quarta-feira, 24 de junho de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (24/6/2015)

Crítica/ Antessala – Na valsa do tempo
O tempo de espera feminino
Cinco mulheres, de idades e expectativas diferentes, suspendem suas vidas para se instalar em espaços de espera. A modelo aguarda a chegada da arquiteta para a reforma de sua casa. Ela demora por estar no salão de beleza, enquanto sua mãe também a aguarda à saída do consultório médico. As vizinhas, a professora na fila do banco e a periguete no saguão do aeroporto, se comunicam impulsionadas pela sensualidade. Os contatos entre elas se estabelecem pelo onipresente celular, já que de outro modo, as ligações inexistiriam como formas verossímeis de projetar monólogos para tipificar figuras femininas. O texto de Ana Bez é pouco mais do que o demonstrativo de vários tipos, lançados em situações cotidianas e expostos em vitrine de clichês. A ideia do vácuo que se instala nos tempos mortos de quem aguarda, e que a autora até insinua como possibilidade de ampliação narrativa, sucumbe na alternância seriada de depoimentos, fragilmente dramatizados, de quem fala como estereótipos de gênero. Ernesto Piccolo é por demais fiel à estrutura rígida da sucessão de perfis, que se apresentam numa ciranda de vozes sem a harmonia do coro. No exíguo palco do Café Pequeno, com cenografia restrita a elementos sugestivos de Clívia Cohen e a iluminação burocrática de Djalma Amaral, o quinteto de atrizes repete movimentos de aproximação e recuo, mantendo a mesma posição frontal. Essa disposição em cena, reforça o aspecto de conjunto de falas individuais que, pelo formato sequencial, cai na monotonia. O figurino de Maria Stephania segue o espírito da montagem, vestindo o elenco com padrões ilustrativos, e não interpretando eventuais características das personagens. Piccolo se restringe a conduzir o elenco de maneira protocolar. Samara Felippo sustenta com insinuante composição corporal e malícia ambígua a garota inconsequente. Carolina Stofella domina com voz bem projetada a ansiedade da arquiteta. Monica Bittencourt usa a sua elegância e trejeitos comuns a manequins para compor traços de ansiedade. Dora Pellegrino tenta, com algum êxito, superar os limites da professora com sotaque nordestino e desejos nada ocultos. Joana Fomm ainda se mostra insegura para encontrar humor na senhora assídua dos shows de Roberto Carlos.