quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Temporada 2014

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (20/8/2014)

Crítica/ A Moça da Cidade
Ilusões nas ondas do rádio e nas imagens do cinema

De autoria do sul mato-grossense Anderson Boch, vencedor regional do Prêmio Funarte de Dramaturgia, em 2001, “A moça da cidade” revela por sua ambientação nostálgica e toque melodramático as restritas possibilidades de ganhar o palco com sopro mais renovado. A trama, que situa na época do sucesso das novelas de rádio as lembranças daquela que sai do interior para cursar o ginasial no Rio, estabelece paralelismo entre o que descobre na cidade e os capítulos do seriado. Ambrosina -  a escolha do nome já denota em que tempo vive a personagem – se hospeda em pensão do Catete, acolhida por zelosa proprietária e apaixonado hóspede. Aos 80 anos envia sua história pessoal ao programa “Sua vida em novela”, que é levado ao ar, com intervalos para os jingles dos anunciantes, em que relata a paixão por um certo homem, por cuja figura se encanta. Persegue este encantamento, sem saber que ele está bem próximo. Os personagens são os locutores de seu relato, propagado com emoção impostada de dramaticidade melosa que imaginam provocar em ingênuos ouvintes. O diretor Rodrigo Pandolfo procura acelerar o ritmo narrativo e acentuar o humor, amortizando a pieguice e banalidade do texto, difíceis de evitar inteiramente. Ao dinamizar as cenas com recursos de sonoplastia e intensa movimentação dos atores nos duplos papéis, a direção insufla alguma vitalidade e vibração aos tipos que não têm fôlego para encontrar a própria respiração. A introdução de trechos de filmes, com vozes dubladas, e a linha de atuação do elenco, ainda que não tragam muita inventividade, apontam qualidades do ator Rodrigo Pandolfo na sua estreia como diretor. Na equipe técnica se destacam Victor Maia na direção de movimentos e coreografia e Ana Achcar na preparação corporal, Tomás Ribas na eficiente iluminação e Miguel Pinto Guimarães na simplificada cenografia. Os atores buscam efeitos para tipificar os esboços de personagens, encontrando parcialmente soluções para a inconsistência de seus desenhos. Gabriel Delfino Marques recorre à língua presa. Lu Camy é a tradicional moça vinda de longe para a cidade grande. Dida Camero se apoia no sotaque. E com esses truques e bom humor, o trio tem leveza para sustentar a montagem sem muitas pretensões e um tanto ingênua, mas que pode agradar a alguns, exatamente, pela aposta no descompromisso.