Crítica/ A Noite dos Palhaços Mudos
A linguagem dos palhaços tem código próprio, situado entre a pantomima e o humor que mimetiza o ridículo humano. Em raras criações, ampliam-se essas características até a um ponto de inflexão que alcança o poético. A dificuldade na apropriação cênica desta linguagem está em que seu código tem poucas variantes, obedecendo a gramática de gestos, situações e imagens que oferecem restrita originalidade expressiva. O clown subsiste reiterativamente, sobrevivendo como tradição e como recorrente afirmação de suas técnicas. A Noite dos Palhaços Mudos, até domingo no Teatro Poeira, confirma tais limitações. Espetáculo paulista da companhia La Mínima estreou há três anos na capital paulista, chegando ao Rio com sua dose de novidade bastante esmaecida. Na história do cartunista Laerte, a dupla de palhaços vai em busca do nariz, um dos símbolos da sua comicidade, depois que é arrancado por representante de grupo de extermínio. Acabar com os palhaços sem fala é o objetivo dos vilãos desta narrativa no espírito dos quadrinhos, transportada para o universo dos clowns. A perseguição à dupla é pretexto para que os atores Domingos Montagner e Fernando Sampaio, além de Fernando Paz, desenrolem os fios da trama de gesticulação, movimentos, caretas, malabarismos, mímica e truques variados, em demonstração do repertório clássico do gênero. Se em alguns momentos se consegue comunicabilidade, em outros, a montagem de Álvaro Assad somente confirma a previsibilidade do palhaço. Neste sentido, o espetáculo cumpre o protocolo: reafirma a linguagem, fixa seus cânones e expõe as técnicas. Só não consegue ultrapassar as reduzidas possibilidades de sua reinvenção no espaço teatral.
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