Curitiba
Mineiros viajam mal à Rússia
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Tchecov não aponta rumos para o Galpão |
Pela primeira vez na sua história de 29 anos, o grupo Galpão estréia um espetáculo fora de sua cidade de fundação: Belo Horizonte. Curitiba e seu festival foram os palcos escolhidos para o início da trajetória de Tio Vânia, o texto do russo Anton Tchecov que o coletivo mineiro encena com direção de Yara de Novaes. O Galpão, que procura alternar repertório e diretores, estabelece neste momento de sua maturidade trintona distância maior em relação à sua origem de teatro de rua -.Till, a montagem anterior, foi uma retomada bem sucedida desta linha - e da representação de universos dramáticos que se ajustam a estilo de atuação que desenvolveram com autores tão díspares quanto Shakespeare e Ítalo Calvino. O Galpão adquiriu inquestionável identidade teatral com a circulação de influências trazidas por diversos, e também díspares, encenadores-convidados. Essa identidade nasceu da própria gestação interna do grupo, construída mineira e silenciosamente, com a absorção das múltiplas intervenções dos diretores vindos de além montanhas. O tempo e a inexorabilidade de sua passagem, matérias tão sensíveis a Tchecov, autor não por acaso escolhido pela Galpão para marcar evidente transição, assalta o grupo no instante em que parece tentar uma viragem, mas que ecoa apenas como perplexidade. A montagem de Yara de Novaes evidencia a inadequação à “monotonia cinza” tchecoviana, à qual atribui tom próximo da farsa, deslocada da exploração do humor irônico ou mesmo da comédia agridoce. É bom ressaltar que Tchecov se referia a seu teatro – e não apenas a seus textos curtos – como comédias. Amargas e niilistas, sem dúvida, mas comédias. Recentemente, com direção do argentino Daniel Veronese, esse mesmo Tio Vânia foi traduzido como “comédia” sem qualquer perda do impacto emocional do texto. Yara patina em indefinição estilística, incapaz de traçar rumo através do qual o elenco encontre expressão interpretativa. A escalação deixa claro que os atores ainda estão por demais referenciados à “exuberância” expositiva e à poética popular do repertório dos quase trinta anos. Perdidos nos caminhos vagos da direção, pouco sensibilizados para o universo do qual se aproximam com hesitação, com timidez interpretativa e incompatibilidade física com os personagens, os atores de Tio Vânia, confirmam que esta montagem se reduziu a num híbrido na carreira do Galpão, mas que pode ser avaliada como um interregno do grupo para repensar, efetivamente, o tempo: de sua história, de sua idade e dos meios para manter a sua vitalidade.