terça-feira, 12 de abril de 2011

15ª Semana da Temporada 2011

Crítica/ 45 Minutos

Falta de luz com tempo marcado
Marcelo Pedreira, autor de 45 Minutos, em cena no Teatro do Sesi, participou da mostra Nova Dramaturgia Carioca, há oito anos, com o texto Dilúvio em Tempos de Seca, que logo depois, foi encenada por Aderbal Freire-Filho, com Giula Gam e Wagner Moura, no hoje fechado Teatro Dulcina. Ano passado uma dos suas peças, A Inevitável História de Letícia Diniz esteve em cartaz, e agora traz um monólogo em que o teatro é persongem central. Um ator desempregado, que vive nos fundos do teatro, é instado por circunstância não muito clara a entrar em cena para ocupar o palco durante os 45 minutos anunciados pelo título. Sem nada para dizer, e tentanto cumprir o tempo que lhe é exigido, desfia palavras como  se as usasse com a mesma arbitrariedade da obrigação de inventá-las. Enredado na sua armadilha verbal, o ator verdadeiro que está diante da platéia real reproduz a mesma sensação que se imagina provoca no público fictício. O tédio que se estabelece talvez seja consequência do precário julgamento do autor na construção de sua metáfora. Com conceitos vagos e ênfases em imagens verbais de vaga inspiração poética, 45 Minutos não confirma as possibilidades da  dramaturgia de Marcelo Pedreira. Roberto Alvim acentua a ambientação tediosa com a sua escura montagem, apesar dos neons coloridos e dos relógios digitais. Caco Ciocler se enquadra nesta caixa preta como um foco que procura imprimir alguma luminosidade aos traços apagados do personagem.
  

Crítica/ Mulheres Alteradas

A condição feminina fora do peso
O humor no teatro parece, ultimamente, tratar a mulher com o mais anacrônico machismo. Fixá-la como objeto de preconceitos, limitar seu universo ao tamanho de suas bolsas, e transformar os homens em única presa na mira de seus neurônios, pode ser considerado, no mínimo, deselegante. Mas quando são as próprias mulheres que se tratam deste modo, mantendo, elas mesmas, os preconceitos, a justificativa de que o humor, por si mesmo, é uma forma de autocrítica, não se sustenta. Muitas vezes, é somente espelho, como acontece com a adaptação teatral das charges da argentina Maitena, em cartaz no Teatro Clara Nunes. Com texto de Andrea Maltarolli, Mulheres Alteradas se inspira nas tiras de Maitena para construir roteiro em que mulheres expõem as agruras, superficiais e banais, da condição feminina. A transposição para o palco seguiu a rota do papel, com iguais observações ocas. Quem ainda quer saber dos problemas de peso que assaltam as mulheres? E quem se importa com as estratégias de fisgar um homem? Qual o interesse pelo “fascínio” das mulheres por shopping centers? E saber dos recursos comésticos para aplacar o envelhecimento? Nesta listagem, só faltou o “mistério” do conteúdo das bolsas e o que faz com que saiam em duplas ao toilete. No mais, todas as obviedades que mantém inalterado o lugar da mulher, apenas deslocado da cozinha para consultórios de cirurgias plásticas ou catedrais de consumo. A montagem de Eduardo Figueiredo faz todas as gracinhas fáceis com esse mundinho. Piadas rápidas, cenas curtas, chiliques variados, o espetáculo se realiza com tais recursos, reiterarando no espectador imagem que se pensava já estar desconstruída. As atrizes – Luiza Thomé, Mel Lisboa (a única que transmite alguma visão crítica em sua interpretação) e Adriane Galisteu – e o ator – Daniel Del Sarto – são figurantes dos desenhos originais.             


Estante Teatral

As peças para crianças da fundadora de O Tablado foram organizados por Luiz Raul Machado e publicadas pela Editora Nova Aguilar. As 29 peças – além da “clássica” Pluft, O Fantasminha, o livro traz quarto inéditas – podem ser lidas em Maria Clara Machado – Teatro Infantil Completo, com a biografia de Clara na introdução e fortuna crítica sobre sua obra. 

Em tradução de Barbara Heliodora, A Arte do Drama, do inglês Ronald Peacock, Editora É Realizações (320 páginas) analisa a interligação entre a linguagem poética e a dramaturgia. A questão dramática é tratada como conceito cênico e na sua projeção como discurso poético.  

O cenógrafo Marcos Flaksman registra sua carreira de quase 50 anos em Universos Paralelos, editado na Coleção Aplauso e assinado por Wagner de Assis. Desde 1964, quando desenhou cenário para A Tempestade, direção de Tite de Lemos, até o Prêmio APTR 2009 por Traição, de Harold Pinter, o trabalho de Flaksman no teatro está extensivamente analisado, além de sua atuação como diretor de arte no cinema.

 Na trilha do sucesso dos musicais, importados e nacionais, Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche lançam pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Em Busca de Um Teatro Musical Brasileiro, reunindo os textos escritos em dupla ou individualmente, e todos encenados no Rio. Oui, Oui…A França É Aqui!, A Revista do Ano, Otelo da Mangueira, Opereta Carioca e É Samba na Veia, É Candeia compõem o volume de 544 páginas, ao preço de R$ 15,00.

    
O que há (de melhor) para ver

A cultura popular sem folclore
As centenárias – Agora em um palco bem mais amplo do que o da estréia há três anos no Teatro Poeira, a dupla de carpideiras, criada por Newton Moreno, vive o embate com a morte na tentativa de driblá-la. As duas se utilizam de artifícios para tentar, com astúcia e  esperteza, se desviarem da inevitabilidade da ameaça onipresente, percorrendo rituais do fantástico sertanejo. Marieta Severo e Andréa Beltrão mergulham no universo nordestino como as carpideiras com movimentação corporal e detalhamento vocal, que se estende da juventude à senilidade. Interpretações inteligentes e comunicativas em encenação que emoldura a cultura popular sem folclorizações. Teatro João Caetano.
  
Hair – A encenação de Möeller e Botelho para o musical dos anos 60 de Ragni, Rado e Macdermont mantém a estrutura original, mas extrai do que se poderia considerar “de época”, a força dramática e a carga espetacular que o roteiro conserva de raiz. A perfeita adequação entre os tipos e personagens se completa pelo preparo técnico do elenco, prevalecendo a qualidade vocal, coreográfica e a unidade interpretativa de atores preparados para enfrentar a complexidade do que lhes é exigido. Oi Casa Grande.

R&J  de Shakespeare – Juventude Interrompida – O texto bem urdido, que transfere a representação da tragédia de Romeu e Julieta para grupo de alunos de colégio britânico, ganha ritmo intenso pela habilidade do diretor João Fonseca em estabelecer alta voltagem cênica, em que comédia e drama se equilibram. Outro trunfo é o quarteto de atores, que mantém a platéia presa às suas atuações, em especial Rodrigo Pandolfo, um jovem já com domínio de seus meios interpretativos. Teatro Carlos Gomes.


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