quarta-feira, 30 de novembro de 2011

46ª Semana da Temporada 2011


O diretor João das Neves em dose dupla

CríticaAs Polacas – As Flores do Lodo
Histórias de preconceitos e injustiças
As Polacas, em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil, trata das prostitutas vindas da Europa do Leste para a zona do meretrício do Mangue, nas primeiras décadas do século passado. Tangidas para cá pela discriminação aos judeus em seus países de origem, acrescentada aqui ao  preconceito pelo exercício da profissão, foram enganadas pelos próprios conterrâneos, com promessas de casamento. É desta pequena humanidade, que chegou a se sindicalizar e a manter um cemitério que pudesse abrigá-las, de acordo com seus preceitos religiosos, após a morte, de que trata o texto de João das Neves. Mas não somente como registro ou comentário sobre os costumes de um período da vida nacional. O autor e diretor desta montagem intentou estabelecer, sob a perspectiva das atitudes preconceituosas, a sua visão sobre um grupo social, hoje estudado no âmbito acadêmico. Este enfoque, coerente com a carreira de João das Neves (foi um dos fundadores do Grupo Opinião e sempre desenvolveu prática teatral politicamente interveniente) reforça a observação crítica em detrimento de maior elaboração dramatúrgica. Refletindo em cena, sem muitas nuances dramáticas, pesquisa sobre as polacas, que parece ter sido a base do seu texto, destaca alguns casos como exemplares, sem contudo criar ambientação mais verídica. A ambição de traçar quadro social, representado pelas judias perseguidas na Europa, a injustiça social brasileira, figurada por prostituta negra e coronéis do interior, fregueses abonados dos prostíbulos, é bem maior do que o fôlego demonstrado por cenas descosturadas, descontínuos climas dramáticos e proselitismo choroso. O diretor João das Neves não colaborou para encorpar no palco o que o autor João das Neves não conseguiu na dramaturgia. A música, que parece ter sido introduzida para compensar buracos da narrativa, e os quadros com movimentos congelados, que, aparentemente, tentam driblar o esboço cenográfico que nada ambienta, acentuam a fragilidade da montagem. O longo número musical da abertura, despropositado, tanto no tempo de duração  quanto na  fixidez dos dançarinos, anuncia a pouca dinâmica das cenas seguintes e o esgotamento dos recursos inexpressivos. A presença de atores que se misturam ao público é o menor deles. O elenco – Luciana Mitkiewicz, Ligia Tourinho, Wilson Rabelo, Gilray Coutinho, Ivone Hoffman, Carla Soares, Alexandre Akerman, Felipe Habib, Leonardo Miranda, Maria Elias, Ilea Ferraz e Rodrigo Cohen – é bastante irregular, e se mostra perdido em meio a texto dispersivo, e a montagem de rala densidade.  


Crítica/ Galanga – Chico Rei
Reverência festiva à cultura afro-brasileira
Não que seja uma dramaturgia sofisticada. Muito menos, que tenha a intenção de inovar o musical ou folclorizar a linguagem popular. Calanga – Chico Rei, que pode ser visto no Teatro do Jockey, é tão somente um musical de estrutura simples, quase um show teatral, em que o repertório musical, a coreografia e as inventivas soluções cênicas transformam o espetáculo em agradável e, algumas vezes, vibrante exposição da cultura afro-brasileira. O texto de Paulo César Pinheiro, na forma de narração, conta a história do rei africano Galanga, trazido como escravo para o Brasil, e que com sua ardilosa inteligência em anos de trabalho no garimpo de ouro em Minas Gerais, comprou sua alforria. Como um contador de caso, o narrador distribui essa história para além da oralidade, transformando sua  versão falada em  música, coreografia e manifestação festiva. As dez canções de Paulo César Pinheiro, a maioria escrita para o musical, passeiam por ritmos variados (congada, pontos de candomblé, folclore tradicional), constituindo-se em produção altamente criativa e que demonstram possibilidade de audição  própria fora do libreto do espetáculo. À qualidade musical se acrescenta a beleza do conjunto dos atores, vestidos de branco, utilizando-se de instrumentos musicais, eles próprios formas decorativas, e de objetos sonoros, como as latas-grilhões, presas ao calcanhar, que marcam o ritmo musical e coreográfico. A cenografia do diretor João das Neves é, ao mesmo tempo, despojada e envolvente, com seus estandartes de procissão e altar que reúne o sincretismo religioso, desvendado apenas ao final num sutil abrir de cortina. João das Neves manobrou com destreza a feitura da cena, dosando com extrema habilidade a palavra e a sua representação pela musica e dança. Em sucessivos quadros, o diretor reinventa, permanentemente, a montagem, provocando no espectador a expectativa de encontrar igual vibração da cena anterior. É premiado nesta sua expectativa. A platéia é embalada pelas ótimas canções e singeleza do congado, e envolvida pela dignidade, elegância e autoridade do narrador Mauricio Tizumba, coadjuvado por onze atores-cantores-músicos-bailarinos que tornam esse musical uma prazerosa reverência à cultura afro-brasileira.        


