Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (19/6/2016)
Crítica/ “Gilberto
Gil – aquele abraço - o musical”
O musical com roteiro e direção de Gustavo
Gasparani evita a biografia para lançar um abraço musical no repertório de
Gilberto Gil. São dezenas de canções, distribuídas em módulos que percorrem das
origens sertanejas ao período da ditadura e da Tropicália, com exaltações à paz
e ao amor, à negritude, à ecologia e à celebração rítmica de refestejar. O
tempo de carreira do cantor e compositor e a permanência de sua obra estão
contemplados na sequência vertiginosa com que “Gilberto Gil – aquele abraço - o
musical” interpreta cenicamente quase oito dezenas de canções. À fartura de
títulos corresponde a vibração coreográfica, em que vozes e instrumentos agitam
o palco, emoldurado por contínuas projeções. Tanta abrangência, demonstra o
desejo de relacionar a métrica de vida com a versificação de períodos sociais.
É dessa conjugação que surge a dramaturgia musicada, a narrativa sonora de um
repertório que se revela em letras que contam, não uma carreira, mas uma obra. Gasparani
foi generoso na apresentação das canções, exibindo, em incansável sucessão, a
variedade cadenciada de uma criação fértil. Tanto o roteiro quanto a direção, se
apoiam no volume e na exuberância, como elementos físicos, que melhor
interpretam letras e músicas. O elenco,
formando por atores, cantores, instrumentistas e performers, se distribui por todas as funções, num conjunto
onipresente de gestos e vozes que se movimenta com notável fôlego. A direção de
movimento e coreografia de Renato
Vieira, marcantes nos primeiros quadros, tendem a se repetir nos demais. A
cenografia de Helio Eichbauer projeta
imagens bem escolhidas nas telas geométricas. O figurino de Marcelo Olinto, que
registra cada fase musical, e a iluminação festiva de Paulo Cesar Medeiros,
compõem a montagem com a consistente direção musical e arranjos de Nando
Duarte. O grupo de intérpretes – Alan Rocha, Cristiano Gualda, Gabriel Manite,
Daniel Carneiro, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Rodrigo Lima e Pedro Lima – revela
harmoniosa integração à proposta multiplicada e excessiva da encenação.