quarta-feira, 28 de maio de 2014

Festivais

Tiradentes em Cena
A poeta submerge na angústia
A pequena e adorável vila histórica mineira abrigou a segunda edição do Tiradentes em Cena, mostra de teatro que reuniu em duas semanas espetáculos, oficinas, intervenções, palestras, que culminaram com a apresentação na aprazível praça central de Bibi – Histórias e Canções. Para a dimensão geográfica e a tradição de sediar eventos culturais (o mais  divulgado é o festival de cinema), o burgo, desde o ano passado, planeja um festival à sua medida e com criteriosa curadoria, que tem em perspectiva as características da região e dos equipamentos disponíveis.  Há apenas um teatro, mas o casario e a praça são outros espaços explorados, capazes de reunir grande público, como no show de Bibi Ferreira e plateia mais restrita na performance de Helena Contente, no Sobrado Aimorés. Na seleção foi levada em consideração ainda, a relação da produção com a áreas próximas, como do grupo Ponto de Partida de Barbacena, do Corpo Coletivo de São João Del Rei, e do Teatro Entrevista de Tiradentes, que se mantém há 22 anos, e  que estreou O País do Desejo, primeira direção do ator Matheus Nachtergale, que mantém, há anos, casa na cidade. De Juiz de Fora, a atriz Suzana Nascimento levou o seu mineríssimo Calango Deu, direção de Isaac Bernat, e de Belo Horizonte importaram-se seis montagens, metade das que vieram do Rio. Entre elas, Raul Fora da Lei – A História de Raul Seixas, com Roberto Bomtempo, Oleanna, que encerrou há pouco temporada no Glaucio Gill, e os monólogos Billdog, com Gustavo Rodrigues e O Cara, com Paulo Mathias Jr.. A surpresa chegou de São Paulo, com a estreia nacional de Ilhada em Mim, texto da jornalista Gabriela Melão, baseado em fragmentos da poesia atormentada de Sylvia Plath, com Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes. Numa cenografia em que os elementos se decompõem na mesma progressão da angústia existencial da poeta americana, e em que os sinais do seu desajuste interior são conotados por vigorosa simbologia visual (água como afogamento), os dois atores, como projeções das vozes de Sylvia e seu marido Ted Hughes, submergem numa poça de solidão em que pedaços de móveis e retratos de família se desfiguram da realidade. Uma instigante visão sobre Sylvia Plath.