segunda-feira, 5 de maio de 2014

Temporada 2014


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (4/5/2014)

Crítica/ O Grande Circo Místico 
A poética circense na grande guerra mística
As canções de Edu Lobo e Chico Buarque, escritas há mais de 30 anos para o balé O Grande Circo Místico, são dominantes, também agora, quando fazem parte do musical escrito por Newton Moreno e Alessandro Toller. Quase tão impositivas quanto o poema de Jorge de Lima na construção narrativa no novo gênero, a música da dupla prova, não só a sua qualidade em criar imagens líricas, como determina o eixo dramático em torno do qual os autores revisam a inspiração original e acrescentam a guerra ao picadeiro dos que “atiram os membros para a visão dos homens, e atiram as almas para a visão de Deus.” A intenção é de revestir a trilha sonora de arcabouço dramatúrgico que, não apenas a integre, coerente e satisfatoriamente, ao fluxo da ação, como aproxime a “grande guerra mística” do Grande Circo Knieps do poeta. A história de amor do médico e da bailarina, interrompida pela eclosão do conflito que desarma a trupe circense, recompõe-se, sob uma lona costurada de estrelas, redimindo com o nascimento de gêmeas a dinastia de uma genealogia artística. Com esta ambientação, Moreno e Toller incorporaram as músicas, a maioria bastante conhecida, encontrando autonomia dramática para cada uma delas. João Fonseca desenhou a montagem como uma aquarela de traços circenses em tonalidades suaves. Faz um esboço em movimentos acrobáticos e gestos malabaristas para alcançar uma coreografia poética, que resulta em múltiplas e intensas cenas de efeito à procura do espetacular, como, afinal, é da natureza do gênero. Fonseca nem sempre tem a dimensão desse quadro em constante mudança, sucumbindo à extensão do texto, um tanto alongado, e acossado pelo ritmo nervoso das quebras narrativas. A cenografia de Nello Marrese cobre o palco com engenhosa lona modular e reveste o campo de batalha com painéis e adereços inventivos. A destacar o camarim-relicário da mulher barbada. A luz de Luiz Paulo Nenen ressalta os detalhes do cenário. O figurino de Carol Lobato se integra à unidade visual da montagem, assim como o visagismo de Leopoldo Pacheco. A coreografia de Tania Nardini de concepção acrobática tem seu melhor momento no número de Beatriz com os cavalos. A direção musical de Ernani Maletta se inscreve na corrente fabular, mantendo o equilíbrio dramático das canções, sem destacar as de maior sucesso. O elenco canta com correção as difíceis partituras, além de corresponder às exigências da coreografia, sustentando por três horas um espetáculo que transmite o empenho dos 18 atores. Fernando Eiras busca interpretação em que voz e corpo evoluem como uma dança lírica. Letícia Colin projeta seu educado timbre vocal. Gabriel Stauffer empresta timidez e  delicadeza ao amor de Frederico por Beatriz. Ana Baird e Reiner Tenente mostram boa presença. Isabel Lobo vive Charlote e Paula Flibann, Lily Braun