Cenas Curtas

Dois documentários sobre diretores teatrais chegam aos cinemas da cidade. Domingos, a estréia na direção da atriz Maria Ribeiro, faz um retrato de Domingos de Oliveira, em depoimento sobre as suas atividades nos palcos e no cinema. E Evoé – Retrato de um Antropófago, filme de Tadeu Jungle e Elaine Cesar, “mistura de forma labiríntica depoimentos recentes e imagens de José Celso Martinez Corrêa”. 

Os espetáculos interessados em participar da mostra Finge do 21º Festival de Teatro de Curitiba, que acontece de 27 de março a 8 de abril de 2012, devem se cadastrar, até 4 de dezembro, pelo site www.fringe.com.br. A mostra, que ocupa todos os espaços disponíveis em Curitiba, reúne mais de três centenas de montagens durante os dez dias de realização do festival.

O último mês do primeiro projeto de ocupação do Teatro Dulcina, depois da reforma, reúne três espetáculos que fizeram carreira curtas em outros espaços. Cartas de Maria Juileta e Carlos Drumond de Andrade, direção e interpretação de Sura Berditchevisky se apresenta às quartas e quintas, enquanto a comédia musical O Meu Sangue Ferve Por Você ocupa o palco às terças. De sexta a domingo será a vez de Fragmentos, textos de vários autores baseados em Roland Barthes. Para as crianças, O Homem que Amava Caixas, sábados e domingos.

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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

45ª Semana da Temporada de 2011


Crítica/ Aquela Outra
A mesma feminilidade em dois tempos
Lícia Manzo, autora de Aquela Outra, demonstra sensibilidade de retirar das relações contemporâneas, aspectos que possam levá-la a fazer comentários sobre aquilo que provoca os desajustes mais comuns no cotidiano. Se no texto anterior, História de Nós Dois, encenado com grande resposta de público, a autora tratava dos desencontros de um casal em processo de separação, no atual, em cartaz no Teatro do Leblon, estabelece contraponto entre duas mulheres (ou seriam duas feminilidades?) em épocas diferentes. A que vive em 1959, é mãe de família, dona de casa, dedicada aos filhos, servindo ao marido, mas frustrada pela ausência de qualquer possibilidade de se realizar profissionalmente. A que está bem instalada profissionalmente neste 2011, com um filho cuja convivência delega a alguém e namorado que não coabita com ela, vive mergulhada na insatisfação de não ter domínio de seu tempo e da sua existência. O paralelismo das frustrações e das vontades não realizadas em tempos contrastados é o que Lícia Manzo propõe nesta comédia de costumes em formato de dois monólogos que se entrelaçam no diálogo sobre as dúvidas de uma (a atual) e de outra (a do passado). Lícia descreve as condições culturais que marcam o feminino e as condicionantes para que a mulher possa se expressar mais amplamente como ser social. Os problemas que afligiam as pioneiras do feminismo são mostrados através das suas consequências práticas, mas sem avançar muito na discussão das suas contradições teóricas. Clarice Niskier organiza a cena, centrando-se na nas atrizes. Há uma tentativa de individualizar as atuações por meio dos traços das épocas. Deste modo, quando acontece a interação entre os tempos, os registros dos anos tendem a parecer menos determinados pela cenografia, figurinos ou referências às modificações tecnológicas (recurso um tanto evidente e previsível do texto). A diretora conduz o elenco, apontando em cada uma das intérpretes, o que seria marcante em comportamento na  época. A solução cenográfica de Luís Martins é simples, mas integra bem os anos 50 com a atualidade, assim como os figurinos de Kika Lopes. Merece citação a música de Marcelo Alonso Neves. Cristina Flores adota uma interpretação agitada, nervosa, de intensidade por demais composta. Tânia Costa equilibra melhor a narrativa da vida monótona e frustrada da dona de casa, como as atitudes intervenientes da personagem nos dias atuais. 

