Crítica do Segundo
Caderno de O Globo (24/6/2015)
Crítica/ Antessala
– Na valsa do tempo
O tempo de espera feminino |
Cinco mulheres, de idades e expectativas
diferentes, suspendem suas vidas para se instalar em espaços de espera. A
modelo aguarda a chegada da arquiteta para a reforma de sua casa. Ela demora
por estar no salão de beleza, enquanto sua mãe também a aguarda à saída do
consultório médico. As vizinhas, a professora na fila do banco e a periguete no saguão do aeroporto, se comunicam
impulsionadas pela sensualidade. Os contatos entre elas se estabelecem pelo
onipresente celular, já que de outro modo, as ligações inexistiriam como formas
verossímeis de projetar monólogos para tipificar figuras femininas. O texto de
Ana Bez é pouco mais do que o demonstrativo de vários tipos, lançados em
situações cotidianas e expostos em vitrine de clichês. A ideia do vácuo que se
instala nos tempos mortos de quem aguarda, e que a autora até insinua como
possibilidade de ampliação narrativa, sucumbe na alternância seriada de
depoimentos, fragilmente dramatizados, de quem fala como estereótipos de gênero.
Ernesto Piccolo é por demais fiel à estrutura rígida da sucessão de perfis, que
se apresentam numa ciranda de vozes sem a harmonia do coro. No exíguo palco do
Café Pequeno, com cenografia restrita a elementos sugestivos de Clívia Cohen e
a iluminação burocrática de Djalma Amaral, o quinteto de atrizes repete
movimentos de aproximação e recuo, mantendo a mesma posição frontal. Essa
disposição em cena, reforça o aspecto de conjunto de falas individuais que,
pelo formato sequencial, cai na monotonia. O figurino de Maria Stephania segue
o espírito da montagem, vestindo o elenco com padrões ilustrativos, e não interpretando
eventuais características das personagens. Piccolo se restringe a conduzir o
elenco de maneira protocolar. Samara Felippo sustenta com insinuante composição
corporal e malícia ambígua a garota inconsequente. Carolina Stofella domina com
voz bem projetada a ansiedade da arquiteta. Monica Bittencourt usa a sua
elegância e trejeitos comuns a manequins para compor traços de ansiedade. Dora
Pellegrino tenta, com algum êxito, superar os limites da professora com sotaque
nordestino e desejos nada ocultos. Joana Fomm ainda se mostra insegura para
encontrar humor na senhora assídua dos shows de Roberto Carlos.