Evita em tentativa de versão mais documental |
Crítica/ Evita
Mais um êxito da “máquina” de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber, Evita circula pelos palcos mundiais desde 1976, e pode ser considerado um “clássico” na categoria. A música de Lloyd Webber, bem ao estilo do compositor, e as letras de Rice, fundamentais para contar a história da atriz e primeira-dama argentina Eva Perón sob a forma operística, se sustentam, mesmo depois de tanto tempo e da versão cinematográfica com Madonna. Rever Evita não deixa de provocar a sensação de deja vu, menos pelo natural desgaste que os musicais sofrem em sucessivas montagens e por transposições para as telas, mais pelo repetidas encenações que somente reproduzem a versão original. A atual, no Teatro Alfa na capital paulista, se desvia deste rumo, insuflando algum vigor ao peso dos anos e à obrigação da cópia. Não que haja grandes novidades nesta montagem de Jorge Takla, mas registre-se o empenho em se libertar da fôrma e procurar caminho próprio. A começar pela cenografia, que utiliza paredes brancas, com pequenas portas, que servem de “telas” para projeção de imagens de época. Sem outro impacto visual, a não ser o da exibição, o cenário condiciona o caráter documental que o musical assume nesta transcrição nacional. As imagens são ilustrativas da capacidade de mobilização que Evita conseguiu junto a uma nação, mostrando-a desde seus tempos de atriz medíocre até as manifestações populares em seu funeral. Desta forma, perde-se um tanto da féerie que cerca a maioria dos musicais, apostando-se mais na ópera, mantendo-se o glamour apenas nos figurinos. Não foi por acaso que se ouviram de espectadoras, à saída, comentários sobre a falta de charme de Evita. É o preço que se paga para dar um cunho menos servil ao gênero e às franquias. O público (ao que parece, majoritariamente, maduro) tem reagido com aplausos discretos às árias e duetos mais populares (Não chores por mim, Argentina não levanta a platéia). A versão de Cláudio Botelho é fluente, mas não tão brilhante como esse tradutor de letras de musicais tem nos acostumando. A coreografia de Tânia Nardini é burocrática, já a direção musical de Vânia Pajares projeta com habilidade o cancionismo das músicas de Weber. O elenco corresponde às exigências técnicas, demonstrando ser composto por melhores cantores do que atores.
Crítica/ Mamma Mia
Cópia fiel de modelo vendável |
Apesar de ser um musical de segunda linha, Mamma Mia é indiscutível sucesso de público no circuito internacional do gênero. Se o West End londrino e a Broadway ratificaram esse roteiro baseado em filme da década de 60 com Gina Lollobrigida, com música do grupo sueco ABBA, e que teve sua franquia vendida com facilidade para o resto do ano, logo depois de sua estréia em 1999, não há muito que considerar, agora que está em cartaz no Teatro Abril, em São Paulo. O filme recente baseado no musical, com a múltipla Merryl Streep colaborou para que Mamma Mia se popularizasse ainda mais, o que não atenua a constatação de suas modestas qualidades. A começar pela historieta da mocinha que convida três ex-namorados de sua mãe para seu casamento na ilha grega onde vivem, para que descubra qual deles é o seu verdadeiro pai. Embalada pela trilha dos suecos, com pelo menos dois hits (há quem goste), e pela descoberta do que se sabe de início, a trama inclui outras personagens, como a dupla caricata de amigas da mãe, e os amiguinhos da noiva. Pueril, melosamente romântica, chavão narrativo, canções inexpressivas, excessivamente longa, Mamma Mia é um produto com ingredientes “vendáveis” e pouca pretensão criativa. A versão nacional sofre com o agravante de que é cópia, por contrato, da montagem original. O que se assiste é um exercício mimético de reproduzir o já exaustivamente testado em outras praças. Canta-se convencionalmente, tal qual se cantava há 10 anos em Londres. Dança-se em saltitantes passos, como o elenco da estréia em Nova Iorque. Veste-se com figurinos cafonas dos anos 70, como desenhou o figurinista dos primeiros croquis. Por quase três horas, desfila elenco brasileiro que cumpre aquilo que o “caderno de encargos” exige. O público parece gostar. Aplaude com entusiasmo no final, mexe o corpo ao som-discoteca, sentindo-se recompensado pelo preço pago pelo ingresso. A propósito, Mamma Mia está em cartaz desde novembro do ano passado.
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