  
Crítica/ Não Me Digas Adeus
Na busca de encontrar um rumo estilístico
Em concursos de dramaturgia como o da Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil, que atualmente apresenta no Teatro III o vencedor deste ano, Não Me Digas Adeus, de Juliano Marciano, qualquer avaliação precisa ser feita em cotejo com os demais concorrentes. Para os jurados desta edição, o texto de Juliano se destacou entre as mais de 250 inscrições, e foi considerado o melhor entre todos. Para quem é apenas espectador, as razões pelas quais Não Me Digas Adeus ganhou o primeiro prêmio ficam difíceis de compreender. Não que seja uma narrativa sem nenhuma qualidade, mas a medida para medi-las será a da montagem assinada por Gilberto Gawronski. Ao autor, pode-se atribuir alguma organização textual, e o esforço de reproduzir, estilisticamente, um melodrama. E pouco mais. Marciano conduz os diálogos e a trama perseguindo um melodrama cômico, mas não tem fôlego para levá-los muito longe. A convenção estilística não se revela suficiente como linguagem que abasteça o desenvolvimento narrativo. A direção e a cenografia de Gawronki criam ambientação cafona, com trilha musical que acompanha os derramamentos amorosos e as paixões suburbanas de canções populares, tentado enquadrar a brincadeira com as linguagens. O diretor não ultrapassa o crescente desinteresse que a trama provoca e o esgotamento da brincadeira, que depois de uma apresentação simpática (as primeiras cenas) não tem mais como se sustentar pela falta de apóio efetivo no texto. O jovem elenco – Diego Araújo, Nelson Yabeta, Nina Reis, Paula Jubé e Rafael Ferrão - demonstra  empenho e entrega na medida do entusiasmo de estreantes recém saídos de escola de teatro. Essa alegria de estar em cena é superior a qualquer observação que se possa fazer em relação aos seus desempenhos.


Crítica/ Amor Confesso
O casamento em frenético ritmo cômico
São oito contos de Arthur Azevedo sonorizados por seis canções de compositores populares e embalados por frenético ritmo cômico. A reunião desses elementos no palco do Centro Cultural dos Correios resulta na divertida encenação de Ignez Viana, que trata do casamento, através do viés da traição, com extremo bom humor. A dupla de atores, Claudia Ventura e Alexandre Dantas, costurou a dramaturgia cênica das histórias curtas de Azevedo com comicidade azeitada ao nosso tempo. Quase clownesco em alguns momentos, com ironia inteligente em outros, vivaz o tempo todo, o elenco enxuto, além do pianista Roberto Bahal, percorre com intensa movimentação os conflitos ingênuos de casais que avançam sobre os maliciosos maus costumes de sua época. A montagem estabelece um jogo dinâmico em que a apresentação dos contos é antecedida por simpática introdução para determinar seu enquadramento e aliciar a plateia. As músicas – de Vai Vadiar a Errei, Sim, de Mulata Assanhada a Futuros Amantes - se transformam em observações bem humoradas. A diretora utiliza o histrionismo dos atores para tornar ágil e aproveitar a inventividade  do casal para deixar que não se quebre o ritmo. Tanto Claudia Ventura quanto Alexandre Dantas mantêm o humor, entre o físico e o chanchadístico, entre o palhaço e o cômico popular, justificando em uma hora e meia – talvez um corte fizesse com que essa agradável montagem fosse ainda mais animada –, tão despretensiosamente e com competência, a palavra divertimento, tantas vezes usada para apresentar certos espetáculos, mas que nem sempre cumprem o que anunciam.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

