum momento, foram
considerados infalíveis para manter o interesse do público, mas que agora se esgotam
pela redundância em usá-los. As canções do cantor-compositor se sucedem como em
um show, e a vida é apenas um acessório para introduzir o setlist, sem maiores cuidados dramáticos. Para lembrar a infância,
recorre-se a “Miraí” e a “Meus tempos de criança”, em citação à cidade de
nascimento de Ataulfo e as lembranças infantis. Para ilustrar as discussões com
os parceiros Mario Lago e Wilson Batista, canta-se “Ai que saudade da Amélia” e
“O bonde São Januário”. E nesta relação direta, sequencial e cronológica são
apresentadas mais de duas dezenas de composições do autor de “Pois é”, confirmando
a qualidade de tantas e tão variadas músicas, ainda que se mantenham na
superficialidade da exposição cênica. O texto de Enéas Carlos Pereira e Edu
Salemi reproduz todas as convenções do manual não codificado dos musicais
biográficos. Personagens reais transformados em tipos e histórias verdadeiras
em reverência roubam o espaço possível para criar uma atmosfera que sonorize a
época. A narrativa é banalizada pela sucessão de fatos, em que os conflitos são
conversas de mesa de bar e a ação, mero prólogo para o canto. O diretor Luiz
Antônio Pilar se mostra empenhado em seguir na segurança do déjà vu, deixando a impressão de que se
assiste, mais uma vez, a um mesmo espetáculo, apenas com referências, nominal e
de repertório, circunstancialmente modificadas. A cenografia de Doris
Rollemberg se reduz a um painel geométrico de evocação carnavalesca, e o
figurino de Helena Affonso combina vestidos rodados das cantoras do rádio dos
anos 1950 com a imagem do malandro carioca de camisa listada e chapéu de palha.
A direção musical de Alexandre Elias circula com facilidade entre os sambas, as
marchinhas e os sambas-canções de Ataulfo, com alguma tendência a padronizar a
sonoridade de cada estilo. Wladimir Pinheiro mostra maior elegância como cantor
do que como intérprete de Ataulfo Alves.
Édio Nunes mimetiza com igual eficiência, de comediante e passista, a sua
participação em outros musicais. Marcelo Capobiango exibe sua segurança vocal.
Patrícia Costa, Shirlene Paixão, Dany Stenzel e Luciana Balby compõem o
harmonioso coro feminino. Marcelo Gonçalves, Alexandre Vollú e Marco Bravo completam
o elenco de mais essa novela de capítulos sem ganchos atraentes.