quarta-feira, 6 de abril de 2011

Festivais

Curitiba

Felipe Hirsch faz pré-estréia na mostra


Ouvinte incansável da trilha sonora de sua vida

Nesta edição do Festival de Curitiba, em que 19 dos 31 espetáculos selecionados são oriundos do Rio, Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, encenação do carioca Felipe Hirsch, radicado na capital paranaense desde a infância, não deixa de estabelecer ligação entre as duas cidades. Atualmente publicando crônicas no Globo, Hirsch reproduz, de certo modo, o espírito do que escreve semanalmente no jornal nesta montagem que fez sua pré-estréia no Festival de Curitiba. Se acrescentarmos a montagem de A Vida E Cheia de Som e Fúria, texto de Nick Hornby e um dos maiores êxitos da Sutil Companhia de Teatro, liderada por Hirsch, poderemos compreender todo o excesso e a “viagem pessoal” que Trilhas... representa para seu autor e diretor. São três horas e meia de exposição do colecionador de fitas cassetes que acompanham musicalmente sua vida. As fitas são a linguagem adotada para substituir, por sonoridades dos anos 80, as palavras que a timidez e os sentimentos embutidos não permitem expressar. Numa listagem interminável de nomes e canções, acontece em paralelo seu encontro com uma garota, com quem casa e que, inesperadamente, morre. Há dois planos narrativos – o das trilhas sonoras, impositivo, farto, desmedido, e o da “trama”, acessório, secundário, coadjuvante -  que têm tratamento cênico  excludente. Enquanto um se repete como lista de citações, com direito a fragmentos das letras e introdução de pequeno trecho das músicas, o outro, “dramatiza” a relação do casal como adendo da compilação afetiva-musical. E neste quase monólogo, o personagem percorre o arquivo de fitas, de frustrações e de perda com imperturbável indiferença. Como um recitativo, tão próprio a acúmulos e colecionismos, o personagem existe como narrador assexuado da listagem de sua vida. Receptador de informações que compõem a sua formação – a cultura pop da década de 80 – se auto-alimenta da sua fixação por transferir para contraídas vivências emocionais as referências abstratas da música. Nostálgico (“Era um tempo fantástico, mas ele acabou, porque é isso que o tempo faz”.), e banal (“Como tudo  fabricado nos anos 70, é bege.”), essas observacoes ocupam o espaço de atalho verbal para a dramaturgia do constante acionar do gravador. Nesta longa jornada para sacar velhas cassetes do esquecimento de caixas poeirentas, o espectador se transforma em olheiro de uma trip musical. Abatido e desinteressado da evolução ou do imobilismo da trama, resta ao público assistir, resignado, ao desfilar monótono da longa trilha sonora. O cenário de Daniela Thomas e Valdy Lopes parece um arranjo improvisado. Sem muita justificativa as participaçoes das atrizes Maureen Miranda e Luiza Mariani. Natalia Lage e Guilherme Weber (presença dominante no palco) contracenam como satélites que gravitam em torno de si mesmos, como se fossem meros ouvintes de suas trilhas preferidas. 


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