44ª Semana da Temporada 2011


Crítica/ Judy - O Fim do Arco- Íris

Claudia Netto canta e interpreta Judy Garland em tom evocativo
O período da vida da atriz e cantora Judy Garland que o autor de Judy - O Fim do Arco-Íris, Peter Quilter trouxe ao palco foi o da sua decadência física e artística. A estrelinha juvenil de o Mágico de Oz, desde os 13 anos submetida a estimulantes, a princípio por seus pais, depois pelos estúdios, para render o máximo aos bolsos de uns e às bilheterias dos outros, carregou ao longo de seus 47 anos (morreu em 1969) o estigma deste sucesso inicial, e a certeza de que foi usada como caixa registradora. É do fim, quando as anfetaminas e o álcool já não eram suficientes muletas para o medo de enfrentar a vida e o palco, que Quilter trata nesta biografia. Judy, sem muito futuro existencial e profissional, se apresenta na boate Talk Of The Town, em Londres, dividindo uma suíte de hotel, que não tem como pagar,  com seu jovem empresário e  seu veterano pianista. Os conflitos que surgem pelo declínio que as crises nervosas e as drogas provocam, revelam um quadro de inescapável ocaso. Os personagens reais dos dois homens que ficaram lado da cantora até a sua morte são meros coadjuvantes desse retrato sublinhado demais nas tintas e dosado de menos na dramaturgia. Acessórios para dissimular o formato de monólogo, afinal Judy é, essencialmente, trampolim para o salto de intérpretes com depurados recursos, o empresário e o pianista evidenciam, pelo esquematismo e o melodramático de seus desenhos, as fragilidades do texto. A dupla Claudio Botelho (tradução, adaptação e direção musical) e Charles Möller (direção), mais uma vez, impõe o seu selo de qualidade. Nesta montagem, se repetem o cuidado de produção, os arranjos e orquestrações (de Marcelo Castro) e a sofisticada sonoridade da orquestra. Mas os dois diretores, desta vez, aplicaram mais o seu know how tão bem cultivado por mais de duas décadas, do que criaram um musical com sotaque pessoal, como já fizeram em outros produções. Sabem, no entanto, tirar partido dos efeitos originais, como da cena em que, pela primeira vez, o cenário (de Rogério Falcão) transforma-se, por efeito cenotécnico, da suíte em palco de show. E ao longo do espetáculo, esses toques Botelho-Möeller se fazem presentes, como na gravação da voz embargada de Judy Garland ao cantar Over the Rainbow. Tanto Gracindo Junior quanto Igor Rickli têm desempenhos corretos diante das poucas oportunidades que seus personagens oferecem. Afinal, Judy - O Fim do Arco-Íris foi concebido para atrizes, e somente para elas. E Claudia Netto era uma dessas atrizes. (Mais um acerto da dupla Botelho/Möeller na sempre arguta escalação dos elencos). Não se trata de incorporar Judy Garland através de sua imagem no cinema e nos registros de seus espetáculos, mas de assumir a tensão permanente e o embate emocional da cantora como produto desgastado ao longo de sua manufatura. Claudia não abandona a gesticulação e muito menos a tonalidade vocal de Judy Garland, mas o faz como sugestão interpretativa, como elemento para compor perfil dramático, nunca melodramático. A atriz demonstra em tour de force técnico, com fôlego e  elaborada composição, o quanto agarrou com força e equilíbrio o desafio de evitar a transcrição literal. Claudia Netto canta Judy Garland como uma evocação, sem mimetismos gestuais ou cópias vocais, traçando no palco do Teatro do Fashion Mall, uma figura, ao mesmo tempo frágil e intensa, nervosa e desbocada, que incorpora, vivamente, para além do bom visagismo (de Beto Carramanhos) e da direção de movimento (de Alonso Barros). Nas 11 canções que interpreta, revela segurança em todas elas, mas em especial em The Man That Got Away, quando alcança um momento de excepcionalidade, seguida pela carga emocional que empresta à brasileira Insensatez (How Insensitive). Um trabalho adulto de uma atriz consagrada.


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terça-feira, 15 de novembro de 2011

43ª Semana da Temporada 2011



Duas Vidas Em Voz Única
Dani Barros: ponte entre zonas sombrias e a inevitabilidade do fado
Crítica/ Estamira

Neste monólogo, baseado na personagem verdadeira do filme de Marcos Prado, Estamira não está solitária no mini palco do Espaço Rogério Cardoso. A atriz Dani Barros, além de intérprete da catadora de lixo de Gramacho, é igualmente personagem, dividindo com alguém em permanente estado de (des)conexão com o real e pungente jorro verbal, parte essencial da sua própria vida. Na ponte que se estabelece entre personagem e atriz, não há lugar para o drama, mas para a emoção límpida que emerge de zonas sombrias e da necessidade de cumprir o fado. Restos e descuidos que são jogados fora, sem se perceber que muitos ainda têm serventia e merecem atenção, são recolhidos na dramaturgia de Beatriz Sayad e Dani Barros com a delicadeza e o cuidado que faltaram às vidas de quem se fala. Não é fácil reproduzir num palco a contundência que tinha o documentário de Marcos Prado, mas esta não é menor, mesmo que se saiba que no teatro não deveriam caber medidas comparativas tão superficiais. Estamira é alguém que traz em seu mundo psicótico a unidade construída por lógica própria, dolorosa, conflituosa, desesperada, mas ainda assim unidade, feita de palavras e de incansável procura de um lugar (Jardim Gramacho foi o ponto de chegada). Caminho percorrido até que o destino se cumprisse. Ao se perguntar, em meio a tantas indagações sem respostas, “pra que saber porque nasce uma pessoa?”, Estamira adota para si o papel de ser “a visão de cada um”, a representação de uma humanidade viva em meio a seus despojos. No acúmulo do que não tem mais uso, a catadora e uma outra mulher, que surge, subterraneamente, como depoimento vivido, ganham significações pelas palavras que voam sem direção, como os sacos plásticos que cobrem o piso do palco. Esta intensa volatilidade de pensamentos, aparentemente inconclusos e perdidos em visões e vozes vindas de escuras cavernas interiores, é estabelecida em roteiro sem quaisquer apelos à emotividade. Fio que tece bordado cênico de nós amarrados por linhas tortas, a dramaturgia apóia a atriz, que tal como intérprete fiandeira, vai desatando com fina agulha afetiva os nós, mais ou menos cegos, dos emaranhados veios da loucura. Dani Barros se impõe, no minúsculo espaço da representação, como presença poderosa de uma mulher em atordoado conflito consigo e com o mundo, e como depositária de história herdada, tão arrebatada quanto a letra do belo fado português cantado por Soraya Ravenle. Dani Barros atinge decantação interpretativa, que está à serviço de delicada, ainda que contundente, exposição da infinita possibilidade do teatro em se debruçar, inesgotavelmente , sobre a aventura humana.      


