Onde Fica o Divã Teatral?
Crítica/ O Caso Valkiria
Desconstrução neurótica em milagroso teampo terapêutico |
Em psicologia se faz estudo de caso, analisando determinado distúrbio à luz da teoria. Transpô-lo para a cena, como fez Claudia Süssekind, autora deste texto em cartaz no Teatro Vanucci, não é tão mecânico como uma transferência direta. No teatro não é bem assim. Não há como apresentar, com a ligeireza como é mostrado e por mais que se procure dar forma dramática à sua exposição, as bases das dores físicas de uma paciente com difícil relação com as seqüelas emocionais da infância. A elaboração neurótica, que Claudia intenta, fragilmente, demonstrar, parecerá, até mesmo ao espectador sem qualquer referência a questões psicológicas, linear e de involuntária ruptura do tempo terapêutico (a narrativa se resolve magicamente). O caso retratado, pode até ser baseado em situação verídica, mas o tratamento dramático se ressente de domínio da escrita e da ausência de equilíbrio na ação. Valkiria, a personagem titulo, resiste à ajuda da irmã e do analista no esforço de resistir a desfazer o bloqueio e a vivenciar a consciência. Esta dificuldade se estende por dois terços do espetáculo, até que no terço final, com rapidez e superficialidade, Valkiria se torna detentora plena de sua existência. O diretor Victor Garcia Peralta, por mais que tenha se cercado de adereços e utilizado iluminação teatral, deixa a impressão de que encenou com um tanto mais de cuidado do que aquele que se oferece a um evento, didático ou psicodramático, de explicitação de um caso-padrão. A montagem não sai da superfície plana e rasa imposta pelo texto, com fortes reflexos na interpretação do elenco. Marcos Breda se mostra constrangedoramente contido, enquanto Thais Garayp procura tirar partido de suas intervenções. Yásmin Gazal e Ana Jansen têm atuações inexpressivas, e Thávyne Ferrari completa o elenco. Helena Ranaldi, apesar das investidas tímidas de modulações interpretativas. sucumbe ao aspecto monocórdio e inexpressivo personagem.
Crítica/ Senhora Solidão
Entre o humor meio amargo e o melodrama leitoso |
Há a tentativa neste texto de Leandro Muniz de traçar urdidura dramatúrgica em que a solidão ganha contornos de lembranças diante de proposta de terapia que exorcize as angustias e desajustes, através da memória estimulada. Um encontro terapêutico pouco ortodoxo (parece, vagamente, um psicodrama ou uma dessas técnicas de preparação de elenco, tão em voga no cinema), expõe os traumas de grupo de pessoas, a orientadora incluída, liberando os seus nós emocionais. Na mistura dos problemas, divididos pelos quatro participantes da sessão, se pretende chegar à revelação das causas e transpor os efeitos. Passado e presente, o vivido e o agora, se interpenetram na construção das identidades. Sob essa perspectiva, Leandro Muniz consegue desenhar narrativa interessante, que não encontra traço mais definido na encenação, assinada pelo próprio autor. Esse relativo descompasso, faz desconfiar da segurança de Muniz na escrita, já que a montagem fica indefinida entre o humor meio amargo e o melodrama leitoso. Enquanto reproduz o jargão de certo tipo de técnica de recondicionamento de comportamento, parece que se está diante de linha crítica. Em seguida, volta-se para situações de um quase ridículo derramamento de emoções caricatas, que desconsertam e esvaziam o entrecho. Assim como a montagem, em cartaz no Teatro do Planetário, o elenco – Alex Nader, Bia Guedes, Cristina Fagundes e Luis Lobianco – parece muito cru, incapaz de superar a visível inexperiência e de ir além da disciplina dos, talvez, persistentes ensaios.
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