Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (29/6/2016)
Crítica/ “Love
story – o musical”
Em 1970, em meio a onda de paz e amor, o filme
“Love story” percorria outra trilha amorosa. O casal que se une, apesar das
diferenças sociais, e que somente a morte separa, representa com seu romantismo
açucarado e melodrama choroso, um dos maiores sucessos da cinematografia da
década. Previsível na condução da narrativa e indutor de emoções fáceis no
desfecho, o filme cumpriu, com farta bilheteria, a sua carreira comercial. Tantos
anos depois, dupla de ingleses decide ressuscitar em formato de musical o que
parecia ter sobrevivido como registro de uma produção bem sucedida para a tela.
Não se imagina que os autores esperassem igual repercussão ou ambicionassem recriar,
no novo gênero, o que já estava acondicionado na origem. A dificuldade inicial
da adaptação está no tempo que desgastou, severamente, os apelos sentimentais, e
secou, implacavelmente, as furtivas lágrimas. Não há como embarcar nos
diálogos, agora cantados, de juras de amor eterno sem que soem desarmônicos. Muito
menos, se emocionar com a iminência da separação definitiva como ápice da
emoção. Com trilha que não foge ao convencionalismo de canções padronizadas por
fórmulas, a música acompanha a ação como elemento ilustrativo. A direção de
Tadeu Aguiar procura dar algum clima romântico aos amuos do casal, com toques
de humor que contrabalancem o final. À procura de efeitos que confirmem a espetaculosidade
dos musicais, o cenário aparenta mais do que efetivamente é. Os figurinos adquirem
mais cores do que na profusão de trocas de roupas. E a direção musical e a
orquestra de cordas ampliam a sonoridade do repertório uniforme. Do elenco, com
atuação e vozes contidas, se destacam Fábio Ventura e Kacau Gomes por força do
protagonismo dos personagens. Em duetos, entre briguinhas melosas e melancólica
separação, os intérpretes tentam reviver o que se perdeu há décadas.