Crítica/ Susuné
Carolina Virgüez: desdobramentos em torno das origens, falsas e verdadeiras

Esse monólogo, a princípio, trataria de reunir contos da colombiana Amalialú Posso Figueroa, mas é da identidade, étnica, nacional e vivencial, de que fala Susuné, em cartaz no Teatro Poeira. A atriz, de origem colombiana, mas vivendo há 30 anos no Brasil, Carolina Virgüez, perpassa as histórias de tintas realistas-fantásticas de sua conterrânea, para reconstruir a sua própria, de contornos latino-cariocas. A mistura, graças à dramaturgia de Emanuel Aragão, funciona bem, em função da vivacidade que Antonio Karnewale imprimiu na direção. A pretensão de abarcar universos amplos, como cultura negra, mutantes referências regionais e lembranças e sentimentos, pode deixar a impressão (e em muitos momentos, deixa) de que se estende demais o alcance do que se quer dizer. Por razões que somente a habilidade da dramaturgia e a costura do diretor podem explicar, Susuné é uma montagem agradável, com moldura etnográfica, e que enquadra viagem pessoal. A experiência de Carolina como estrangeira que chega ao Brasil aos 18 anos, e hoje aos 50, se descobre com vários nascimentos e alguns renascimentos, se confunde com as dos habitantes de um quilombo, onde negros, cuja a identidade transportada da África ao Caribe colombiano, mantêm-se ligados ao imaginário de origem. Preconceitos, inadequação, diferenças, histórias verdadeiras ou inventadas, Susuné deixa rastro narrativo que volteia por várias dessas impressões, levando o espectador por caminhos de fluídas dissonâncias. Não há um discurso impositivo que aponte para a platéia, exigindo-lhe qualquer reação a tantas situações que poderiam levar à indignação. A cena mediada de maneira habilidosa, sobrevoa questões mais áridas, conservando leveza, sincera e compromissada. O cenário de Marcelo Marques, painel com gavetas, que são retiradas e recolocadas, permite à atriz dar dinâmica à montagem. Ainda que um tanto pesadas, e algumas vezes, atrapalhando a atriz, no entra e sai de dentro delas, os gavetões ganham relevo pelas belas fotos impressas nas suas faces. Carolina Virgüez demonstra viver o espetáculo de sua vida, aquele que acalentou e serve, de certo modo, de balanço de carreira. Semi-biográfico, refletindo vivências e falseando outras tantas, Carolina  imprime força física à sua interpretação, em constante movimentação, dançando e atuando com empenho, tornando ainda mais simpático um monólogo de uma só atriz, mas de múltiplos desdobramentos.


Cenas Curtas no Teatro e Outras Mídias

O jornalista, dramaturgo e cineasta Evaldo Mocarzel exibe, aos domingos            no Canal Brasil, a série Teatro Sem Fronteiras, reunindo em oito programas até o final de dezembro o registro de montagens apresentadas em São Paulo pelos grupos Os Satyros, Os Fofos Encenam, Vertigem e Grupo XIX de Teatro. Cada programa de 25 minutos é dedicado a uma encenação. Depois de Hysteria e Assombrações do Recife  Velho, estão previstas as exibições de Kastelo, Vila Verde, Memória da Cana, A Última Palavra É A Penúltima, Hygiene e Festa de Separação.

Christiane Jathay, que vem desenvolvendo investigação sobre a integração de linguagens, em especial na relacão do teatro com o cinema, acaba de encerrar a temporada de Julia, bem sucedida adaptação de Adorável Julia, de August Strindberg. Com depuramento dos meios, Jathay estabelece diálogo intenso entre teatro e cinema, ampliando a sua linha de trabalho, inaugurada em A Falta Que Nos Move, primeiro no palco, depois na tela, e que teve continuidade em Corte Seco. A temporada de apenas três semanas de Julia foi insuficiente para que o público pudesse avaliar a qualidade da montagem.

