Tiradentes
em Cena
A pequena e adorável vila histórica mineira
abrigou a segunda edição do Tiradentes em Cena, mostra de teatro que reuniu em
duas semanas espetáculos, oficinas, intervenções, palestras, que culminaram com
a apresentação na aprazível praça central de Bibi – Histórias e Canções. Para a dimensão geográfica e a tradição
de sediar eventos culturais (o mais divulgado
é o festival de cinema), o burgo, desde o ano passado, planeja um festival à
sua medida e com criteriosa curadoria, que tem em perspectiva as
características da região e dos equipamentos disponíveis. Há apenas um teatro, mas o casario e a praça
são outros espaços explorados, capazes de reunir grande público, como no show
de Bibi Ferreira e plateia mais restrita na performance de Helena Contente, no
Sobrado Aimorés. Na seleção foi levada em consideração ainda, a relação da
produção com a áreas próximas, como do grupo Ponto de Partida de Barbacena, do
Corpo Coletivo de São João Del Rei, e do Teatro Entrevista de Tiradentes, que
se mantém há 22 anos, e que estreou O País do Desejo, primeira direção do
ator Matheus Nachtergale, que mantém, há anos, casa na cidade. De Juiz de Fora,
a atriz Suzana Nascimento levou o seu mineríssimo Calango Deu, direção de
Isaac Bernat, e de Belo Horizonte importaram-se seis montagens, metade das que vieram
do Rio. Entre elas, Raul Fora da Lei – A História
de Raul Seixas, com Roberto Bomtempo, Oleanna,
que encerrou há pouco temporada no Glaucio Gill, e os monólogos Billdog, com Gustavo Rodrigues e O Cara, com Paulo Mathias Jr.. A
surpresa chegou de São Paulo, com a estreia nacional de Ilhada em Mim, texto da jornalista Gabriela Melão, baseado em
fragmentos da poesia atormentada de Sylvia Plath, com Djin Sganzerla e André
Guerreiro Lopes. Numa cenografia em que os elementos se decompõem na mesma
progressão da angústia existencial da poeta americana, e em que os sinais do
seu desajuste interior são conotados por vigorosa simbologia visual (água como
afogamento), os dois atores, como projeções das vozes de Sylvia e seu marido
Ted Hughes, submergem numa poça de solidão em que pedaços de móveis e retratos
de família se desfiguram da realidade. Uma instigante visão sobre Sylvia Plath.