sexta-feira, 8 de abril de 2011

Festivais

Curitiba

Apenas uma Leitura Dramatizada

Um Édipo muito dramático  

O planejamento da grade de programação de um festival é difícil e complexo, dependendo de variáveis nem sempre, exclusivamente, teatrais. Nesta edição do Festival de Curitiba, a impressão é a de que tais variáveis pesaram bem mais do que questões cênicas. Um exemplo: a inclusão de Édipo entre os 31 espetáculos da mostra 2011. A direção geral e adaptação da tragédia de Sófocles por Elias Andreato são reverentes e respeitosas em relação à essencialidade da narrativa, a tal ponto que a compactou no formato de leitura dramatizada. Com cadeiras dispostas em semicírculo, com os atores destacando momentos-chave com sons de acordeões, e as palavras projetadas com frontalidade para a platéia., esse tipo de arranjo se apresenta como espetáculo. E pouco mais se acrescenta para encorpar a cena, que na ausência de elementos que fundamentem montagem menos “improvisada”, resta a expectativa da interpretação dos atores. Igualmente neste aspecto, Édipo se ressente de trabalho mais empenhado. A ênfase no dramático, que reduz a poética áspera do trágico a mero ascetismo formal, deixa pouco espaço a qualquer tentativa de se aproximar da envergadura do texto. Os atores demonstram mais disciplina do que integração com o universo trágico, somente exibindo capacidade de levar ao público, com parcimônia, esta fascinante e milenar narrativa. A platéia do festival respondeu, com entusiasmo, no final, aplaudindo bem mais a atração que esta história imemorial sempre provoca do que à “encenação”. Talvez tenha sido esta a estratégia  dos organizadores da mostra: apresentar uma boa história que prescinda de montagem.