Estréia no circuito o documentário Domingos, primeira direção no cinema da atriz Maria Ribeiro sobre o autor, diretor e ator Domingos de Oliveira. O  longa registra a vida e carreira de um dos criadores mais presentes na  cena brasileira, tanto no teatro quanto no cinema. Em mais de 50 anos de atividades ininterruptas, Domingos de Oliveira se revela no filme de Maria Ribeiro esse personagem tão ativo na vida cultural do Rio. 
Apresentado na mostra Première Brasil do recente Festival do Rio, Mentiras Sinceras, documentário de Pedro Asbeg, fixa os ensaios do espetáculo Mente Mentira. A produção do texto de Sam Shepard, dirigida por Paulo de Moraes, com Malvino Salavdor e Zecarlos Machado, entre outros, foi abordada através da relação dos atores com os personagens, em que um fala do outro num paralelismo que interfere na dubiedade da interpretação e na ficção documental.
O grupo Tá Na Rua, fundado e dirigido por Amir Haddad está lançando o site www.tanarua.art,br, que reúne a documentação sobre os seus 30 anos de atividades. São videos, fotos, recortes de jornais e livros que mapeiam a trajetória deste coletivo teatral.
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terça-feira, 8 de novembro de 2011

42ª Semana da Temporada 2011

Crítica/ Mulheres Sonharam Cavalos
Metáforas sobre pesadelos de mulheres nas ruínas de um edifício social
Os sonhos a que mulheres se referem são apenas pesadelos, confinados em um prédio sombrio, como as memórias turvas dos que não sabem da sua origem, e daqueles que a conhecem e a dilaceram na convivência. O texto do argentino Daniel Veronese está eivado de metáforas e referências à história política de seu país, carregado de significados, tão equidistantes quanto o absurdo e o melodrama, mas que se estabelecem em cena como unidade de linguagem. As escadas e porões de uma arquitetura ocupada por grupo em estado de fricção, conduzem aos desentedimentos condicionados pelo mundo exterior (negócios mal sucedidos, filhos da ditadura de torturas, ruínas do edifício social) e pelo desequilíbrio interior (homens fracos, mulheres exaltadas, individuos sem rumo). Sob esse quadro desagregado, paira a sombra de algo maior, que comanda esses marionetes sem vida própria, vítimas de manipulações que os formaram e  que lhes escapam. Não há realidade psicológica nesses fantoches de um universo (politico? social? nacional?) que se faz teatral pela quebra do realismo. Talvez fora dos seus limites geográficos, Mulheres Sonharam Cavalos possa perder alguma de sua força expressiva, percebendo-se o texto encorpado por segura escrita, mas um tanto perdido para plateias não familiarizadas com sua gênese. O diretor Ivan Sugahara, de certo modo, desconsiderou as particularidades regionais para criar montagem que procura envolvência quase física do espectador com a cena. A cenografia de Flávio Graff, ocupando a área do Poerinha com praticáveis que se distribuem por entre o público, permite que os atores cheguem, em vários momentos, muito próximo aos que os assistem. Esse corpo a corpo leva os conflitos à pura confrontação , ao cara a cara dos personagens com seus conflitos. O que é mostrado adquire efeito demonstrativo, ressaltando o embate (por quaisquer razões a que se lhes atribua) e o estranhamento (o caráter fluído das motivações dos personagens). O homogêneo elenco, além de Isaac Bernat e Saulo Rodrigues que têm atuações mais apagadas, como sugerem seus personagens, conta com Elisa Pinheiro (sustenta com dignidade a difícil, por que ameaçadoramente ridícula, cena final), Letícia Isnard (de dubiedade cruel), Analu Prestes (de doméstica tensão) e José Karini (em tensionamento dramaticamente virulento).

 
Crítica/  A Javanesa
O dedilhar da prosa teatral entre a poesia do masculino e do feminino
 Alcides Nogueira, autor de A Javanesa, em cartaz no Teatro Dulcina, escreve com fervor poético. Sua dramaturgia, mesmo quando visita outras possibilidades, sempre se avizinha da poesia como registro da sua prosa teatral. A história de amor, entre um homem visceralmente apaixonado por uma mulher, que se imagina liberta de compromissos,  perpassa 30 anos de convívio, entre partidas e negações, Nogueira é, mais do que em qualquer outra de suas peças, derramadamente onírico. Romântico ao extremo e sem mêdo de usar a palavra em seu sentido mais desabridamente meloso, reproduz o verso da música de Serge Gainsbourg, La Javanaise que serviu-lhe de inspiração: “Nós nos amamos enquanto dura o tempo de uma canção”. É deste material amoroso que se desdobram os sentimentos, a princípio do homem, depois da mulher, e por fim de ambos diante da impermanência dos afetos. Sem freios, Alcides Nogueira usa imagens de flores, não por acaso chamadas de saudade, e frases que refletem desmedida paixão, o que, algumas  vezes, se tornam redundantes e melodramáticas. O recurso de dar duas vozes a esse monólogo -  o ator faz o homem e a mulher, em contraponto – dosa, parcialmente, os excessos, ainda que não elimine a  disparidade entre o tempo dramático de um e de outro. A mulher, que revela mais complexidade do que o homem, tem tratamento mais aligeirado, e o golpe de teatro da última cena, reforça, mesmo sendo coerente com o espírito do texto, a indisfarçável efusão melodramática. O diretor Márcio Aurélio, que já havido dirigido em perfeita sintonia poética outro texto do autor (Prosa e Poesia), mantém igual delicadeza no tratamento deste monólogo em que a duplicidade interpretativa exigida do ator precisa guardar sutileza na diferenciação dos gêneros. O que é plenamente alcançado por Leopoldo Pacheco, que apenas com um cachecol, pequenos gestos e entonações, circula do masculino ao feminino. Com a mesma elegância que a direção adota para a montagem, o ator dedilha o texto como lembrança de uma poesia, talvez carregada demais de sentimentalismo, mas sem dúvida, poesia.


Cenas Curtas

 Está sendo lançado em Recife o primeiro volume do livro TAP – Sua Cena & Sua Sombra: O Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991), do diretor Antonio Cadengue. O grupo, que completa 70 anos de atividades, e é um dos marcos da cena pernambucana, terá um segundo volume, que contará a trajetória do mais longevo coletivo da cena brasileira até os dias atuais.

No ano do centenário de nascimento de Tennessee Williams  (1911-1983) a editora É Realizações  publica 26 peças curtas e seis longas do dramaturgo americano. Em tradução do Grupo Tapa, Mister Paradise e Outras Peças de um Ato, é o primeiro volume dos quarto previstos. Os demais são: 27 Carretas Cheias de Algodão e Outras Peças em um Ato e os últimos reúnem  as peças longas.  

Estreando esta semana no Teatro III do CCBB a peça vencedora da quarta edição de Seleção Brasil em Cena 2011, concurso de dramaturgia, que este ano teve 252 textos inscritos. Não Me Digas Adeus, comédia de humor negro do autor de São Caetano do Sul, Juliano Marciano fica em cena no Rio até janeiro. E para o próximo ano, o CCBB promete que a peça vencedora da quinta edição da Seleção Brasil circulará pelas sedes do Centro em Belo Horizonte (a ser inaugurada em 2012) e Brasília.
O diretor paulista Márcio Aurélio, que acaba de encerrar em São Paulo a temporada de As Ilusões Cômicas, de Corneille (há possibilidades de vinda da montagem ao Rio), está com outra das suas encenações em cartaz na nossa cidade. A javanesa (leia crítica acima). No próximo ano, Márcio  dirigirá Hamlet, em Natal, para o Clowns de Shakespeare, grupo do Rio Grande do Norte, que apresentou Sua Incelença, Ricardo III, no Complexo do Alemão há dois meses, na programação do festival Tempo.
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

41ª Semana da Temporada 2011


Crítica/ Julia
Imagens duplas de interioridades divididas
A diretora Christiane Jatahy estabelece, a cada nova montagem com maior integração, o diálogo entre cinema e teatro. E não somente na utilização desses meios como jogo de manipulação, que se esgota no próprio processo de inter-relação. Jatahy introduz em sua dramaturgia cênica, planos narrativos que incorporam, dramaticamente, tela e palco, com cortes que quebram sequências e expectativas, na construção de arcabouço teatral que invade limites. Em Julia, em cartaz no Espaço Sesc, o espectro dessa interpenetração alcança o original de August Strindberg, transposto da Suécia  do século XIX para o Brasil do século XXI. Não se trata de uma viagem mecânica, temporal, ou de mudança de ambientação geográfica. Da utilização dos recursos da palavra do teatro e do visual do cinema, a diretora retira do drama da moça rica que se envolve com seu empregado, perdido no gélido norte europeu, correspondência que separa jovem inconsequente de seu motorista negro, que vivem atração física numa casa de campo de uma serra qualquer próxima a alguma cidade brasileira. Evidencia-se com esta atualização de lugar e tempo, o fosso que se manifesta com a interiorização de papéis sociais adquiridos culturalmente. A fixidez desses papéis, que não permite a liberdade do compartilhamento da paixão, é explicitado pela personagem de uma empregada, que confronta o sexo do motorista com a patroa. “Se eles (os patrões brancos) não forem melhor do que nós,  nada justifica o que somos.”  É pela introjeção de funções sociais e emocionais subalternas, de um lado, e do poder que sustenta preconceitos, de outro, que se define a transcrição do texto pela adaptadora e diretora. A duplicidade de imagens, cinema e teatro, conduz o olhar do espectador, ora para a representação direta, ou fragmentos dela entrevistos pelas frestas da cenografia, ora pela sua reprodução nas telas pelas filmagem que se acompanha, simultaneamente. A cenografia com telas que correm, entreabrindo e encobrindo a  narrativa, unifica a linguagem de mão dupla. A concepção cenográfica, assinada pela diretora e Marcelo Lipiani, além da fotografia do filme de David Pacheco, a iluminação de Renato Machado e a música de Rodrigo Marçal compõem a bem azeitada parte técnica. Julia Bernat e Rodrigo dos Santos têm interpretações de ímpeto físico, projetando nos personagens crescente intensidade que se desvia do dramatismo para criar um confronto, em que o distanciamento entre atração e negação se expõe numa circularidade de imagens e atuações convergentes. Um trabalho consistente de diretora em permanente inquietação.
        

Crítica/ Palácio do Fim
Relato de guerras perdidas 
O texto da canadense Judith Thompson, em cartaz no Teatro Poeira, tem conotação, indiscutivelmente, política. Não apenas pelo tema – antes, durante e depois da ocupação americana no Iraque -, mas também pela forma como a guerra desumaniza e ressoa sobre indivíduos. São três monólogos, que recriam relatos verdadeiros de quem emprestou e avalizou com seu conhecimento científico, invasão que sabia provocada por “uma pequena mentira”. E de uma militar que comete atrocidades contra o inimigo em nome de patriotismo envenenado por ideologia oportunista, e de iraquiana, que tem a vida arrasada pela perversidade de regime ditatorial. Diante dessas três experiências, a autora toma posição de repúdio, mas o faz sob a perspectiva daqueles que as viveram e através da impotência provocada pelas jogadas impessoais no tabuleiro político. Bombardeando suas existências, destruindo suas consciências, brutalizando seus sentimentos, destrói-se a capacidade de reagir à devastação. Conciso e contundente, individualizado e abrangente, detalhista e explosivo, Palácio do Fim  expõe indignação, sem bandeiras e ideologias, com a força direta de depoimentos que revelam inescapáveis feridas de batalhas que se tornaram derrotas definitivas. O diretor José Wilker orquestrou esse doloroso recital de vozes de intensidade sufocante com densidade cênica, abandonando ênfases e tons dramáticos. O diretor leva os atores a encontrar a interioridade de suas interpretações, permitindo que cada um  exteriorize a extensão do que os atinge, com sobriedade expositiva, provocando, deste modo, a reverberação intensa dos conflitos. O cenário de Marcos Flaskman, apenas três praticáveis e um telão, se mostra com a arquitetura simples, um espaço adequado. A iluminação de Maneco Quinderé, além de essencial na ocupação das áreas de representação, demonstra a sensibilidade e beleza de sua concepção. A música de Charles Azevedo é igualmente sensível. Camila Morgado, Vera Holtz e Antonio Petrin tecem, com refino interpretativo, os movimentos que iluminam sombrias indignidades. O trio desenha atuações tecnicamente limpas e emocionalmente tocantes. Interpretações inteligentemente viscerais numa montagem vigorosamente sintonizada com o nosso mundo e com as  melhores e inesgotáveis pulsões de que é capaz o teatro.


Crítica/ Obituário Ideal
Silêncio mortal para estabelecer o diálogo
Neste inventário, mais ou menos mórbido, de nossa atualidade, o autor Rodrigo Nogueira circunda a morte como metáfora das impossibilidades daquilo que não se consegue viver. Senão, plenamente, ao menos parcialmente. Para tanto, exibe a relação de um casal, já sem condições de manipular com alguma realidade afetiva os seus mútuos sentimentos, que inicia estranha jornada  em torno da estimulação da convivência através de visitas a velórios de desconhecidos. Deste ambiente, retira o pouco que ainda os mantém como par, e os resquícios para preservar seus diálogos. Diálogos entrecortados, indeterminados, vagos, inconclusivos. Para saber-se vivo, pelo menos como casal, é necessário se nutrir dos rituais da morte, para reproduzi-los  como simulacros na vida em comum. A construção do texto, em cartaz na Arena do Espaço Sesc, segue como narrativa nervosamente dialogada e na ironia de suas observações triviais, o embotamento das emoções. O ruído quase permanente do que a televisão despeja do exterior, é outro dos elementos deste painel doméstico, que atinge pelo inesperado da morte, o obituário ideal. Ambientada na década de 50, a trama é de agora, com os personagens cansados de receber tantas informações e sem saber como filtrar essa realidade explodida de indícios. Como diz o homem: “é muito de tudo. Quero ser possível”. Instigante, esta “comédia noir, seja lá o que isto for”, como se anuncia no início do espetáculo, confirma o crescente domínio de Rodrigo Nogueira da escrita dramatúrgica e cênica (também assina a direção, em parceria com Thiare Maia). Com humor corrosivo, a direção propõe aos atores linha ácida, que tanto Rodrigo Nogueira (com  carga maior na composição), quanto Maria Maya (aderindo, decisivamente, às oscilações imprevisíveis da personagem) desempenham com integral cumplicidade.


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